Homilia

O amor de Deus em nossas vocações
Homilia: Pe. Oberdan Santana da Silva - 3º Domingo do Tempo Comum (Ano A) – 15.01.23 – missa às 10h
A liturgia desse domingo convida a uma reflexão sobre o tema da vocação. Na primeira leitura [Is 49, 3.5-6] temos a vocação do servo do Senhor, na segunda leitura [1Cor 1,1-3], a vocação do apóstolo São Paulo, e, no evangelho [Jo 1, 29-34], a missão de Jesus. A primeira coisa que devemos entender é que nós todos somos vocacionados, pois somos chamados de diversas formas para alguma missão. O Senhor nos escolhe, nos chama e envia a todos nós.
Quando falamos em vocação, imediatamente pensamos em algumas pessoas em particular, padres, freiras, monges, sim, esses foram chamados por Deus. São belas vocações e muito importantes no coração da igreja, mas, não são as únicas! Ser pai, ser mãe, ter uma família, cuidar dos filhos também é uma vocação, é um chamado que vem de Deus. Ser um agente de pastoral bem engajado na comunidade, colocando os dons a serviço de Deus e dos irmãos é uma vocação, exercer uma profissão com amor, pensando não somente na remuneração financeira, mas também em como ajudar as pessoas, em como fazer a diferença, isso também é uma vocação. O que caracteriza a vocação é fazer a vontade de Deus, e Deus sempre nos pede que façamos as coisas não somente em nosso benefício, mas também em benefício dos outros, daqueles a quem somos enviados. Vocação tem tudo a ver com missão e serviço.
Na primeira leitura, o profeta Isaías apresenta o servo do Senhor, e nesse servo podemos enxergar os elementos importantes da vocação. Na sua declaração, em primeiro lugar, o servo manifesta a consciência do chamado divino, ele reconhece e entende que foi preparado por Deus desde o nascimento para uma grande missão. Isso me faz lembrar de uma coisa, todas as vezes que vou celebrar um casamento eu pergunto aos noivos como começou a história de amor deles. Eles ficam um pouco desconcertados, se olham, e acho que ficam tentando lembrar de quando se conheceram, de quando trocaram olhares pela primeira vez, e imediatamente eu digo: “a história de amor de vocês começou muito antes do que vocês imaginam, começou no pensamento e no coração de Deus que sempre teve um plano para vocês dois, que os trouxe a esse mundo para se unirem e serem felizes juntos”.
A vocação, antes de ser uma escolha da nossa parte, é uma escolha da parte de Deus. Ele nos escolheu primeiro, a nossa vida não é fruto do acaso. Se estamos aqui, é porque o Senhor nos chamou à vida e nos chamou a uma missão, a uma vocação, e devemos descobrir qual é para sermos pessoas felizes, para sermos pessoas realizadas. Esse discernimento sobre a vocação só é possível na proximidade, na comunhão, na intimidade com Deus. Toda vocação tem sua origem em Deus e é alimentada por Ele. Se Ele nos chama a algo e nos confia uma missão, então Ele mesmo nos dá a força para cumprirmos essa missão.
Se queremos viver bem a nossa vocação, busquemos a intimidade com o Senhor. É caminhando com Deus, escutando Sua palavra, abrindo o coração aos Seus apelos que, pouco a pouco, as coisas vão ficando mais claras e vamos entendendo qual é a nossa missão aqui. Vejam que o servo, escutando a palavra do Senhor, entendeu qual era a sua missão, a sua vocação: ele deveria ser luz das nações e levar a salvação de Deus até os confins da Terra. Eu diria que está aqui um modelo de vocação pois todos nós naquilo que fazemos somos chamados a espalhar a luz de Deus.
Um padre bem realizado na sua vocação que entendeu a que foi chamado torna-se uma luz para todos os fiéis. Um pai, uma mãe que entendem bem sua vocação são luzes para seus filhos. Podemos pensar em um professor, em um médico, se entenderam bem sua vocação, sua missão, tornam-se luz para os alunos, para os pacientes, para as pessoas a quem vão ajudar. Assim, conseguimos perceber com muita facilidade quando uma pessoa entendeu sua vocação. Às vezes, vamos ao médico e ele nem nos olha direito, escreve qualquer coisa de cabeça baixa e nos manda sair logo da sala, mas há médicos que são diferentes, que escutam, que aconselham, e você percebe que aquele médico está mesmo preocupado com a sua situação. Esse médico não está simplesmente exercendo uma profissão, ele entendeu sua vocação, entendeu a que foi chamado por Deus.
Então, esse texto que nos é colocado no início do ano litúrgico, é para que pensemos se estamos vivendo bem nossa vocação. Nós entendemos a que Deus nos chama? E, se entendemos, estamos cumprindo bem essa missão? Podemos dizer que hoje somos uma luz para aquelas pessoas a quem somos enviados? Fazendo o que eu faço aqui na comunidade, eu espalho a luz de Deus? Lá na minha família, eu espalho a luz de Deus? Lá no meu trabalho, eu espalho a luz de Deus? Essa é a nossa vocação: sermos luz. Iluminados por Deus, então, nos tornamos uma luz para os nossos irmãos.
Na segunda leitura, temos o testemunho vocacional de São Paulo que reconhece como o servo da primeira leitura que foi chamado por Deus. Aliás, é assim que ele se apresenta à comunidade de Coríntios: “Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus”. São Paulo tem consciência da sua vocação, foi chamado a ser apóstolo e a pregar a boa nova a todos os irmãos, especificamente para isso. Cada um de nós também tem o chamado particular. Se você pega um peixe e coloca em uma árvore, esse peixe consegue subir? Claro que não, pois não é a vocação, ele não foi feito para isso, por mais que queira, não vai conseguir.
Cada um de nós tem que descobrir qual a nossa vocação particular. Na comunidade, há várias pastorais, vários movimentos, coisa para fazer não falta, mas você tem que descobrir a que Deus te chama. Olhe para os dons que você tem e você vai conseguir enxergar onde se encaixa, onde vai ser útil, onde vai fazer uma coisa boa. Então, a vocação tem esse lado particular, cada um é chamado a uma coisa e, naquilo que faz, é importante e colabora com a obra de Deus.
Porém, São Paulo fala também de uma vocação comum depois de se apresentar como apostolo de Jesus Cristo. Ele diz aos coríntios que todos na igreja são chamados à santidade, e está aí a nossa vocação comum. Nessa família em que nos reunimos em nome de Cristo, que é a igreja, cada um de nós é chamado à santidade. Santidade não significa ser perfeito, essa santidade como perfeição vamos alcançar um dia, hoje estamos na caminhada. Ser santo hoje significa fazer a opção pelo evangelho, pela vontade de Deus. O santo podemos dizer que é o separado no sentido de que escolhe seguir o caminho de Deus e se separa de tudo aquilo que não é conforme a vontade Dele. Por exemplo, há uma coisa que certamente já escutamos de nossas mães quando éramos pequenos: “você não é todo mundo”. O filho vem com o discurso preparado “olha, todo mundo vai para tal lugar fazer tal coisa, posso também?” e a mãe diz “não, porque você não é todo mundo”.
São Paulo está dizendo isso aos coríntios: “vocês não são todo mundo, vocês são chamados à santidade, vocês foram santificados por Cristo, agora é uma vida nova”. Isso São Paulo diz a nós também hoje, somos chamados à santidade e não poderemos ser verdadeiramente santos, não poderemos ser cristãos verdadeiramente fazendo o que todo mundo faz, sendo desonestos, sendo malvados, sendo egoístas como todo mundo. Deus não nos chamou a isso, Ele nos chamou à santidade. Deus nos chamou a viver e a caminhar na Sua luz.
Estamos no início do ano e a palavra nos faz esse apelo: diante de tudo aquilo que temos a fazer, o mais importante é que deixemo-nos guiar pela luz do Senhor que nos chama à santidade. Deixemos de lado as trevas, vivamos bem a nossa vocação. Por meio de nossas vidas, demos glória ao Senhor que nos chamou à vida e nos cumulou de tantos dons.
No evangelho, para encerrar, temos uma missão muito importante que é a missão de Jesus Cristo. São João Batista dá testemunho de Jesus dizendo: “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Essas palavras são conhecidas, todas as vezes que nós participamos da missa escutamos essas palavras, o padre as diz enquanto apresenta Jesus na eucaristia. E por que falamos de Jesus sempre como cordeiro? A imagem do cordeiro diz bem qual a missão de Jesus: o cordeiro é puro, é manso, e assim é o senhor. Jesus é aquele que, sendo inocente, assume o nosso pecado e elimina o pecado na cruz na força do seu amor. O cordeiro manso que não foge do sacrifício, mas é verdadeiramente forte porque tira o pecado do mundo, porque nos ama até o fim.
Essa é a missão de Jesus: vir nos resgatar e tirar do nosso meio o que nos impede de ter uma vida plena. João Batista continua no seu testemunho “eu vi o Espírito descer como uma pomba do céu e permanecer sobre ele, e, depois, este é quem batiza com o Espírito Santo”. O Espírito vem sobre Jesus e permanece porque Jesus é o filho de Deus, é aquele que tem a plenitude do Espírito, a plenitude do amor, e ele nos oferece esse Espírito
para termos uma vida nova e vivermos a nossa vocação de santidade, de filhos e filhas de Deus.
Esta vida nova é possível porque o Espírito de Jesus Cristo nos fecunda! Sem o Espírito de Deus, nada poderíamos fazer, a santidade seria impossível, não poderíamos viver a nossa vocação. Então, vejam bem, Jesus tira o pecado e dá o Espírito, a vida nova, abre um novo caminho na perspectiva da eternidade, da vida plena. Essa é a missão de Jesus que se sacrifica e se oferece para que tenhamos vida.
Que nós possamos então, diante de tudo aquilo que vamos fazer durante o ano, não perder isso de vista. Caminhemos com Jesus, peçamos constantemente a força do seu Espírito. Se caminharmos unidos a Ele, poderemos viver a nossa vocação, enfrentar o mal, e fazer a luz de Deus brilhar em nossa vida, em nossa vocação.
Que o Espírito dado por Jesus Cristo nos ilumine e nos acompanhe a cada dia desse novo ano.

Ser pequeno, acolher e perdoar
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Natal do Senhor - Missa do Dia (Ano A) – 25.12.22 – missa às 10h
Vocês viram que eu pulei uns pedaços do evangelho de hoje [Jo 1, 1-18], que eram os que falavam de João Batista. O autor do evangelho tinha esse hino, que é um hino cristológico de Jesus, do jeito que eu li, mas também tinha conflitos com as comunidades de João Batista. Até por volta dos anos 120, algumas pessoas ainda acreditavam que João Batista era o messias, por isso o último evangelista, o que terminou o evangelho, colocou essas frases sobre João Batista para testemunhar que João Batista próprio disse que era menor que Jesus. Jesus é o messias, não João Batista.
Depois do ano 120, os discípulos de João Batista ou se tornaram cristãos ou caíram na heresia. Na mesma comunidade de São João, a comunidade de onde saiu esse evangelho, uma parte se manteve unida à comunidade de Jerusalém cristã, e a outra parte caiu toda na heresia que conhecemos como gnosticismo, é um negócio complicado. Mas não é sobre esse fato do evangelho de João que temos que falar hoje!
Vejam que linda essa primeira frase da primeira leitura [Is 52, 7-10]: “como são belos, andando sobre os montes, os pés daquela que anuncia e prega a paz, que anuncia o bem, prega a salvação e diz a Sião ‘reina o teu Deus’”. A leitura não diz a mensageira, mas o texto original diz. Esse texto nos manda imediatamente para uma imagem de uma mensageira que caminha sobre as colinas em direção a Sião, que é Jerusalém, e diz “reina o teu Deus”. É impossível não pensar em Maria que, logo depois da anunciação, vai depressa sobre as colinas da Galileia, depois da Judeia, até chegar na casa de Isabel, perto de Jerusalém, carregando Deus no seu ventre.
“Reina o teu Deus”. O povo de Israel esperava o messias, e quando eles pensavam em messias, pensavam numa figura gloriosa, poderosa, mas vemos que a profecia se cumpre do modo mais comum que possa existir. Uma moça que vai junto de uma caravana, já que não se viajava sozinho naquele tempo de jeito nenhum por ser um perigo, como tantas outras moças, como infinitas caravanas que desciam da galileia até Jerusalém e depois seguiam para o Egito. Milhares de caravanas passaram naquelas colinas, naquelas estradas, e, por ali, passou a mãe de Deus cumprindo essa profecia “reina o teu Deus”.
Assim como a entrada de Jesus em Jerusalém, no monte das Oliveiras, que vemos no Domingo de Ramos, muitas festas populares aconteciam em Jerusalém, e muita gente entrou pelas portas da cidade através dessas festas populares. Jesus também entrou em Jerusalém no meio de uma festa popular, e o que se esperava? Se esperava um rei triunfante, um messias que vai chegar em Jerusalém e mudar tudo, fazer tudo esplendoroso. Entrou ali pelo caminho comum do povo, do jeito que tantas outras pessoas entraram porque Deus passa pelos nossos caminhos humanos e não pelas nossas ideias de Deus. Deus se fez carne.
Vocês se lembram qual livro da Bíblia que começa exatamente com essas palavras: “no princípio”? Gênesis, isso mesmo, que quer dizer justamente “no princípio”. São João olha para Jesus ressuscitado e nos diz “o princípio é ele, ele está antes da criação do mundo, para ele Deus criou tudo, ele e o Pai são uma coisa só porque um olha para o rosto do outro”. Só Deus pode fazer isso! Depois que Moisés pediu para Deus “mostra-me o teu rosto”, Ele disse “não, nenhum ser vivente pode olhar para o meu rosto e continuar vivo, esconde-te na caverna, eu porei a minha mão ali e passarei diante de ti com toda a minha glória, e você me verá pelas costas porque ninguém pode ver o meu rosto e continuar vivo”. O único que pode ver o rosto do Pai é Jesus, o verbo eterno, só ele. Por isso, é Jesus quem nos revela Deus, todo o resto que a nossa filosofia, conhecimentos etc. falam de Deus é pura invenção humana.
Nós colocamos um espelho diante de nós, um espelho gigantesco. Já viram aqueles espelhos que são meio curvos, e você se vê pequenininho diante dele, mas nele você fica gigante? É isso que fazemos, nos colocamos diante do nosso espelho e construímos um Deus à nossa imagem e semelhança. A mitologia mais famosa que conhecemos, ao menos aqui no Ocidente, é a mitologia grega. Mas, se observarmos, os deuses gregos não são nada mais que as nossas paixões, nossos ódios, nossas invejas, nossa preguiça, nossos medos, todos agigantados, e nós adoramos isso como Deus, mas não é Deus.
Deus é só aquele que Jesus revela e, cuidado, às vezes até os padres pregam um Deus que não é o de Jesus. Quando um padre fica colocando medo no povo, dizendo que vai tudo para o inferno se não fizer isso, se não fizer aquilo, está pregando um Deus que não é de Jesus, entenderam? O Deus de Jesus, o Deus verdadeiro, é aquele que Jesus revelou com as suas palavras e as suas ações, por isso São João vai falar que ele, que olha para o rosto do Pai, se esvazia de si mesmo e se torna um de nós no seio da Virgem Maria.
É necessária uma mãe que o nutra no ventre, que lhe dê de mamar, que limpe, e precisa de um pai que dê amparo, proteção, especialmente num tempo em que uma mulher sozinha não valia nada. Sem um marido ao lado, a mulher não valia nada! Fazer essa criança crescer, educar, transmitir para ela a cultura, a religião da época, o judaísmo vivido ali, na Galileia, nas montanhas, uma religião dura, fechada. Ensinar a Jesus um trabalho. Como ele aprendeu a ser carpinteiro? Trabalhando com José na oficina dele, vendo José cortar, vendo José botar o tijolo, aprendeu dele. Precisou de uma mãe que tivesse todos os cuidados domésticos porque, naquele tempo, mulher não trabalhava fora, apenas em casa, e era pesado o trabalho da mulher em casa. Basta pensar nas horas e horas que a mulher precisava ficar no moinho, moendo trigo. Já pensaram o que é isso? Quem ainda tinha um pouco de dinheiro podia ter um jumento que rodasse a roda, mas, se não tinha, era no braço mesmo, e quem empurrava era a mulher. Era complicado, o trabalho era pesado, fazer os fios de lã, tecer, essas coisas não eram fáceis, a mulher se levantava antes de todo mundo e ia dormir depois de todo mundo. Essas coisas não são faladas. Todo mundo fala de Napoleão, mas ninguém fala das mulheres que cozinhavam para ele, ou que lavavam as roupas dele, e sem elas, ninguém seria o que foi.
Essa é a vida de Jesus, com sua mãe e aquele que se acreditava ser seu pai. A nossa vida ele viveu, as nossas dores ele sofreu, pelas nossas estradas ele andou. Falou uma língua que as pessoas podiam entender, e não falava coisas lá do alto, dizia coisas que as pessoas entendem! Reino de Deus é igual a grão de trigo, que cai na terra e morre. Todo mundo via e sabia o que era o plantio do trigo, como era a colheita da uva, como era fazer o pão, varrer o chão de terra da casa. A mulher varria com cuidado para ver onde caiu a moeda nas casas de chão de barro, que têm um monte de rachaduras pequenas no chão. Não era tudo com cerâmica ou outras coisas, era chão rachado, e ela procurava devagarzinho a moeda que podia ter caído ali. É a vida, e Jesus fala da vida que as pessoas entendem, ele mostra Deus de uma maneira que nós podemos entender, e nos mostra que Deus é fiel até a morte, lá na cruz.
Vocês já perceberam que a cruz e o presépio são muito parecidos? Ali existe pobreza, Maria teve que colocar esse menino em um cocho, não tinha lugar para eles na cidade, ela teve que ir para um lugar em que cuidavam de bois e ovelhas. Deu à luz ali, no estábulo, colocou a criança dentro de um cocho, isso é muita pobreza. E que nós encontramos lá? Um homem pendurado em uma cruz, espoliado de tudo, sem roupas, sem ninguém, com o nome amaldiçoado como herege pelos judeus e como criminoso pelo império romano. Tiraram de Jesus tudo, toda a dignidade que podiam tirar, tiraram. Morre de um jeito que dizia “você não é digno nem de morrer, dar o último suspiro pisando no nosso chão”, por isso era pendurado, os pés dele não tocam o chão.
O que nós temos no presépio? Uma mulher muito nova, com 13 anos talvez, aquele que acreditava e era realmente o marido dela, com não mais de 16 ou 17 anos, e um grupo de bandidos. Os pastores eram pessoas muito malvistas naquele tempo, eram homens muito rudes, muitos deles eram ladrões, assassinos, era uma situação horrorosa a dessa gente, e eles foram lá. Eu imagino a cara de Nossa Senhora quando vê esses bandidos chegando! Só que Jesus terminou a vida também ao lado de bandidos. Lá, ao lado da cruz, estavam dois assassinos, ou envolvidos com assassinato, não eram ladrões, pois ladrões não morriam daquele jeito, eram assassinos.
Porém, para essas duas situações há um anúncio estranho. Quando os anjos aparecem para aqueles pastores, se dizia que, quando Deus aparecesse, só com o olhar Ele iria transformá-los em cinzas, pó, de tão amaldiçoados que eram. Os anjos aparecem e falam “não tenham medo”, ou seja, “vocês não vão virar pó não, isso é mentira. Eu tenho um anúncio grande para vocês, bandidos, escória do mundo. Nasceu para vocês um salvador”. Será que esses homens poderiam ter ido ao palácio de Herodes ver seu filho? Ou no palácio de César ver seu filho? Não, esses homens só podiam ir em uma choupana no meio do campo, e Deus foi lá para que eles pudessem entrar em Sua casa, em Sua presença e ver Sua salvação. Ou seja, vocês não serão pulverizados, vocês serão salvos.
Na cruz, vemos a mesma coisa, para um deles Jesus diz “hoje você vai estar comigo no paraíso, você vai ver a salvação de Deus hoje”. Deus salva descendo na nossa miséria, indo ao encontro da nossa miséria, esse é o nosso Deus, essa é a mensagem de Natal. Feliz de quem se coloca naquele caminho junto àqueles pastores, quem não se considera melhor que os outros, superior ao outro porque tem mais estudo, porque é branco, porque é heterossexual, não, esses não encontram o caminho.
Para encontrar o caminho, temos que nos abaixar que nem aqueles homens, ser solidários com todos os que sofrem. Aí nós vamos encontrar Jesus, aí poderemos entrar em sua casa. Vamos pedir a José e Maria que rezem por nós para que possamos também nós nos abaixando, acolhendo aos outros, perdoando os outros, nos colocar nesse caminho para chegar até o presépio onde vamos encontrar a salvação de Deus.

Natal, tempo de esperança acesa em nossos corações
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Natal do Senhor - Missa da Noite (Ano A) – 24.12.22 – missa às 19h
ais uma vez é Natal, e mais uma vez se acende uma esperança, a esperança humana que não morre. É muito bonito escutar na primeira leitura [Is 9, 1-6] a fala do profeta que nos diz que as botas e as roupas as roupas ensanguentadas dos exércitos serão queimadas. Em outro lugar ainda se diz que o luto, a mortalha que cobria as nações será tirada, serão enxugadas as lágrimas de todos os olhos, não haverá mais sofrimento nem morte.
Essa é a grande notícia de Deus: a esperança! Por pior que estejam as situações humanas, por pior que esteja a situação econômica, política, social, brigas, ódios, nós, cristãos, esperamos sempre o dia de Deus. Não nos deixamos nos abater por essas situações, mas nos empenhamos para superá-las porque Deus quer, já nesse mundo, a paz.
O profeta diz que sobre este menino é colocado o julgo do poder, da autoridade, e ele será chamado de Príncipe da Paz, que todos nós buscamos e que, muitas vezes, não encontramos e temos que lutar mais. Jesus, Deus feito homem, nascido numa manjedoura. Manjedoura é cocho, viu, gente? Cocho de vaca, uma criança nascida ali, Jesus.
Toda mulher grávida carrega consigo uma esperança, e é muito difícil não se alegrar com o nascimento de uma criança porque a criança é vida, é uma vida que vai prosseguir, é uma vida que irá adiante, é mais um sonho, é mais um desejo. Como se dizia quando vieram batizar São João Batista: “o que será esse menino? o que virá a ser esse menino?”. Todos nós vivemos dessa esperança com um novo nascimento porque nós acreditamos na vida e não na morte.
Jesus nos revelou que a morte é só um momento, passagem, a nossa esperança está em Deus, então a nossa esperança humana se abre para o eterno. E por que se abre para o eterno? A nossa fé nos sustenta neste mundo, nos mantém mesmo nas dificuldades, nas dores, nas doenças e na morte. Nada nos separa do amor de Deus, mas temos que manter viva essa fé.
Se nós simplesmente nunca nos confrontamos com Jesus, nunca nos colocamos aqui aos pés do presépio ou aos pés da cruz, nós não alimentamos a fé, nós perdemos a esperança e afundamos em tantos medos, angústias, depressões, essa palavra que está virando uma chaga no meio do povo e do mundo por causa do isolamento da pandemia. Muitos de nós ficaram doentes, mas, para muitos, nós temos que perguntar: “a sua fé em Jesus segurou você nessa hora? Você aprendeu ao longo da tua vida a estar constantemente na frente de Deus?”
Aqueles pastores eram verdadeiros bandidos, muitos deles assassinos, quando viram os anjos seguramente pensaram que era o fim de tudo, e o anjo diz "nasceu para vocês", para aqueles bandidos, para eles, o Salvador. Se é Salvador de bandidos assassinos, é salvador de todos, um Deus assim não coloca medo em ninguém. Um Deus que nasce pequeno, necessitando dos cuidados da mãe, da proteção de alguém que lhe servia como pai, dos cuidados de outras pessoas, um Deus assim não assusta.
Existe um diálogo muito forte entre o presépio e a cruz, porque o menino do presépio, o menino da nossa esperança é o mesmo que está na cruz. Fidelidade, Jesus se esvazia de si e nasce como um de nós, se esvazia da sua divindade e se torna um de nós, caminha nossos caminhos por fidelidade ao Pai. Faz suas lutas, brigas, confrontos, milagres, vai ao encontro dos que sofrem, dos doentes, dos pobres, das prostitutas, por fidelidade. São esses que o mundo chama de malditos, para eles, começando deles, Deus salva a todos, começando deles. E, para ser fiel a isso até o fim, Jesus aceita livremente ser crucificado e ali, mais uma vez, o espelho do Natal, o espelho do presépio, o espelho da esperança para um assassino, Jesus diz "hoje, você estará comigo no paraíso". Hoje, um hoje de Deus que é a esperança eterna, não há o que possa nos separar de Deus, São Paulo vai dizer isso com muita força.
Nós precisamos cultivar essa esperança, um dom de Deus que nós recebemos no batismo, mas também somos responsáveis por ela. Nós entregamos, no dia do batismo, uma vela para o pai da criança, mas se esquecerem e colocarem em uma gaveta, nunca mais acende a fé. Muitas vezes, nós vamos até algumas vezes na missa, fazemos até alguma coisa boa, e nos contentamos com pouco.
Deus é bom, Deus quer a vida para todos, e Ele quer que estejamos sempre mais dentro desse grande movimento, que todos tenham vida, que todos tenham esperança, que todos possam ver dias melhores. Essa é a esperança que nasceu em Belém, essa é a realidade que Jesus nos deu na cruz, a vida de Deus, fraternidade com Jesus e com os sofredores, a vida de comunhão com a Santíssima Trindade.
Vamos louvar a Deus pela esperança que sempre acende em nosso coração. Às vezes, pessoas criticam que é só no Natal, mas vamos manter viva essa esperança, pois Natal é a esperança de um mundo melhor.
Mantenhamos viva essa esperança, caminhemos a nossa estrada com Jesus na esperança, abracemos Jesus no caminho do calvário, vivamos na alegria da ressureição anunciando o evangelho que o Espírito Santo nos manda. Esperança, não dar ouvido ao desespero, ao medo. Jesus menino desfaz o medo, e também para nós os anjos dizem: "não tenham medo, porque para vocês nasceu hoje o Salvador".
Nele coloquemos a nossa esperança e façamos da nossa vida caminho de seguimento de Jesus. A todos vocês, que a esperança do Natal crie um incêndio em vossos corações, que nós tenhamos dias melhores, que as guerras do mundo acabem, que a fome do mundo diminua, que nós possamos ter paz. Feliz Natal para todos!

Confiar em Deus como José
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 4º Domingo do Advento (Ano A) – 18.12.22 – missa às 10h
O Evangelho desse domingo pode ser chamado de Evangelho da confiança. Vamos começar olhando o Antigo Testamento, estamos no ano 732 a.C. e o rei da Assíria tinha invadido o reino do norte de Israel e depois ele fez o cerco em Judá e entrincheirou a cidade de Jerusalém. O rei era Acás, casado com uma pagã e ela tinha o culto ao deus Baal e muito provavelmente eles sacrificaram o primogênito para Baal. A estátua do deus era feita em bronze, eles esquentavam com fogo, o braço ficava incandescente e ali jogavam a criança viva – era o sacrifício a Baal, terrível, então provavelmente aconteceu isso. Agora um reino sem herdeiro e um reino cercado e entrincheirado, o rei ficou doido chegou a mandar embaixadas para consultar o rei da Assíria e ver o que fazer para não invadir a cidade e o que acontece? O profeta Isaías vai até o rei e diz para ele “confie em Deus, essa cidade não vai cair nas mãos dos assírios”. Mas o rei estava duvidoso, era medroso e covarde já tinha mandado essas embaixadas secretas falar com outro rei e Isaías ficou sabendo e, possesso de raiva, foi lá com a palavra do Senhor: “o Senhor te diz pede um sinal do céu ou sinal do fundo do inferno para que você confie acredite” aí o sujeito, além de covarde, ainda dá uma de falso piedoso, dizendo “eu não vou tentar o Senhor”. E o profeta ficou mais bravo ainda e falou “não basta você irritar a mim que sou o profeta, vai irritar a Deus também? Pois eu vou te dar um sinal”. A jovem era rainha vai dar à luz a um filho e essa criança vai ser a prova de que Deus está conosco, Emanuel. Qual o problema dessa profecia? É que no máximo em 9 meses se verifica ou não. A rainha realmente estava grávida, teve o bebê enquanto a cidade estava entrincheirada e até hoje os historiadores não sabem o que aconteceu, o fato é que no meio da noite o exército assírio levantou acampamento, foi embora e não voltou mais. Então a profecia de Isaías que era quase uma bronca, uma maldição para o rei, apareceu aos olhos dos discípulos de Isaías como uma bênção, pois se se verificou tudo aquilo que ele tinha falado: o rei da Assíria não entrou na cidade, a rainha teve um filho e o trono de Judá permaneceu firme. 200 anos depois mais ou menos Judá vai cair nas mãos do rei da Babilônia e aí acaba o reino de Judá também.
Essa promessa de um filho ficou na memória de um povo e, nas palavras de Isaías, alimentou a esperança de um Messias e aí temos que ir 700 anos depois, lá na cidade perdida da Galileia chamada Nazaré, uma cidade pequeninha com 50 metros de comprimento só, perdida nas colinas. Maria estava grávida e gravidez até se consegue esconder por um tempo, mas depois não dá mais. Naquele tempo, o casamento era o que hoje chamamos de noivado. Os esposos se casavam, mas, depois da cerimônia, cada um voltava para a casa dos pais e um ano depois a esposa era levada para a casa do marido. Só aí eles iam viver como marido e esposa. Qual era o problema? Se durante esse ano houvesse infidelidade da mulher, ela deveria ser apedrejada em praça pública até a morte – só a mulher que se prejudicava naquele tempo. José então percebe que Maria estava grávida, mas ele não sabe o que aconteceu, ele pensa “eu não quero que ela morra, então vou dar uma carta de divórcio, assim ela pode ficar livre e se casar com quem quiser”. Enquanto ele estava pensando essas coisas, o anjo de Deus fala com ele em sonhos: “José, não tenha medo, a criança é obra de Deus e essa criança vai salvar o povo de Deus dos seus pecados, o nome da criança deve ser Jesus” então José crê na palavra do anjo, recebe sua esposa. E depois a vida dele começa a virar uma doidice: vem o decreto do governador para ir fazer o recenseamento e vai pra Belém, chega em Belém e fica lá algum
tempo e vem o perigo da perseguição, foge para Gaza, no Egito fica lá 2 ou 3 anos depois volta para Nazaré. É uma vida corrida. José educa essa criança como filho seu, faz dele um hebreu, uma pessoa da cultura do tempo e lhe ensina um trabalho. A coisa mais interessante na figura de José é que ele morreu antes do início do ministério público de Jesus, então tudo que o anjo falou para ele em sonho, ele não viu realizado. Maria viu o ministério de Jesus, os confrontos com autoridade, a morte e ressurreição de Jesus, a vinda do Espírito Santo e o começo da vida das comunidades. Maria viu tudo isso, José não. José é aquele homem que, nas palavras que São Paulo depois vai dizer, um semeia, o outro faz crescer, outro colhe e outro ainda vai comer. Se o meu trabalho é colocar a semente, é isso que tenho que fazer, disso tenho que cuidar. “Ah, mas eu queria logo comer o pão”. Deus pediu para você plantar a semente, comer o pão é problema de Deus no tempo Dele. Nós estamos em um tempo em que tudo é para ontem, Deus não é assim então José cumpre a missão dele mesmo sem ver o fruto final, isso só faz quem confia em Deus, quem tem fé. Quem não tem fé quer as coisas prontas logo para ver igual São Tomé tem que colocar o dedo no buraco do prego, isso é falta de fé. Se Deus pediu para eu plantar, eu planto. Deus pediu para eu colher, eu colho. Deus pediu para eu preparar o pão e pode acontecer de eu nem poder comer e sim outro comer. Eu tenho que fazer o que Deus me pediu, nesse tempo, nesse lugar. Fidelidade ao Evangelho é acreditar sempre em Deus, essa é a imagem e modelo de fé que encontramos em São José, esse homem que o evangelho chamou de justo um homem de crê para lá da lei. A lei é pouco, a fé dele é muito maior do que a lei.
Vamos pedir a São José que nos ilumine nos ajude a viver bem esse nosso tempo naquela que é a ordem e a vontade de Deus para o nosso tempo, para que outros possam no seu tempo dar prosseguimento a nossa obra.

O Messias vem para todos
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 3º Domingo do Advento (Ano A) – 11.12.22 – missa às 10h
No ano 732 antes de Cristo, o Rei da Síria, Degrate Falazar Terceiro, invadiu o Reino do Norte: Israel. Israel e Judá já tinham brigado, então, eram dois reinos separados e a Síria invadiu o reino do norte e a partir daí nunca mais o reino do norte foi livre, sempre ficou debaixo da mão de alguém, de um outro império. Judá caiu na mesma situação, 150 anos depois, quando o rei da Pérsia manda voltarem para a terra de Israel os descendentes daqueles que tinham sido levados exilados para Babilônia. Um discípulo de Isaías escreve esse trecho que nós ouvimos: “Não percam a esperança, o nosso Deus vem. Ele vai nos dar liberdade, Ele vai nos colocar na nossa terra”, e a parte importante é essa “Os cegos verão, os surdos ouvirão, os aleijados, os coxos pularão de alegria”.
Quando João Batista estava preso, pouco antes de ser morto, ele viu como era a atividade de Jesus e ficou com uma pulga atrás da orelha. Mas o Messias não deveria ser um grande juiz? Ele não era para ser um grande chefe militar? O que é isso que está acontecendo? Mas não era só João Batista que pensava assim, até os discípulos de Jesus pensavam assim e Jesus vai dizer para ele, para os seus enviados: “vão dizer para João o que vocês veem e ouvem. Os cegos veem, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, os coxos andam e aos pobres é anunciada a boa notícia”.
Nós não sabemos se essa mensagem chegou a João Batista e, se chegou, qual foi a sua reação. Fato está que Jesus começa a falar de João Batista e diz dele: “ele não é um caniço agitado pelo vento”. Caniço agitado pelo vento são aquelas pessoas que dançam conforme a música: se o lado A está ganhando, ele é do lado A; se o lado B está ganhando, ele muda para o lado B. Isso é ser balançado como um caniço ao vento, você não pode confiar naquela pessoa de jeito nenhum. Ou, outra imagem são aqueles que vestem roupas finas que estão nos Palácios dos Reis. Para essas pessoas, seja para esses do caniço, seja os de pessoas finas que frequentam os Palácios, a notícia da chegada de Deus, do Messias com Jesus não agrada. Eles se escandalizam enquanto os pobres, os cegos, os coxos e os marginalizados fazem festa, porque eles são libertados do sofrimento e do desprezo. Eles se tornam o centro das preocupações de Deus.
Jesus faz isso muitas vezes, estava lá na Sinagoga, lá tinha um homem com a mão seca, o que Jesus faz? Simplesmente diz: “Ó meu filho, tua mão tá sarada”? Não, ele diz: “vem aqui para o meio, saia da margem, venha para o centro”. A mulher que sofria com o fluxo de sangue, hemorragia há 12 anos. Imagina a vida dessa mulher... Para as mulheres do tempo de Jesus, o tempo da menstruação era um tempo de impureza, ninguém podia tocar nessa mulher, ninguém podia se sentar no mesmo lugar que ela, era um desastre. Agora imagine ter derramamento de sangue, ter hemorragia 12 anos seguidos, essa mulher vivia no inferno. Então, ela mesma se sente culpada, pecadora, olha o que Deus fez comigo? Eu sou impureza em pessoa, mas ela vai sorrateira atrás de Jesus. Jesus está lá no meio da muvuca, e põe a mão na roupa dele e ela fez isso com fé. Na mesma hora, Jesus percebeu que tinha acontecido alguma coisa diferente. Jesus para e começa a olhar “Quem me tocou?”. Aí os discípulos ainda tiram barato da cara dele, né, “ô gostosão, tá todo mundo aí na muvuca te empurrando para lá e pra cá e você quer saber quem te tocou?”. Mas Jesus insiste em olhar e até que a mulher tem coragem e vem na frente de Jesus, ou seja, ela sai do meio, do escondido, da vergonha e se coloca no centro, porque é isso que Deus quer.
Deus não quer ninguém jogado para os cantos. Aí Jesus diz para essa mulher: “a tua fé te salvou”. Olha que interessante, Jesus não disse isso para ninguém que estava na muvuca, todos os fãs de Jesus, ai que maravilha. Não, foi para aquela mulher, para aquela mulher que teve a coragem de arriscar na misericórdia de Deus.
Deus quer que todos estejam junto Dele. Deus não quer ninguém nas margens, ninguém excluído. Ele quer que todos sejam centro, mas para fazer isso, a gente tem que mudar nossa mentalidade. O mundo pode melhorar, pode mesmo, tem tudo para melhorar. Nós temos que aprender a fazer como Jesus, colocar os nossos olhos naqueles que estão fora, naqueles que são jogados como lixo do mundo, porque nós somos todos irmãos. Vamos pedir ao Senhor que Ele nos ilumine e nos faça também colocar no centro aqueles que são marginalizados, os pobres, os sofredores, aqueles que nós chamamos de pecadores.

Chamado à conversão
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 2º Domingo do Advento (Ano A) – 04.12.22 – missa às 10h
Em dois domingos do Advento, nós falamos de João Batista, essa figura que é muito importante para a passagem do Antigo para o Novo Testamento. Ele está exatamente no ponto central dessa passagem. João Batista se apresenta ao povo no deserto, com as vestes de um profeta, e grita chamando o povo à conversão, a mudar de vida, a tirar da vida aquilo que não é de Deus. E é muito interessante ver que as pessoas ao longo do rio Jordão, nas vilas e cidades, o pessoal da Judeia e até de Jerusalém, veem se batizar.
É interessante que seja a esse povo simples que João simplesmente chama à conversão, são pessoas que já vivem na pobreza, exploradas por um sistema absurdo que praticamente roubava tudo aquilo que as pessoas produziam. Era uma vida de muito sofrimento. Essa gente vem até João Batista porque eles também reconhecem que valham e esperam o dia do Senhor. Eles esperam a vinda do Reino, porque as soluções políticas e religiosas de Israel não deram bom fruto. O povo sai do deserto do Egito e entra na terra de Israel depois de 40 anos. Foram 40 anos de purificação, de experiências com Deus, de tentações. Então entram na terra de Israel e por 250 anos vivem numa sociedade bastante igualitária. É o tempo dos juízes. Depois eles querem um rei e, quando eles pedem um rei, aí entorta o caneco. Até que os reis desaparecem: no norte, no ano 700 a.C. e no sul, em Jerusalém, no ano 500 a.C. Daí para frente, Israel vai ser sempre colônia de outros reinos e o povo espera o Messias. O Messias que vá trazer tempos novos, libertar Israel dos opressores e fazer dela a maior nação do mundo, aquele que vai reformar a liturgia do templo. Esse povo deposita só em Deus a sua esperança por isso eles acolhem a João Batista, porque ele anuncia a vinda do Messias.
É interessante que existiam grupos políticos e religiosos que também esperavam o Messias. Os fariseus, muito religiosos e respeitados, observavam a lei com muito vigor e diziam que o dia em que todos os israelitas praticassem a lei, o reino iria chegar. Mas eles se fecham como se fossem um clubinho, desprezam, condenam e até matam os que não pensam e não agem como eles. Os saduceus eram o grupo dos latifundiários riquíssimos, as famílias dos sumos sacerdotes – engraçado porque não acreditavam na ressurreição, em anjos, na vida eterna, eram praticamente ateus vestidos de religiosos. Essa gente, os fariseus e os saduceus, elite política e religiosa de Israel vem para ser batizada junto com o resto do povo. Mas João Batista não se deixa enganar não, os chama de cobras venenosas. E o que a cobra faz? Mata. E ele fala: vocês pensam que enganam a Deus, vocês dizem nós somos filhos de Abraão, não somos filhos da prostituição. Pois é. A essa gente que tinha desprezo pelos outros, João Batista vai dizer que eles tem que dar provas de que eles se converteram, de que deixaram de pensar e agir do modo torto e errado que eles agiam. Ele diz: o machado já está no pé da árvore ou vocês mudam de vida ou vocês vão acabar no vinagre, pois, não mudaram de vida, 40 anos depois vieram os romanos e acabaram com tudo. Mas eles não se converteram, matavam as pessoas, mataram Jesus. Então o chamado de conversão para essas pessoas que se achavam os grandes da religião foi inútil. Deus chamou, mas eles não ouviram. E vão matar não só João Batista, mas o próprio Jesus.
O que nós esperamos? O reino de Deus, que já pode começar a lançar raízes aqui entre nós: tratando as pessoas com igualdade e não fazendo distinção entre pessoas, raças, estrangeiros. Somos todos irmãos, por isso devemos aprender a nos acolher entre nós e as outras pessoas. A comunidade é lugar de aprender a amar e conviver com as diferenças. Deus nos fez diferentes, porque Deus gosta disso, se não tinha feito tudo igual.
O profeta Isaías na Primeira Leitura vai trazer essa imagem muito bonita do leão e do urso que caminham juntos. E o leão vai comer palha, ele não amedronta mais os outros. A criança vai brincar com as cobras e as cobras não são mais uma ameaça. Vai ter paz, respeito uns pelos outros. Esse é o reino de Deus que já pode começar a ser plantado aqui quando nós levamos muito a sério ser irmãos e irmãs de todos. Esse é o chamado de João Batista. Essa é a preparação do nosso coração para acolher o Senhor que virá na pobreza e na humildade, o Senhor que virá na sua glória para julgar o que fizemos ou deixamos de fazer. Vamos pedir ao Senhor que estejamos sempre preparados trabalhando para ser aquilo que ele quer: discípulos.

Advento: espera e vigia
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 1º Domingo do Advento (Ano A) – 27.11.22 – missa às 10h
Começamos o novo ano litúrgico, no qual seremos guiados por São Mateus. O ciclo é trienal: ano A, São Mateus; ano B, São Marcos; e, ano C, São Lucas. O evangelho de João vai sendo lido durante os 3 anos nas grandes festas e solenidades e uma boa parte no ano de São Marcos, porque o evangelho de São Marcos é muito curto então colocamos partes do evangelho de São João no ano B. Entramos no tempo chamado de Advento e o padre usa roxo, que significa espera ou penitência – no tempo da quaresma ou dos mortos, nas missas dos mortos, também se usa o roxo. Durante o ano também usamos também o vermelho que lembra o fogo do Espírito Santo, mas também o sangue dos mártires e do próprio Jesus; usamos o verde, na maior parte do ano, no chamado Tempo Comum, em que vamos lendo devagarzinho, passo por passo do caminho de Jesus; e o branco ou dourado é usado nas festas e solenidades, no tempo de Natal, no tempo da Páscoa e em todas as grandes festas. A nossa atitude nesse período do Advento é parecida com aquela de quando uma mulher está grávida e está no seu último mês de gravidez, a nossa alegria é grande e estamos na expectativa porque às vezes nasce um dia antes, às vezes um dia depois... é essa a atitude do tempo do Advento: a expectativa não pelo nascimento de Jesus, não teria sentido Jesus já nasceu a 2 mil anos atrás, a expectativa é pela segunda vinda de Jesus. Nós celebramos o Natal de Jesus, ficamos esse último mês de Maria na expectativa e celebramos o Natal nos preparando para a segunda vinda de Cristo e Jesus nos fala no evangelho que não adianta ficar imaginando que será daqui 2 meses, daqui 2 anos, no ano 2.200, isso é problema de Deus.
O que Jesus nos pede? Vigilância. Se você soubesse que o ladrão viria na sua casa seguramente você colocaria trava na porta, avisaria a polícia, iria cuidar e ficar atento. Jesus nos diz a mesma coisa para a espera: devemos estar sempre atentos vivendo o evangelho na vida do dia a dia. Por isso, Jesus dá dois exemplos: tinham dois homens trabalhando no campo, um foi deixado e outro levado; tinham duas mulheres no mesmo moinho de trigo, uma foi deixada e outra foi levada. É no nosso dia a dia, na nossa vida comum, ali temos que viver o evangelho, ali temos que amar os outros e aprender a perdoar as pessoas e ajudar os que sofrem no nosso comum dia a dia. Se você olha que diferença tem as duas mulheres no mesmo moinho moendo? Uma vive sua vida segundo o evangelho a outra não e onde aparece isso? No dia a dia. Dois homens estão no campo fazendo a mesma coisa, mas um vive o evangelho segue o caminho de Jesus, o outro não. São nas nossas ações diárias que aparece se somos ou não de Jesus, se estamos ou não seguindo os seus passos e, por isso, precisamos sempre nos confrontar com Jesus e não é de ouvir falar não, temos que pegar o evangelho e ler. ‘’Jesus falou isso, mas estou colocando na minha vida? Mas eu penso tão diferente’’ tem que jogar fora o que penso de diferente e abraçar o que Jesus diz. Ele é a verdade e a vida. Na nossa convivência, vivemos ou não o evangelho e podemos perceber que estamos muito longe, que somos muito fracos e caímos sempre e Jesus diz: ‘’persevere, procure melhorar de novo, se levante mesmo se caiu 1 milhão de vezes’’. Acredite sempre na misericórdia de Deus. É mais fácil que nós nos cansemos de pedir perdão do que Deus se canse de perdoar, porque Ele perdoa sempre, então é sempre possível acertar o passo.
O tempo nosso cristão é de acertar o passo. Às vezes estamos com o passo torto, então vamos aprender. O lugar bom para a gente aprender é na vida de comunidade. Jesus salva todos nós, mas não cada um isolado, Jesus quer nos salvar como povo, como irmãos e irmãs, caminho de fraternidade. O mundo do Reino é mundo da fraternidade e isso nós precisamos construir aqui. Quando Deus vai nos dar a plenitude do seu Reino é problema Dele. Jesus manda a gente se empenhar e plantar aqui sementes do Reino, vigiando. Deus foi tão bom conosco e amou tanto essa sociedade louca que criamos que mandou Seu filho, Deus como Ele, para ser um de nós, para nós ensinar o caminho, nos dar esperança. O mundo é doido, mas tem jeito. Acredite nos gestos de amor, fraternidade e perdão, de justiça. Acredite! ‘’Ah, mas é pouco’’ mas é uma semente. Não deixe de plantar a semente. Deixe que a semente da palavra caia no seu coração, a deixe crescer, mas esparrame também sementes de amor e fraternidade com os outros. O mundo muda.
Maria recebeu em seu ventre aquele que o céu não é capaz de conter, Deus é muito maior que o céu. Isso é uma imagem hebraica, mas Deus encontrou um lugar em que ele cabia no seio da virgem Maria. Então nesses dias do Advento vamos sempre estar perto dela para que ela também faça crescer em nós a imagem de Jesus.

Encontrar Jesus em todos os nossos irmãos e irmãs
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade de Cristo Rei (Ano C) – 20.11.22 – missa às 10h
Este domingo é o último domingo do ano litúrgico que termina próximo sábado ao meio-dia, já na missa da tarde nós vamos ter o início do novo ano litúrgico com o advento, preparação para o Natal. Neste ano, nós fomos acompanhados pelo evangelho de São Lucas, no próximo ano seremos acompanhados pelo evangelho de Mateus, no outro ano será pelo evangelho de Marcos, e São João vai entrando de modo que no final de 3 anos, nós teremos lido 4/5 dos evangelhos.
Os hebreus, os gregos, os romanos, todos os povos da antiguidade sempre viram Deus de uma maneira superelevada. Os hebreus consideravam Deus tão alto, tão longe, tão elevado em santidade, que a nossa vida era uma vida de impurezas, tínhamos de fazer uma série de rituais, a mulher especialmente por conta da menstruação e dos partos, vivia numa situação de impurezas, porque para eles Deus era muito alto, muito santo.
Para os romanos, gregos, persas, egípcios, os deuses eram sempre elevados, Zeus ou Jupiter eram deuses soberanos sobre o universo, imortais, não sofriam dores, era uma coisa de outro mundo, e nós temos na cabeça essa imagem de Deus. Depois, nós temos os reis que, naquele tempo, se consideravam deuses, o imperador romano era considerado um deus vivo, então, toda vez que falamos de reis, nós pensamos em pessoas de grande importância. Pense aí, poucos dias atrás vimos o funeral da Rainha Elizabeth, quantos protocolos, quantas procissões... quando morre um Papa, muita coisa se faz, nós sempre temos essa ideia de grandeza. Se morre um presidente da república também acontece um monte de coisa, e essas são as imagens que temos na cabeça, de grandeza. Quando se fala de Deus, quando se fala de reis, sempre grandeza.
Nós acreditamos que Jesus é a revelação do Pai, ele sendo o verbo eterno, é igual ao Pai, esvaziou-se de si mesmo e se tornou um de nós. Como é estranho dizer que Deus se fez humano! Nas mitologias antigas, nós temos os deuses que se travestiam de humanos, mas não era encarnação, por isso existem essas imagens geralmente para deixar os humanos confusos, pensar nas escapadas de Zeus com as mulheres humanas que só deram problemas.
Jesus assume Deus, assume a nossa vida humana e tudo o que comporta esta vida humana, menos o pecado. O ser humano não foi criado para pecar, mas tudo o que comporta nossa vida, geração, gestação, nascimento, crescimento, aprender as coisas de Deus, aprender uma profissão, conviver com as pessoas, trabalhar, rezar, ajudar em casa, a convivência, a vida comum nossa, se corta o dedo, sai sangue. Essa é a vida nossa, essa é a vida de Jesus, é a vida que Deus viveu conosco, falou uma língua nossa, caminhou pelas nossas estradas, comeu nossa comida.
Deus desce, Deus se abaixa. Deus não tem medo nem vergonha de se aproximar e se fazer um de nós, se tornar um de nós, e nos ensina que o que vale nesse mundo é o amor e o serviço. Se Deus tivesse encarnado como um rei nesse mundo, continuaria lá em cima. Os brasileiros viram a rainha Elizabeth uma vez, quantas vezes um Papa veio ao Brasil antes do João Paulo II? Nenhum.
Jesus se coloca no nosso meio e Deus se abaixa, pequeno, pobre, trabalhador, não era um homem estudado. Jesus não frequentou escolas do templo onde os doutores da lei se preparavam durante a vida inteira estudando a bíblia, e, aos 40 anos recebiam uma ordenação que fazia deles intérpretes infalíveis da palavra. Jesus nunca participou de uma escola dessas, tanto que os doutores da lei daquela época, se perguntavam de onde vinha tanto conhecimento de Jesus se nunca tinha estudado com eles, interpretando palavras.
Achavam um absurdo, como acham um absurdo que Jesus se aproxime dos pecadores, das prostitutas, de pessoas corruptas, de mulheres, pois ninguém se aproximava de mulheres, você não sabia se a mulher era impura ou não, era um horror. Jesus se aproxima de leprosos, que eram colocados longe porque eram tidos como amaldiçoados, que Deus tinha castigado e não se podia aproximar deles, e Jesus se aproxima. Jesus não foge, não tem medo dos amaldiçoados deste mundo, não tem medo daqueles que este mundo cria amaldiçoados, este mundo faz das pessoas amaldiçoadas. Deus não tem medo, e Deus não amaldiçoa. Deus vai ao encontro, Jesus vai ao encontro e não teme ter a morte que teve.
O pior tipo de morte sob tortura que existia naquele tempo era morrer com os pés fora do chão, pois era um modo de dizer que esse criminoso era tão grande que não podia dar o último suspiro pisando no chão daquele país ou daquele lugar porque não era digno. Deus viveu o preço da maldição que nós criamos no mundo, e se deixou crucificar no meio de dois amaldiçoados pelo Império Romano e pela religião hebraica.
Desse modo, Deus abraça todos. Nós pensamos que o abraço de Deus é de cima, Deus está acima de todos, mas não, Deus está abaixo de todos, para que, de baixo, ele possa abraçar toda a humanidade, e ninguém se sinta excluído diante dele, ninguém. E o Deus que se deixa crucificar desse jeito, não precisa ter medo. Deus que se deixa matar até a última gota de sangue, está dizendo o que para nós? “Confie, eu não escondo nada embaixo da manga, pode confiar, se entregue a esse caminho, esse é o caminho da vida, eu morro e dou a vida, não guardo nada para mim, confiem.” Esse é o nosso Deus, e Ele é rei desse jeito, na cruz.
Rei do serviço, que abraça todos, que vai atrás dos amaldiçoados da história, dos sofredores do mundo. Ele se faz um deles para que todos possam se aproximar dEle. Quem pode se aproximar do rei? Quem podia se aproximar da rainha Elizabeth? Quem pode se aproximar do Papa ou do Presidente da República? Mas nós podemos nos aproximar do Chorão, que é um dos rapazes que mora aqui em volta da igreja, que nós muitas vezes consideramos menos, dele todo mundo pode se aproximar. Deus se faz como um desses, para que até essas pessoas possam dizer “eu posso me aproximar de Deus”.
Todos nós podemos nos aproximar dEle, Deus do amor, da bondade, do perdão, Deus que é rei fazendo de nós irmãos e irmãs. Jesus fez com que nós, na nossa miséria, nos tornássemos irmãos e irmãs dele, irmãos e irmãs entre nós, fez do seu Pai, o nosso Pai, sem excluir ninguém, se aproximando de quem muitas vezes nós não aproximamos.
Deus não tem vergonha do ser humano, da miséria humana, Ele quer que nós nos empenhemos sempre para melhorar esse mundo, para que Ele possa reinar no nosso meio como Ele quer, servindo a todos.
Jesus fala em uma parábola que ele é como o dono da casa, um grande senhor, que chega e encontra os servos acordados e, ao invés de se sentar e comer, coloca os servos na mesa sentados e ele vai servir, que coisa diferente! Jesus é nosso Deus e nosso rei, vamos aprender dele a ser também servos e ir ao encontro daqueles que, muitas vezes, nós mesmos chamamos de amaldiçoados e pecadores.

Como esperar pele vinda do Senhor?
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – 33º Domingo do Tempo Comum (Ano C) – 13.11.22 – missa às 10h
Nós estamos terminando o ano litúrgico. O próximo domingo é o último domingo deste ano litúrgico em que nós somos acompanhados, vamos dizer assim, guiados por São Lucas. Muito bem, dez capítulos de São Lucas, de 9 a 19, falam do grande Caminho de Jesus até Jerusalém. Domingo passado, esse domingo aqui Jesus já está em Jerusalém e começa a falar das últimas coisas, do tempo Novo de Deus. Os hebreus estavam num período em que se esperava a manifestação do Reino de Deus, mas através de uma luta política, uma revolução armada e muito se preparavam para essa grande revolução. Nós tínhamos os essênios de curran, nós tínhamos os elotas, nós tínhamos vários grupos que fizeram realmente uma revolução por volta do final dos anos 60 e em 72 – 40 anos depois da morte e ressurreição de Jesus –, vieram os romanos e acabaram com tudo.
Nós podemos dizer que aquilo foi um fim do mundo, pois, a partir daquele momento, os hebreus não tiveram mais templo, nem sacerdócio, porque mataram todas as famílias sacerdotais, e nem o sacrifício que se apresentava no templo. O hebraísmo ou judaísmo teve que se reinventar e uma das consequências dessa reinvenção foi a expulsão dos cristãos da Sinagoga – os judeus que acreditavam em Jesus, eles simplesmente botaram fora. Foi um momento muito importante também para a vida da igreja, porque nós nos demos conta de que o cristianismo, apesar das raízes hebraicas, é outra coisa.
Muito bem, os Evangelistas vão olhar para a destruição do Templo de Jerusalém e ver ali uma quase como uma antecipação, uma prefiguração daquilo que será o dia do juízo e é muito interessante ver que Jesus fala que muitos virão em seu nome: muitos virão dizendo ‘sou eu o Messias’ ou então ‘ah vai acabar daqui a pouco’. Jesus disse: ‘não creiam neles’. Em nenhum momento Jesus diz que o mundo vai acabar daqui dois dias. Em um dos Evangelhos, Jesus vai dizer que ninguém sabe aquele dia, só o Pai reservou para ele isso. Então, não tem especulação nenhuma para decidir, para dizer quando é o fim do mundo. Essa pedrinha rodando aqui no espaço, que nós chamamos de terra, mais dia ou menos dia vai para o beleléu, mas até lá, a humanidade não existe mais em cima dessa rocha rodando por aqui.
Jesus corta pelos pés essas nossas preocupações inúteis e nos alerta sobre a necessidade de perseverar no caminho, no caminho de Jesus, no caminho do Evangelho, no caminho do amor ao próximo, no caminho da justiça, no caminho da promoção da paz, mesmo quando nós somos perseguidos, mesmo quando alguns de nós são mortos. É isso que Jesus está nos falando, não interessa quando acaba, o que se espera, o que se ensina, o que Deus vem buscar é a perseverança, é não jogar fora o caminho de Jesus, é não deixar de acreditar em Jesus. Essa é a grande tentação que nós falamos todo dia no Pai Nosso: “não nos deixeis cair em tentação”. É a tentação de não seguir Jesus, de jogar para lá o caminho do Evangelho, de se vender para mentalidade de morte, de discriminação desse mundo. Quando nós lemos o momento em que Judas entrega a Jesus e o evangelista diz que ele saiu e era noite. É o discípulo que se entrega para as trevas. Caminhou três anos debaixo da Luz, vira as costas e se entrega para as trevas. Essa é a grande tentação.
Essa mesma tentação Jesus sofreu lá no Horto das Oliveiras. A possibilidade de fugir, a possibilidade de tentar outra coisa, e o Pai ficou silencioso. Deus é fiel, Deus não foge, Deus não engana, Deus não mente. É como se diz ou, ao menos se dizia alguns anos atrás, “Deus não foge da raia”. Pois é, foi essa a resposta silenciosa que Deus deu para Jesus. Jesus, que é a revelação do Pai, aceita permanecer na fidelidade nem que isso custe a morte. Jesus abraça o caminho da fidelidade, caminho que Ele viveu sempre e, na hora da grande tentação, Ele confirma o caminho que sempre fez e o Pai que é fiel ressuscita Jesus depois da morte. A morte não é páreo para Deus. Deus é o Senhor da Vida, por isso que, lá no Apocalipse, nós temos Jesus que tem nas mãos a chave da morte e do inferno. Na Antiguidade, você ter as chaves na mão, significa que você é dono. O dono é mais importante do que a propriedade, pois ele decide sobre a sua propriedade.
Falar do fim do mundo não deve ser para nós uma especulação, mas o empenho cada vez maior de seguir os valores do Reino, mudar o nosso coração, ouvir as palavras de Jesus – especialmente aquelas que mais nos cutucam, que mais nos deixam incomodados, porque são essas palavras começam a arrancar a máscara ou as máscaras que nós usamos diante de Deus, e Deus faz isso porque quer a nossa salvação.
Vamos pedir a Jesus poder ser perseverantes até o fim, dentro da situação que nos foi dada. Mesmo que venha a morte e a perseguição, Deus vai ter a última palavra sobre a nossa vida e sobre a história humana. Em alguns instantes de silêncio, vamos meditar essa palavra.

Abrir nossos corações para amar como Jesus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha – Solenidade de Todos os Santos (Ano C) – 06.11.22 – missa às 10h
Hoje vamos nos concentrar na Primeira Leitura [Ap 7, 2-4.9-14], pois na boca de muitos irmãos separados, essa leitura tem uma interpretação bem diferente da nossa. Na antiguidade, os números eram considerados mágicos: número um é um ponto, número dois é uma linha, mas o número três mantém já um plano, você consegue apoiar uma mesa em cima de três pontos. Quatro pontos são os pontos cardeais, são chamados os quatro elementos, e isso sempre na mentalidade antiga que não tinha a ciência que temos hoje. O número três e o número quatro são chamados perfeitos, pois somados dão o número sete que é outro número perfeito. O seis, por exemplo, já é um número imperfeito.
A igreja também tinha a mentalidade do tempo, e isso durou até alguns séculos atrás. Nós também usávamos essas numerações, por exemplo, os sete sacramentos, as três virtudes teologais, as quatro virtudes cardeais, os dez mandamentos, os doze apóstolos. Então, a Bíblia, quando fala de números, está falando de forma simbólica. Temos um número que cria diversas interpretações, às vezes até sem fundamento: 144 mil, o que significa? Três multiplicado por quatro é doze, que multiplicado por doze é 144, número perfeito. 144 mil, número perfeito que significa totalidade. Porém, ali se fala nos filhos de Israel, 12 mil da tribo de Judá, 12 mil da tribo de Benjamin, 12 mil da tribo de Ascalon, 12 mil da tribo de Manassés, e assim por diante, doze, um número perfeito multiplicado por mil.
144 mil, a totalidade do povo de Israel, os hebreus, judeus. Deus prometeu a salvação para o seu povo antigo e Deus é fiel, o que Ele promete, Ele faz. Logo depois, temos uma outra visão, uma multidão que ninguém pode contar. Ninguém significa que só Deus sabe, ninguém mais. Essa imagem contrasta com o outro grupo que é um número, 144 mil, número simbólico que significa totalidade. Ali há número e aqui não há mais número. Lá é um povo, o povo hebreu, uma língua, o aramaico, uma nação, judia, uma raça, semita. Se nós olharmos para o segundo grupo, multidão que ninguém pode contar, de todas as raças, de todas as tribos, de todos os povos, de todas as nações. Quem são esses? O ancião vai dizer “lavaram suas vestes no sangue do cordeiro”, são todos os cristãos e os não cristãos que praticaram o bem e a justiça mesmo sem conhecer Jesus e fazem parte dessa multidão incontável.
Deus quer que todos sejam salvos, todos. Deus não faz distinção de pessoas. A mesma salvação que Ele dá para o seu povo por força da Sua promessa, é a mesma salvação que Ele dá para o resto da humanidade por força do sangue que Jesus derramou na cruz. Para Deus, não existem privilégios, não existem pessoas de primeira, segunda, terceira, quarta, quinta classe. Para Deus, todos e todas somos irmãos e irmãs, isso é igualdade radical que nós não conseguimos nesse mundo. Para Deus, é assim, todos. E Ele ama a todos e cada um e cada uma como filho e filha, preto, branco, amarelo, homens, mulheres, gays, todos, não tem diferença para Deus. Ou, na diferença de cada um, Ele ama como filho e filha únicos.
Deus quer a salvação de todos. Há muito dano no mundo por causa do pecado, muita gente morre, muita gente morreu, e muita gente ainda vai sofrer por causa dos nossos pecados individuais, por causa dos pecados coletivos. Mas Deus, Jesus, é aquele que vai dar a última palavra sobre a nossa história, e a última palavra de Jesus sobre a história é perdão porque Deus é misericórdia e não pode não ser. Deus dá vida, Deus não pode dar morte, Ele não é Deus do inferno, é o Deus da vida e quer que todos tenham vida. Vamos vivendo nessa sociedade que temos que ir aos poucos adaptando e ajustando, mas Deus quer a salvação de todos.
Vamos dar um outro passo, os santos. Quem são os santos? Gente como nós, cristãos como nós, que viveram o mandamento do amor. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”! Eles abriram seus corações para deixar que o Evangelho os iluminasse. Muitos deles foram como pedra na qual a água vai batendo até que fura, os grandes convertidos na história. Talvez, o mais emblemático seja São Paulo, mas tivemos outros, como São Francisco de Sales, que era um homem rude, duro, tratava mal as pessoas, até o dia em que foi ao porão do palácio episcopal. Lá ele viu que havia vários barris de vinagre, mas também uma garrafa de mel que pingava e uma porção de abelhas que iam naquela gota de mel. Ele pensa “elas buscam essa gota de mel, e não esses barris de vinagre”, e isso o chocou tanto que ele começou a trabalhar sobre si mesmo, sendo chamado hoje o santo da doçura.
Deixar que o evangelho entre na nossa vida, temos que pedir isso de joelhos para Deus, pois isso é um dom, é uma graça, e nós podemos pedir pois somos todos batizados, Ele nos deu a fé de presente, Ele nos escuta. Esses homens e essas mulheres, alguns mártires, outros, não, entenderam isso.
E o que os santos fazem? Aquilo que Santa Teresinha disse sobre si mesma: “eu passarei o meu céu fazendo o bem sobre a terra”. Os santos são irmãos e irmãs nossos que cuidam, que rezam conosco, que nos ajudam porque o amor no céu não tem mais os nossos condicionamentos, isso queima tudo na hora da morte, que nós chamamos de purgatório, e eles nos entendem e estão perto de nós. E, conosco, rezam a Jesus Cristo porque ele é o único intercessor entre nós e o Pai. Os santos rezam conosco, como numa ciranda que pega o céu e a terra e chamamos uns aos outros para rezar. “Maria, reze conosco, reze comigo. Antônio, Teresa, Rita.”, e eles fazem coro com o nosso pedido, sempre voltados para Jesus.
Os santos não são intermediários pois não existem intermediários, entre nós e Jesus o contato é direto, mesmo quando rezamos a Virgem Maria, pois ela está nessa roda junto conosco. Ela, que está ali no pé da cruz, reza conosco ao seu filho, o único mediador entre nós e o Pai.
Essa grande ciranda que é a igreja triunfante e a igreja peregrina que somos nós. Esse é o caminho de Deus, essa é a festa que celebramos hoje. E qual é o grande pedido? É que Deus continue batendo na porta do nosso coração, que a água de Deus continue batendo nessa pedra e que fure essa pedra para que, ali, possa entrar vida, e, dali, possa jorrar uma fonte para a vida eterna

Assumir e viver a nossa Fé Católica
Homilia: Pe. Eduardo Calandro – 31º Domingo do Tempo Comum – Missa de Crisma (29/10/2022 - missa às 16h
Meus queridos irmãos e irmãs na fé, nós estamos antecipando nesta celebração o 31º domingo do tempo comum da nossa liturgia, e, de maneira muito carinhosa, muito especial, nesta celebração da crisma. A liturgia da palavra de hoje nos chama atenção sobre o quanto o amor de Deus nos alcança, o quanto Ele nos busca, o quanto esta força de Deus nos atrai.
A primeira leitura do Livro da Sabedoria faz uma alusão àquilo que é um povo que se desvia, que se perde, mas cuja grandeza e onipotência desse Deus são mais fortes para acolher aquilo que foi erro, aquilo que foi falha, aquilo que foi pecado dessa gente. Deus está sempre disposto a receber de novo, acolher de volta. Claro que isso exige uma disposição humana diante do erro, diante da falha, diante do afastamento de Deus. Temos que ter disposição para nos aproximar Dele, mas vale a pena olhar para o Evangelho [Lc 19, 1-10] para entender bem isso.
Nós temos aqui a descrição, está descrito aqui tudo aquilo que era a pessoa de Zaqueu. Um homem que roubava o povo, um homem que fez muito mal para muita gente. Era o chefe dos cobradores de impostos, alguém também excluído do grupo porque era um pecador público. Todo mundo sabia que ele, de fato, não era alguém tão honesto, isso está descrito no Evangelho. Só que ele teve uma disposição, ele queria ver Jesus, ele tinha esse desejo, e a pequenez, não só de estatura, mas de vida, na sua cabeça, o impedia de aproximar de Jesus.
E aí vem a beleza do Evangelho de Lucas, não foi ele que viu Jesus, foi o contrário, foi Jesus que olhou para ele e disse “quero ficar com você, hoje eu vou lá na sua casa”. Pense numa multidão em volta de Jesus, alguém que era um pecador público, que havia feito muitas coisas ruins, que havia tirado de muita gente dinheiro e Jesus dizer que vai na sua casa. As pessoas ficaram resmungando: “quem é esse Jesus que vai na casa de uma pessoa que não presta?” E Jesus cumpre de ir à casa, sentar-se à mesa. A gente convida para ir em nossa casa quem é muito íntimo, não é? E ainda mais para uma refeição, sentar-se à mesa conosco, só alguém que é muito próximo, que é muito amigo. E Jesus se senta à mesa, faz refeição com esse pecador público, e ali vem a beleza da sua mudança de vida.
Jesus não precisou pedir para ele mudar de vida, ele tomou consciência, se transformou e disse “eu roubei e vou devolver quatro vezes mais.” Atitude de mudança, atitude de conversão, atitude de quem recebeu uma nova chance e soube acolher esta nova chance.
Lucas tem sempre essa intenção no Evangelho, de mostrar que aquilo que estava perdido é possível ser recuperado. A nossa fé cristã sempre vai ser uma fé de dar uma nova chance, uma fé que perdoa, que acolhe e que dá um novo significado. Foi isso que Jesus fez na vida de Zaqueu, por isso ele disse “a salvação está aqui na sua casa”, porque ele mudou, porque ele se deixou transformar.
Cuidado para que a gente não se deixe levar por falsas ideias de Jesus. Já lá no tempo das primeiras comunidades isso estava acontecendo, e a segunda leitura, a Carta aos Tessalonicenses [Ts 1, 11-2,2] já era um convite para tomar cuidado com falsas ideias. Espalhou-se no meio dos primeiros cristãos que a vinda do Senhor estava próxima, então o povo começou a cruzar os braços. “Não preciso fazer nada porque a vinda do Senhor está próxima”, uma falsa ideia da vinda do Senhor. Cuidado com algumas falsas ideias que nos distanciam de nós mesmos e da nossa prática de fé, que nos distanciam deste modelo de Jesus que é acolhedor e perdoador, de um Jesus que quer sempre dar uma chance e essa tem que ser a nossa atitude de cristãos e cristãs. Temos que ser homens e mulheres que oferecem àquele que erra uma nova chance e temos que ter essa consciência também de que depende da minha disposição, porque eu também tenho uma nova chance.
Vocês hoje serão crismados. Para nós, na igreja, isso é motivo de alegria, porque é sinal de futuro para nós como Igreja Católica, como comunidade de fé, porque ser crismado é dizer assim “eu assumo a minha fé, eu assumo ser cristão, eu assumo a vida de comunidade”. Por isso, para nós hoje, este dia de confirmar, de receber esse Sacramento, dom do Espírito Santo, é a certeza que a nossa igreja tem futuro.
O mesmo Espírito Santo que esteve lá, no início da igreja, quando todos nós rezarmos aqui, vai estar aqui presente na vida de vocês que receberão este Sacramento. Por isso, as vossas vidas devem ser transformadas por aquilo que nós estamos rezando, porque, caso contrário, perde sentido. Vir aqui só para uma missa, para cumprir um preceito, porque chegou a idade, isso não faz sentido nenhum. Mas, vir aqui para dizer: eu quero ser católico e assumo esta fé católica, assumo aquilo que a igreja me ensina, e assumo na vida quando eu saio dessa porta, isso é ser cristão. Vocês hoje serão ungidos, serão cristos. Cristo significa ungido. Vocês são cristos e vão anunciar, viver, lá fora, tudo isso, onde vocês frequentam.
Nós, como igreja, rezamos por isso, mas também não podemos deixar de agradecer. Agradecer primeiro o empenho de cada um, de cada uma de vocês. Vocês fizeram itinerário de catequese para chegar até aqui, aprofundaram a fé, viveram momentos bonitos nesta caminhada e teve gente que ajudou vocês a fazerem isso, que são os catequistas. Eu queria convidá-los para que vocês venham aqui, pode vir aqui perto de mim mesmo, aqui em cima que é mais fácil de ver vocês, catequistas.
Em nome da nossa diocese, em nome da catequese diocesana, da qual eu faço parte, de fato sempre agradecemos muito a vida dos catequistas. Com certeza também é o desejo do Padre João, porque é com vocês que nós construímos comunidade, vocês de fato são a extensão do padre. Nos séculos 15 e 16, a missão da catequese era do padre, o direito canônico afirmava isso com todas as categorias: o padre tem que ensinar, tem que ser o catequista. Depois, a nossa igreja foi aprofundando e vimos que o padre não dá conta de tudo isso, então, vocês são essa extensão bonita da nossa vida eclesial.
Então, por isso, eu faço questão de chamá-los aqui e agradecer o tempo que vocês dedicam. O salário de vocês no final do mês é alto, não é não? Tem gente que pergunta ainda, não? Quanto que vocês ganham do padre para dar catequese? Aí vocês devem responder, claro. Vocês ganham para isso, porque as pessoas sempre pensam numa sociedade muito utilitarista, pensa que tudo que a gente faz é por causa de dinheiro, e vocês mostram que doam a vida semanalmente, preparam o encontro em casa para depois chegar junto com esses que aqui estão para fazer acontecer um itinerário de catequese.
Por isso, nós queremos agradecer a vida de vocês e, nesta missa, também pedir que este Espírito Santo confirme a vida de vocês neste caminho. Não desistam, não deixem se desanimar, às vezes, pelas dificuldades, por tudo aquilo que acontece no meio do caminho. Vocês são profetas e profetisas porque falam em nome de Deus, falam em nome da nossa igreja. Por isso, olhando para este povo que aqui está, eu queria que nós agradecêssemos, esses crismandos estão aqui hoje graças a esses homens e mulheres que fazem esse trabalho.
Dizemos juntos: louvado seja nosso senhor Jesus Cristo!

Deus salva a todos
Pe. João Aroldo Campanha – 30º Domingo do Tempo Comum (23/10/2022 – Ano C) – missa às 10h
Existe um princípio de direito que diz que a justiça é dar a cada um o que é seu. Esse é um princípio do mundo romano, porém, a Sagrada Escritura vê de outro jeito: fazer justiça é defender a causa do pobre. Olha que interessante, defender a causa do pobre, por quê? O rico não precisa que o defendam, ele tem dinheiro para pagar os advogados. O rico muitas vezes pode até comprar o juiz. Já o pobre depende do outro e, muitas vezes, nesse mundo, a justiça não pende para o pobre. Deus faz justiça para o pobre, Ele tem os olhos voltados para o pobre, para a viúva, para o órfão e para o estrangeiro. Está na Escritura, esse é Deus. Os Seus olhos estão lá, não estão nos vossos sacrifícios.
Esse critério é sempre o critério do avesso de Deus. Deus sempre olha o mundo pelo avesso. O que para nós são valores, para Deus são antivalores. O que para os olhos do mundo não vale, para Deus é o lugar onde ele começa a salvação de todos. Deus não começa a salvação pelo topo, Deus começa a salvação por baixo, por onde ninguém acha que tem valor e Deus não pensa como nós.
No Evangelho de Lucas, Jesus está subindo para Jerusalém e o que acontece? Jesus está falando para os seus discípulos, está falando para a multidão. Qual é o grande perigo? Que até os seguidores de Jesus possam se sentir justificados. Eu faço tudo que Deus manda, eu não cometo pecado como essas outras pessoas. Nós todos somos pecadores, nenhum de nós escapa da redenção de Jesus. Nenhum de nós se salva por conta própria, ou Deus na sua bondade nos salva ou nós não temos salvação. Aqui está, por exemplo, a grande diferença entre ressurreição e reencarnação. A reencarnação é a doutrina que prega a autorredenção. Eu vou me redimindo com as reencarnações. Isso não é cristão, isso não é judeu, isso não é islâmico, isso não pertence as religiões que nós chamamos abraâmicas. As religiões abraâmicas e o cristianismo, que é uma delas, não acreditam na reencarnação, acreditam na salvação que vem de Deus. Só Deus nos salva, é graça Dele e não mérito nosso. Aí você pode perguntar: ‘Mas, padre, então por que que eu faço o bem? Não é para ganhar o céu?’ Não. O céu já foi te dado de graça por Jesus na cruz. Fazemos o bem para viver na alegria dos filhos de Deus. Porque você sabe que essa vida se abre para a vida eterna. Então eu posso até gastar essa vida todinha fazendo bem pelos outros, porque eu sei que Deus me ama e me salva. Ele salva a mim e ao outro.
O que Jesus está condenando no fariseu é se colocar como senhor da salvação. Ele diz: ‘Eu não sou como esse homem, eu não sou como os outros homens’. No dizer de si, ele está condenando todos os outros, ele se coloca juiz das outras pessoas. Quando eu me coloco como juiz dos outros, eu mato, eu difamo, eu persigo, eu não respeito. Nós não somos donos da salvação. Deus nos salva. Nós somos todos irmãos, todos os pecadores, todos necessitados da graça de Deus, a graça que nos vem gratuita, por isso se chama graça, da cruz de Jesus. Por isso, nós não podemos ver ninguém e achar que é menos que nós. Mulher não é menos que homem, preto não é menos que branco, homoafetivo não é menos que é heteroafetivo, estrangeiro não é menos que um nacional… nós somos todos irmãos, todos necessitados da graça. Fazemos o bem para que todos possam viver na alegria da salvação.
Vamos pedir ao Senhor que Ele nos ajude a perceber que somos todos necessitados da sua graça e que nenhum de nós pode apontar o dedo para os outros.

Perseverança, o caminho de Deus
Pe. João Aroldo Campanha – 29º Domingo do Tempo Comum (16/10/2022 – Ano C) – missa às 10h
Eu, quando era jovem, participei de vários encontros de jovens, e o evangelho de hoje é uma mensagem muito interessante e veio calhar como uma luva para vocês que terminaram o encontro. Até os anos 800 da nossa era cristã, as pessoas rezavam em duas posições: de braços levantados, e até temos um testemunho famoso de uma pintura de uma catacumba que nós chamamos de o orante ou a orante, e essa pessoa é figurada com os braços louvando a Deus, e nós tínhamos outra posição, que era a prostração, em que você se joga por terra e reza a Deus. Nós vemos Jesus nessa posição no horto das oliveiras. Então, vocês me perguntam: e de joelhos? Rezar de joelhos é um gesto medieval que nasce dos ritos entre os senhores feudais e seus súditos, foi a partir da idade médio que nós começamos a rezar de joelhos, antes era ou em pé ou deitado.
Moisés está no alto da montanha, lá embaixo está o vale onde os amalecitas desafiaram os israelitas. Temos essa guerra e Moisés fica em cima da montanha com os braços erguidos, ou seja, fazendo oração, usando e segurando o bastão que ele tinha usado para abrir as águas do Mar Vermelho. Ele fica de braços erguidos por muito tempo, mas não há quem aguente ficar assim o dia inteiro, e chegou uma hora que não tinha mais forças, e, quando Moisés perde as forças de estar ali sozinho e rezando a Deus, o exército vai perdendo a batalha.
Ali nós temos essas duas figuras, Aarão, o primeiro sumo sacerdote e Hur, seu colaborador, que ajudam Moisés e o seguram, colocam primeiro uma pedra para ele se sentar e descansar e, depois, seguram os braços de Moisés em posição de oração até o fim do dia, e os israelitas vencem a guerra. Nós podemos ver aqui alguns elementos que servem de guia para nossa oração, nós cristãos temos que ser pessoas de oração, Jesus disse no evangelho: "Orai em todo tempo", Jesus nos ensinou a rezar, nos deu uma oração, o Pai Nosso, nós temos que rezar! Isso faz parte do nosso ser cristão, a oração individual e a comunitária que sustenta a oração e os pedidos de cada um.
Moisés reza só, mas também é ajudado por Aarão e Hur. Na oração comunitária que sobe a Deus com o grito e a necessidade de cada um, nós ajudamos uns aos outros nas orações diante de Deus. Depois, vamos para o evangelho, Jesus insiste com os discípulos que é preciso rezar sem desanimar. Quem escreveu este evangelho? São Lucas. E quando estava pronto este evangelho? No ano mais ou menos 90 da nossa era, ou seja, 60 anos depois da morte e ressureição de Jesus.
Nós já estamos no início da terceira geração cristã, São Lucas é da segunda geração cristã, e não conheceu Jesus. A mãe dele era cristã, e como ele escreveu o evangelho? Ele era cristão e era um homem muito inteligente e capacitado, era médico naquele tempo, e começou a procurar documentos. Existiam, na época, pergaminhos que os pregadores do evangelho usavam. Tinham listas de frases de Jesus, tinham coleções de milagres, os feitos de Jesus, tinha a parte mais antiga dos evangelhos que era a narração do processo, da prisão, morte e ressureição de Jesus. Já existia o evangelho de São Marcos que estava pronto 20 anos antes, e São Lucas vai compor seu evangelho respondendo às necessidades da sua comunidade naquele momento, e um dos problemas da comunidade dos cristãos é o desanimo.
Já na primeira geração de cristãos, os que viveram com Jesus, que conheceram Jesus, eles esperavam que o fim do mundo viesse ali, imediatamente, e começa a passar um ano, dois, três, vinte, São Paulo até descreve como vai ser o fim do mundo e o encontro com Jesus nos ares. São Paulo morre, Pedro morre, outros apóstolos morrem, e o fim do mundo não chega, Jesus não volta.
A segunda geração, que já não conheceu Jesus pessoalmente, começa a ser perseguida de forma muito dura, muitos cristãos da primeira geração já tinham sido mortos. Um dos motivos foi aquele que expliquei do Kyrie, confessavam Jesus como Deus e não como Imperador, e isso bateu um desanimo no povo. Então, São Lucas pega os documentos, essa parábola de Jesus, para animar as pessoas que estão desanimadas: "olhem bem, um juiz iniquo." O que é um juiz iniquo? É um juiz corrupto que só defende os ricos, que não está nem aí para os pobres. E, não por acaso, se coloca nessa parábola uma viúva que, nos tempos de Jesus e antes dele, simplesmente era jogada às traças.
A mulher era sempre propriedade do pai, depois do marido, e, se ficasse viúva, do filho homem mais velho, e, se não tivesse filhos homens, ela passava como propriedade do parente homem mais perto, mas se esse sujeito não quisesse saber dela, era largada às traças, então é um drama desses que nós temos aqui. E essa mulher não tem outra possibilidade se não atazanar a vida desse juiz, é o único juiz que pode fazer justiça por ela, não tem outro, e ela sabe que ele é corrupto, que só defende os ricos e não está nem aí para os pobres, ela sabe, mas é o único juiz que pode fazer algo para ela.
Ela insiste muito, a ponto desse homem iniquo dizer "não aguento mais esta mulher, eu vou fazer justiça e dar logo o que essa mulher quer e me livrar disso", e Jesus diz "vocês ouviram o que esse homem iniquo fez? Ele fez justiça para a mulher de tanto que ela insistiu, e vocês discípulos, cristãos, por um acaso não acham que Deus vai ouvir vocês? Deus é bom!" Insista, reze, peça. Não desanime! O tempo de Deus não é o nosso, é outro. O que Deus pede para nós é perseverança, não desanimar até a morte. O tempo é de Deus, não é nosso.
Por que eu disse que isso aqui ajuda vocês? Quando fazemos encontro, nós recebemos uma overdose de adrenalina, por dois ou três dias vai parecer que vocês estão andando nas nuvens, parece que você vai mudar o mundo, e é no começo da segunda semana depois do encontro que começa o encontro mesmo! É quando vocês vão ter que caminhar dia a dia atrás de Jesus, é aí que serve esse evangelho, não desanime, vá adiante, continue no grupo, continue a rezar, acredite! Esse é o caminho de Deus: perseverança.
Quando não tem adrenalina mais no sangue, quando não tem um monte de gente cantado em volta de nós, quando estamos sozinhos no quarto rezando, ali é o encontro, de agora para frente é ali. Semana que vem teremos o reencontro, e quando vocês se reencontrarem, alimentem sempre essa chama da fé e do seguimento de Jesus. Se nós deixamos para lá, vai tudo "para o brejo".
Jesus diz no evangelho “na perseverança vocês salvarão as vossas vidas”, perseverar no caminho de Jesus, e isso serve para todos nós, para mim como padre, para vocês que estão há tempo no caminho do evangelho, para os nossos jovens que também estão se preparando para a crisma, perseverar, não perder nunca a esperança.
Nós rezamos o Pai Nosso, e qual o último pedido do Pai Nosso no evangelho de São Lucas? Há duas versões, uma mais curta, que é do evangelho de São Lucas, e uma mais longa que é de São Mateus, que nós rezamos habitualmente. O último pedido em São Lucas está escrito assim "não nos deixeis cair em tentação", e qual tentação? “Ah, padre, eu não posso comer chocolate e comi chocolate, cai na tentação”, não é isso! A tentação é abandonar o caminho de Jesus, essa é a tentação terrível que nós pedimos que Deus não nos permita cair nela.
Deus pede para nós: persevere! “Ah, mas eu rezo e nunca consigo nada”, continue rezando, “ah, mas estou com dificuldade na vida”, continue rezando, “ah, está dando tudo certo na minha vida”, continue rezando, cristão reza sempre! Na alegria, na dor e na hora da morte, porque nós acreditamos na vida eterna, na vida que não acaba. É por isso que nós devemos gastar nossa vida fazendo o bem, porque nós sabemos que a vida continua, portanto perseverar no bem, na oração, na justiça, na promoção da paz, porque nós cremos em Jesus.
Ontem nós comemoramos o dia das professoras, falamos das professoras porque, dos educadores, 80% são mulheres, então falamos as professoras, e os professores se sentirem englobados nesse nome. Isso é uma armadilha do português, acho que foi o Paulo Freire que foi fazer uma palestra onde tinha um auditório, e ele falava o tempo todo "minhas senhoras", o tempo inteiro. No final, ele abriu para perguntas, e qual foi a primeira pergunta que fizeram a ele? “Mas professor, porque você falou só para as mulheres?” e ele falou "me mostre na língua portuguesa a lei que diz que onde existem 500 mulheres e 1 homem, eu tenho que dizer meus senhores?" Isso não é uma lei linguística, eu posso falar para uma assembleia que tem 500 mulheres e 1 homem e dizer “minhas senhoras”, e todos estão englobados. Então, posso dizer "professoras" e englobar também os professores homens.
Vamos pedir pelos nossos professores e professoras, em um tempo tão difícil. A educação no Brasil nos últimos 4 anos está sendo devastada, mas antes já existia certa dificuldade. Que a educação seja mais valorizada, que a função dos professores e professoras seja realmente incentivada e respeitada, que a qualidade de ensino no Brasil da escola pública seja de qualidade para todos, começando pelos mais pobres e pelas periferias. Que os nossos professores possam educar e ensinar em paz, para a justiça e cultura da paz, para a busca da verdade e da cidadania.
Vamos pedir a Deus que abençoe nossos educadores e que tenham a graça de não desanimar no caminho de Jesus, não desanimar na oração!

A gratidão nos aproxima de Jesus
Pe. Oberdan Santana – 28º Domingo do Tempo Comum (09/10/2022 – Ano C) – missa às 10h
Nos textos deste 28° Domingo do Tempo Comum, nós vemos gratidão e ingratidão. Essa liturgia nos convida a reavaliarmos a nossa conduta e a sermos mais gratos, reconhecendo tudo aquilo que de Deus nós recebemos.
O primeiro exemplo que nós temos de gratidão é o de Naamã. Naamã foi curado da lepra e soube agradecer ao Senhor, mas, antes de olharmos a atitude de Naamã, vamos olhar a atitude de Deus. Naamã era sírio, ou seja, era alguém que não fazia parte do povo eleito, do povo de Deus, mas, ainda assim o Senhor o curou, revelando desse modo que o seu amor é universal, que chega a todos. O Senhor não nega a sua ajuda a quem quer que seja, desde que o procure de coração sincero. Depois, nós temos a atitude de Naamã. Naamã era um general do exército sírio, era um homem poderoso, respeitado pelo seu povo. Apesar disso, foi acometido por uma doença terrível: a lepra, uma doença que estava ameaçando a sua vida, que estava ameaçando o fazer perder tudo que ele tinha. Diante dessa situação trágica, uma das suas servas o disse que havia um profeta em Israel que poderia curá-lo desse mal e Naamã foi atrás desse profeta, desse homem de Deus. Esse profeta era Eliseu que mandou simplesmente que ele se banhasse, que ele mergulhasse sete vezes no Jordão, aqui começa o texto que nós escutamos hoje: Naamã fez o que o homem de Deus tinha mandado e, ao fazer isso, ele foi curado da lepra. Uma vez curado, ele soube voltar para agradecer, convertendo-se ao Deus verdadeiro, o Deus de Israel. É interessante nós observarmos que a cura de Naamã foi uma cura completa, o Senhor curou o corpo de Naamã que estava apodrecendo pela doença, mas também o curou da cegueira espiritual. Naamã se tornou um homem novo em todos os sentidos: na sua carne, que se tornou semelhante a de uma criancinha, e no seu espírito agora renovado, aberto para reconhecer e adorar o Deus único e verdadeiro.
Vamos pensar um pouquinho na nossa vida, na nossa caminhada, também nós precisamos ser curados de muitas doenças do corpo e da alma e somente o Senhor pode realizar esta cura completa. E para isso, então, devemos procurar o Senhor, devemos mergulhar na sua fonte de vida, na sua graça, como fez Naamã mergulhando no Jordão. A fonte da vida está aqui na Palavra que nós escutamos, na Eucaristia que nós vamos receber, no Espírito Santo que já habita no nosso peito. De muitas formas, o Senhor nos toca, nos renova, nos oferece a sua graça, mas cabe a nós aceitarmos esta graça e permitir que o Senhor nos transforme, que o Senhor nos cure, que o Senhor nos renove. E nós precisamos também ser gratos. O grande exemplo que Naamã nos dá é o da gratidão. Ele foi curado, reconheceu que isso era dom de Deus e voltou para agradecer. É interessante que, no primeiro momento, Naamã quis agradecer ao profeta Eliseu, lhe oferecendo um presente, mas depois ele se deu conta de que ele deveria ser grato a Deus e não simplesmente a um homem. Eliseu era um instrumento nas mãos de Deus. Deus é quem tinha realizado a cura, e quando se deu conta disso, Naamã, ao invés de oferecer um presente a Eliseu, ofereceu um presente a Deus. Qual foi o presente que Naamã ofereceu a Deus? A adoração. A gratidão de Naamã se transformou em adoração, em compromisso com Deus. Ele levou um pouco da Terra Santa, da Terra de Israel para Damasco, para a Síria, para adorar sobre essa Terra o Deus verdadeiro. A partir daquele momento, Naamã iria dirigir toda a sua vida ao Deus de Israel, ao Deus que o tinha libertado, essa seria a sua resposta de gratidão. E essa é a resposta que o Senhor espera também de nós, que nós sejamos mais gratos, que saibamos reconhecer que aquilo que temos vem de suas mãos generosas de suas mãos abertas e que saibamos voltar mais a nossa vida para Deus.
E nós temos ainda neste texto o exemplo de Eliseu. Este texto é realmente belo, traz muitos ensinamentos. Vejam que Eliseu não aceitou o presente de Naamã. Ele não cobrou pela cura, ele não aproveitou daquela cura em benefício pessoal, ao invés disso, ele fez com que Naamã voltasse o seu coração mais para Deus, a quem ele deveria ser grato de fato. Então, Eliseu nos ensina algo muito importante, que todos nós somos instrumentos nas mãos de Deus. O bem que nós fazemos só é possível porque o Senhor nos concede os seus dons, então, ao invés de nos colocar nos holofotes, nós devemos fazer o possível para que Deus seja mais louvado, para que Deus seja mais glorificado. Ao invés de que a gratidão seja dirigida a nós, aos homens, em primeiro lugar deve ser dirigida a Deus, porque se não fosse pelo Espírito de Deus, nós seríamos instrumentos sem vida e sem utilidade. É o Senhor que age em nós.
No Evangelho, por sua vez, nós temos aí a gratidão de outro pagão, um samaritano leproso que foi curado por Jesus e voltou até Jesus para dar glória a Deus. Mas, nós vemos aí também a ingratidão, porque esse que voltou não tinha sido curado sozinho, ele tinha sido curado com mais nove, que não voltaram para agradecer que foram curados e simplesmente seguiram o seu caminho. Da parte de Jesus, nós vemos um amor universal, um amor que se derrama sobre todos. Dez pediram a compaixão de Jesus e os dez foram atendidos, os dez foram curados. Jesus não fez nenhuma diferenciação, atendeu o pedido dos dez da mesma forma, mas a resposta foi diferente, somente um soube ser grato, somente um soube voltar a Jesus e ao voltar a Jesus, ele recebeu um dom ainda mais precioso: “levanta-te e vai, tua fé te salvou.”. Olha só, vejam como é interessante isso, dez foram curados da doença física, mas somente um foi salvo pela fé, somente um foi verdadeiramente transformado como Naamã, porque somente um soube acolher com humildade e gratidão a salvação oferecida por Jesus. Os outros nove seguiram seu caminho curados, mas não verdadeiramente salvos, porque a salvação só se alcança permanecendo com Jesus, voltando constantemente a Jesus. Quem quer caminhar sozinho, quem tem essa ilusão, não alcança a salvação. É preciso voltar-se para Jesus.
Então, meus irmãos e minhas irmãs, a palavra de Deus nos faz um apelo, estejamos atentos, saibamos reconhecer aquilo que Deus nos dá e sejamos gratos. É na gratidão que nós abrimos o coração para que o Senhor continue em nós a sua obra. Às vezes nós somos muito ingratos e, mesmo orgulhosos, recebemos uma graça, recebemos algo bom e seguimos o nosso caminho, ignorando que a fonte é Deus. Às vezes, nós nos iludimos, achamos que tudo aquilo que nós temos é fruto do nosso trabalho, é fruto do nosso esforço. Sim, nós nos esforçamos, nós trabalhamos, mas, em primeiro lugar, está aí a mão de Deus. Sem a força de Deus conosco nada seria possível. Então, tomemos cuidado para que o nosso coração não seja tomado pela cegueira, para que não deixemos de perceber esta presença de Deus que vela por cada um de nós. Quando não conseguimos enxergar a presença de Deus, nós deixamos de enxergar a vida como presente, como dom, como graça e uma vida que não é graça, torna-se desgraça, perde o sentido. Então, abramos o nosso coração a Deus pela gratidão.
É nesse sentido que São Paulo nos adverte na segunda leitura de hoje: “lembra-te de Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos”. Aí está o que nós devemos fazer, lembrar-nos de Jesus Cristo que morreu por nós na cruz. E quando nos lembramos de Jesus Cristo, o nosso coração se enche de gratidão e a nossa vida se abre mais para Deus que quer nos salvar. Até aqui o Senhor nos libertou, até aqui o Senhor nos curou, mas daqui em diante, o Senhor quer fazer mais, o Senhor quer nos salvar. Não basta uma graça ou outra graça, não basta uma cura ou outra cura. Nós precisamos ser salvos. E para isso devemos sempre nos lembrar de Jesus, caminhar com Jesus. Então, como São Paulo, também como esse leproso de que fala o evangelho, que foi curado e salvo, que nós não nos esqueçamos da presença de Jesus em nossa vida. Que nós nunca duvidemos da misericórdia de Deus que nos alcança no seu Filho muito amado. Este é o grande convite que a Palavra nos faz hoje, que seja maior a nossa gratidão. Então, ao escutarmos esta Palavra, ao recebermos a Eucaristia, que brote de nossos lábios, que brote de nosso coração, que bote da nossa vida o louvor santo que Deus merece.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado!

Privilégio é poder seguir o chamado de Deus
Pe. João Aroldo Campanha – 27º Domingo do Tempo Comum (02/10/2022 – Ano C) – missa às 10h
São Lucas é um ótimo escritor e aqui ele tentou costurar duas falas de Jesus, mas a costura não ficou muito boa. Nós temos dois ditos de Jesus aqui. Temos que lembrar que Jesus está subindo, estão indo para Jerusalém, e os discípulos começam a ficar preocupados sobre o que vai acontecer lá. Então, eles pedem “aumenta a nossa fé porque a porca pode torcer o rabo”, e Jesus diz “olha, se vocês tivessem fé como semente de mostarda, vocês diriam a esta amoreira ‘joga-te no mar’ e ela obedeceria”.
Vamos entender bem essa coisa: primeiro, mostarda, sem entender isso começamos a fazer um monte de bagunça. Mostarda lá não é a mostarda daqui, entenderam? Lá, a mostarda é um tipo de cacto, você planta no teu jardim, no teu terreno, e a semente parece pó, é um tipo de cacto. Dá para entender bem com as nossas samambaias, não é? samambaia não tem aquele monte de pozinho? Aquilo é semente de samambaia, se achar um lugar propício, ela nasce. Mesma coisa a mostarda, só que tem uma coisa, a mostarda é um tipo de cacto e ela cresce, e é uma planta tão esquisita que as codornas fazem ninhos por baixo dela. Por isso, Jesus diz: “as aves do céu fazem nela seus ninhos”. A gente pensa numa árvore em que as codornas vão fazer ninho lá em cima, mas não é lá em cima, é por baixo, ela esparrama. É uma planta muito, muito, muito difícil de matar! Você corta, você arranca, mas nasce de novo, é um negócio fabuloso.
Fé aqui é perseverança. Como eu mostro que tenho fé? Mostro pelas minhas atitudes. Perseverar no bem, perseverar no amor, todo dia de novo, mesmo sendo perseguido, mesmo tendo dificuldades, perseverar no caminho de Jesus, isso é ter fé.
E essa amoreira? Sem fundamento essa amoreira no meio do nada. Essa amoreira significa Jerusalém, não a cidade santa, mas a cidade das trevas. Jerusalém é o lugar em que estão aqueles que vão destruir e matar Jesus, onde está concentrado um poder que não ajuda o povo a viver como irmãos, mas, o lugar que mata e exclui pessoas, isso tudo em nome de Deus. Então, o que Jesus fala? “Reze com fé que a amoreira vai se jogar no mar”, mas Jerusalém está tão longe do mar, que mar é esse? Vai lá no meio do Mediterrâneo? Não. O mar aqui significa o caos, a destruição, o mal. Quando nós vemos lá no livro do Apocalipse que existe diante do Trono de Deus o mar de fogo, é o mal para mostrar que Deus está acima disso, que isso para Deus não é um problema. Reze com fé e as forças do mal vão se destruir no caos, essa é a primeira parte da fala de Jesus.
Nós temos a mentalidade dos privilégios, e, na segunda parte, Jesus está falando para discípulos. Mais de uma vez esses discípulos vão perguntar “quem é o mais importante de nós?” Dois, inclusive, vão lá pedir a Jesus para se sentarem um à sua direita e outro à sua esquerda, ou seja, ser os dois ministros mais importantes do reino. Ou seja, não entenderam nada! Jesus dá rasteira, não é esse o caminho, e o fato de seguir Jesus não faz de ninguém melhor que os outros, cuidado! Jesus está falando para os discípulos e discípulas.
Nós não podemos chegar para Deus e exigir dele coisas porque nós fomos seus servos aqui neste mundo. Jesus vai dar essa imagem desse empregado que trabalha o dia inteiro, chega em casa, prepara a comida para o patrão, e, só depois que o patrão come, é que ele vai comer, mas esse é o dia a dia do empregado. O patrão vai agradecer “ah, muito obrigado por ter ido capinar”? Não! “Eu paguei, você foi. Tenho alguma obrigação? Nenhuma, eu não tenho que agradecer o empregado.” Lógico que temos que pensar que isso é a mentalidade de dois mil anos atrás! O empregado não pode exigir do patrão um elogio porque trabalhou o dia inteiro.
Jesus está dizendo exatamente a mesma coisa para nós, discípulos: vocês não são melhores que os outros, vocês não são privilegiados ou vão receber privilégios. O vosso empenho é um empenho de serviço, de caminho, de crescimento humano. Onde Jesus chega ao auge do seu crescimento humano? Lá na cruz. Esse é o serviço que Jesus prestou para a humanidade, no mais baixo que se podia descer.
Os discípulos têm que ser assim e nem por isso se achar melhor que os outros, porque quando você se acha melhor que os outros ou merecedor de algo a mais, você começa a fazer exatamente o que os fariseus faziam, excluir pessoas. “Ó, aqueles ali não prestam, aqueles ali vão para o inferno, aqueles ali estão fora do caminho.” Nós não podemos fazer isso, porque nós, diante de Deus, somos irmãos e irmãs. Não temos privilégios, não fizemos mais que nossa obrigação, ouvimos o chamado de Deus e seguimos esse chamado. Não somos melhores que os outros. O chamado de Deus é uma graça feita sem os nossos méritos, Deus o faz por pura bondade.
Vamos pedir ao Senhor que nós possamos corresponder sempre ao seu chamado, sempre, e nunca nos julgar melhores que os outros porque fizemos aquilo que o Senhor mandou.

Ser grande é ser pequeno
Pe. João Aroldo Campanha – Festa de Santa Teresinha (01/10/2022 – Ano C) – missa às 18h30
Esse evangelho pode parecer um pouco estranho. Os discípulos perguntam para Jesus: quem é o maior no Reino? Isso indica a nossa mentalidade. Nós vivemos vendo o mundo através das pessoas famosas, das pessoas ricas, das pessoas poderosas, de quem consegue privilégios, esses são os valores do mundo. E os apóstolos estão dentro dessa mentalidade. Quem é o maior? Lembram que eles estavam discutindo uma vez quem dentre eles era o maior? Mas Deus pensa do avesso. Então Jesus chama uma criança. A criança no tempo de Jesus não tem o Estatuto da Criança, ela é propriedade do pai, não tem direito nenhum, o pai pode inclusive vender a criança como escravo para pagar dívidas. Então o pai dispõe de vida e de morte – o pai e não a mãe, nós estamos no mundo patriarcal. É muito estranho que Jesus coloque exatamente uma criança como modelo do Reino. No Reino, não se reivindica direitos, não se procura quem é o melhor entre nós. No Reino de Deus, se serve. No Reino de Deus, não se procura privilégios, porque para Deus somos todos irmãos e irmãs.
Mas tem outro elemento que é a disponibilidade da criança a aprender. A criança não sabe, ela ainda não estudou. E nós temos que pensar em dois mil anos atrás, não tem internet, não tem celular, não tem escola pública – se bem que no mundo hebraico, os meninos estudavam alguns rudimentos de leitura com o rabino ao lado da sinagoga para mais tarde, quando fizessem 12 anos, eles iam poder ler na escritura, fazer a leitura no sábado. Só os meninos, mulheres não aprendiam a ler. Então a criança aprende, porque está com o coração vazio. E a criança aprende tudo de bom e de mau que os pais, os amigos e a sociedade transmitem para essa criança. Nós, adultos, pensamos ‘eu já sei’, ‘eu conheço’. Quando você às vezes vê uma coisa nova, logo diz ‘mas a minha avó dizia assim’, ‘eu aprendi assim’ e você nunca questiona se o que você aprendeu tem sentido. Às vezes não tem sentido, mas você repete e vai vomitando na sua vida ensinamentos que muitas vezes não tem pé nem cabeça. ‘Mas os antigos faziam assim’ e quem disse que estavam certos? ‘Ah, mas os profetas faziam assim’ e quem disse que estavam certos? ‘Mas o costume do povo é esse’ e quem disse que estava certo? Só quem tem a capacidade de se perguntar sobre esses valores que nos foram dados é capaz de começar a escutar Jesus. Porque é Jesus quem vai nos dizer e mostrar o que é certo, o caminho. Só Ele, porque Ele é a revelação do Pai com suas palavras e suas ações. Por isso, o discípulo e a discípula de Jesus têm que realmente se colocar numa atitude de criança, que aprende porque não sabe. Um dos grandes pensadores da antiguidade grega dizia “sei que não sei”, esse é o caminho da sabedoria. E Jesus nos ensina esse caminho, porque é Ele quem vai colocar os tijolos de uma mentalidade nova. Jesus vai quebrar os nossos preconceitos, os nossos ódios, as mentiras que nos ensinam e que nos ensinaram.
Teresinha entendeu isso muito bem e uma das coisas que ela aprendeu é que o caminho de Jesus se faz no dia a dia ordinário de nossa vida. Ela descobriu isso no dia a dia da vida do mosteiro com suas irmãs, com as outras monjas. É na vida do dia a dia. É na vida comum da mãe de família, na vida comum do pai, na vida comum dos trabalhadores e trabalhadoras, na vida comum do nosso dia a dia. Ali nós nos santificamos. Ali nós seguimos ou não Jesus. E muitas vezes esse caminho é um caminho que passa pelos outros quase despercebido, bem diferente da mentalidade do nosso tempo que todo mundo quer ter um milhão de likes no Facebook ou então fica fazendo um milhão de selfies para dizer que é bonito. Esses são antivalores. Teresa nos diz que o caminho é o serviço, o caminho é ser pequeno, o caminho é enfrentar a vida do jeito que ela vem: dor, sofrimento, morte, doença, alegrias, realizações, esperança, sonhos, trabalho. São nessas coisas. Enfrentar tudo isso olhando o caminho de Jesus: essa é a pequena via de Santa Teresinha.
É interessante ver que Teresinha lia – no mosteiro, geralmente, a gente estuda muita coisa – e ela dizia em seus escritos: ah quando eu começo ler esses santos muito grandes não entendo nada, me cansa, então eu vou para a escritura, a linguagem do povo de Deus, a palavra simples dita para nós. Então ela fala: aí sim, se ilumina tudo. Ela não está desprezando a ciência, mas ela está se colocando no caminho do dia a dia sem querer ser grande. A desgraça do nosso mundo é que todo mundo quer ser grande e isso não nos faz crescer, não nos faz humanos.
Vamos pedir a Santa Teresinha que reze por nós para que nós possamos realmente aprender que a santidade passa pelo nosso dia a dia e que nós temos que ser grandes aos olhos de Deus e não para os valores e antivalores deste mundo

Alcançar o verdadeiro amor a Jesus
Homilia: Pe. Rodolfo Cabrini (Paróquia Santa Ediwiges) - 3º Dia do Tríduo de Santa Teresinha - 30/09/2022 - missa às 19h45)
Vamos meditar as palavras do santo evangelho de hoje, a leitura que nós ouvimos, o salmo que meditamos, mas, também, hoje o dia de São Jerônimo e o dia da morte de Santa Teresinha e toda a nossa motivação para celebrar a padroeira. Deus sempre cuida de nós e Deus nunca nos abandona porque ele nos ama. Além disso, Ele também nos mostra Seu amor e mostra que cuida de nós e não nos abandona, são sinais de Deus que, às vezes, por causa das nossas preocupações, da nossa correria, deixamos de perceber. Quantas vezes Deus falou conosco mas não o escutamos? Quantas vezes Deus mostrou o Seu poder e Sua misericórdia, mas não enxergamos?
Exatamente isso que Jesus no evangelho de hoje [Lc 10, 13-16] está entristecido com Corazin, Betsaida, Cafarnaum. Que ele não se entristeça conosco, com aqueles a quem ele amou e realizou tantas graças e tantos milagres. Quando nós celebramos uma santa assim tão poderosa na intercessão como é Santa Teresinha, nós não podemos fechar os nossos olhos de ver quantas graças Deus já concedeu através dela desde quando ela esteve nesse mundo até hoje. Nós não podemos fechar os olhos e não ver essas graças de Deus que são derramadas na vida dos santos para o bem da humanidade. São muitas graças, são muitos milagres, e cada um de nós pelo menos um milagre já testemunhou, tenho certeza de que você já pôde ver com seus olhos, sentir a ação de Deus.
Quando recebemos um milagre de Deus, esse milagre não é só para nós, é para que, através de nós, outras pessoas se convertam, busquem e confiem em Deus. Desde o início as comunidades cristãs se testemunhavam nos milagres que as pessoas recebiam porque é através dos milagres que os corações das pessoas mudam, se transformam. Deus permite e quer que milagres aconteçam para que, através deles, as pessoas não desistam da difícil caminhada nessa terra.
Por isso Santa Teresinha tinha o grande desejo de passar o céu fazendo o bem sobre a Terra e fazer chover uma chuva de rosas, ou seja, de graças e mais graças recebidas por sua intercessão, já que ela também provou de tantas dificuldades. Nós ouvimos hoje um trecho do livro de Jó [Jó 38, 1.12-21; 40, 3-5] de um homem que experimentou o sofrimento, perdeu muita coisa, só que não perdeu sua fidelidade a Deus! Podemos perder tudo nessa vida, só não a fé.
Podemos passar por momentos muito difíceis, mas a nossa confiança em Deus nunca pode se abalar. Ou confiamos, ou desesperamos. As coisas não se combinam: ou você confia ou você desespera. Nós optamos por confiar e sabemos que Deus toma conta de tudo, Ele cuida de tudo e de cada detalhe da nossa vida, tudo está aos cuidados de Deus.
O que nós aprendemos, então, com Santa Teresinha? Pensei nessa reflexão para ajudar vocês a se prepararem para o dia de amanhã, tenho certeza de que todos vocês participarão da Festa de Santa Teresinha! Precisamos relembrar algumas coisas, e no que é que Santa Teresinha nos ajuda? Ela morreu com apenas 24 anos, teve uma grande influência em todos aqueles que a conheceram. O modo santo como a pequena flor, assim conhecida, levou a vida e a sua relação com a família, com os amigos, nos serve de inspiração. O modo de viver de Santa Teresinha é a nossa inspiração e, mais do que isso, o seu exemplo pode nos ajudar a enfrentar com sucesso algumas situações complicadas no dia a dia.
Em primeiro lugar, Santa Teresinha nos ensina a gerenciar as adversidades. Será que tudo acontece como nós planejamos, como queremos? Claro que não. Muitas coisas fogem do nosso controle, nos planejamos de um jeito, mas, depois, as coisas vão se enrolando e se complicando. E aí, o que eu faço quando as coisas não saem do meu jeito? Eu me entristeço, me ponho a murmurar, me revolto? Não! Santa Teresinha nos ensina a gerenciar.
O que um gerente de uma loja de móveis faz? Ele entende as situações ali vividas e encontra maneiras de fazer com que aquela loja tenha prosperidade. Ele vai ver se o movimento está fraco e fazer uma promoção, vai cuidar dos problemas entre os funcionários, vai ver o que precisa melhorar na estrutura daquela loja, e vai atrás disso e daquilo. Ele se desgasta para fazer o melhor e dar o melhor de si, então nós também precisamos aprender a gerenciar as nossas adversidades.
Se tudo não sai do jeito que queremos, como planejamos, como naquele momento queríamos, e ainda bem que não sai porque já planejamos tanta coisa que não presta, mas Deus nos ajuda a gerenciar. Há coisas que resolvemos com palavras, há coisas que resolvemos com o tempo. Nem tudo resolvemos no grito! Há coisas que precisamos simplesmente confiar e esperar.
Segundo, Santa Teresinha nos ensina a lidar com o aborrecimento. Acho que todo mundo aqui já ficou aborrecido com alguma coisa, com alguém ou consigo mesmo, é bastante normal. Santa Teresinha também nos ensina a lidar com aborrecimento, pois ela nem sempre foi muito paciente. Ela escreveu sobre uma freira que a irritava durante a oração da noite, no entanto, Santa Teresinha baseou-se na sua forte fé e nos sábios ensinamentos da Bíblia para reverter esse aborrecimento. Sempre haverá quem nos aborreça, mas precisamos aprender a lidar!
Depois, Santa Teresinha também fala de encontrar o amor nos outros, a terceira lição: encontrar o amor. Devemos amar o próximo, mas nem sempre isso é fácil. Santa Teresinha tinha a capacidade de sempre colocar os outros antes de si mesma, ela era capaz de mostrar o verdadeiro amor cristão. A nossa vida não pode ser apenas de conviver com pessoas do nosso interesse, só me aproximar de quem vai me trazer algo bom, só me aproximar de quem vai me fazer feliz, vai me fazer melhor.
Temos que aprender também a encontrar o amor naquelas pessoas que aparentemente não vão nos oferecer nada, mas ali eu encontro amor porque aquele outro é meu irmão, é filho de Deus, e Jesus morreu por aquela pessoa. Mesmo que aquela pessoa aos olhos dos outros não preste, Jesus morreu por ela, então eu preciso encontrar o amor de Jesus nas pessoas. Quando não gostarmos de alguém, pensemos nisso: Jesus morreu por essa pessoa. Se eu não consigo concordar com o que ela faz, que eu encontre o amor de Jesus nela.
Santa Teresinha também nos ensina a lidar com a doença. Na adolescência, Santa Teresinha teve que lidar com a gripe russa que se espalhou pela Europa e atingiu seu convento. Ela desempenhou um grande papel ajudando suas irmãs doentes, e teve que testemunhar a morte daquelas que amava e com quem orava. Mesmo no meio das tristezas, conseguiu encontrar paz. Realmente, ao longo da nossa vida, temos que nos despedir de pessoas que amamos e que jamais gostaríamos. Tenho certeza de que muitos de vocês já se despediram de algum familiar, amigo que hoje não está mais junto de você, e esse momento é de tristeza, mas para quem crê na ressurreição, na vida eterna, é preciso encontrar paz até mesmo na doença, até mesmo na morte.
Nós temos que aprender com Santa Teresinha a enfrentar o medo da morte. Ela mesma, em momentos da sua vida, falava sobre sua morte. A carmelita morreu de tuberculose aos 24 anos de idade no dia de hoje, dia 30 de setembro. Pode parecer triste ouvir sobre uma bela jovem que morreu tão cedo, no entanto, esperava pelo dia em que morreria. No fim de sua autobiografia estão algumas de suas declarações sobre a morte, então, até a morte de Santa Teresinha serviu de lição para todos nós, que saibamos também lidar com o momento da nossa partida.
Essas são algumas lições que Santa Teresinha nos ensina e nos prepara para celebrar sua Festa. Ela era uma pessoa humilde, e algumas de suas frases vão nos ajudar a entender a humildade. Eu trouxe algumas, dentre muitas, disse Santa Teresinha: “ficar pequeno é reconhecer o próprio nada, tudo esperar de Deus, não se afligir com as faltas, pois as criancinhas se caem muitas vezes; por serem pequeninas, pouco se machucam.” “Faço como as crianças que não sabem ler, digo a Deus simplesmente o que desejo dizer-lhe sem palavras bonitas, e Ele me compreende.” “Ocupemos o último lugar, ninguém brigará conosco por ele.” São frases que nos inspiram, também, a buscar a humildade, não precisamos nos sentir maiores do que ninguém.
Santa Teresinha também escreveu frases e pensamentos sobre a confiança, ela disse: “nunca é demais a confiança no bom Deus tão poderoso e tão misericordioso. Como é grande o poder da oração, poderíamos compará-la a uma rainha que tem sempre entrada franca junto ao rei e consegue tudo o que pede. Jesus não exige grandes obras, apenas confiança e gratidão.” Nós não precisamos nos preocupar em fazer grandes coisas pelas quais seríamos reconhecidos por todos, a importância de grandes coisas construídas com nossas mãos para Santa Teresinha diante de Jesus é que basta confiança e gratidão, essas são nossas maiores obras.
Santa Teresinha também escreveu sobre o abandono, ela disse: “eu sou a bolinha do menino Jesus, que ele faça de mim o que quiser, brinque à vontade com sua bolinha. Se quiser me atirar a um canto abandonado, serei feliz, contanto que ele queira. Não me amedronta ter que sofrer por vós, escolho tudo que vós quereis.”
E, por fim, algumas frases de Santa Teresinha sobre o amor a Jesus: “o Senhor não precisa de nossas obras, e sim do nosso amor.” “O sofrimento unido ao amor é a única coisa que me parece desejável neste vale de lágrimas.” “Amemos a Jesus a ponto de sofrermos tudo que ele quiser, mesmo a aridez e frieza. É sublime o amor de Jesus sem as alegrias da doçura desse amor. É um martírio, pois bem, morramos mártires! “Amar aos pés da cruz é mais belo e heróico do que amar nos esplendores do Tabor, é ali que se prova o verdadeiro amor.”
Que Santa Teresinha possa nos inspirar a viver a humildade, a confiança, o abandono para alcançarmos o verdadeiro amor a Jesus. Desejo de todo o meu coração que vocês possam viver o dia de amanhã com grande alegria, com muita fé, e que, pela intercessão dessa santa, todos vocês possam crescer espiritualmente, e crescer espiritualmente é crescer no amor a Jesus.
Hoje, inspirados por São Jerônimo que nos fala tanto da palavra de Deus como um verdadeiro tesouro, nós temos, além da palavra de Deus, os frutos dessa palavra que são as vidas dos santos. Eles são santos porque levaram a sério a palavra de Deus.
Sejamos como Santa Teresinha, levemos a sério também a palavra de Deus. Amém

Celebrar os Santos Anjos mensageiros de Deus
Homilia: Pe. Cleidson Pedroso (Paróquia Santa Maria Goretti) - 2º Dia do Tríduo de Santa Teresinha - 29/09/2022 - missa às 19h45)
Celebramos com toda a igreja a festa dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael. Por que 29 de setembro? Apenas uma curiosidade preliminar, uma vez que a data de comemoração litúrgica de um santo normalmente é ligada a algum aspecto de sua vida, seja nascimento, sua morte, sua conversão. No caso dos anjos, que não possuem nada disso, é justamente por causa da dedicação de uma basílica, cujo patrono é o São Miguel Arcanjo em Roma no século V, então, a partir dali, no martirológio, é colocada esta data e, desde o século V, a igreja celebra no dia 29 de setembro a festa dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.
Como eu dizia inicialmente, são os únicos nomeados nas Sagradas Escrituras. Não há um número exato de quantos anjos existem, mas estes três são apresentados particularmente em algumas passagens, especialmente dos evangelhos, é claro, em alguns momentos do livro de Tobias, do Profeta Daniel e do Apocalipse de São João. São citações espalhadas ao longo tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, mas se nós notarmos bem, os textos não são diretamente ligados às figuras dos anjos. Isso é interessante porque vai de encontro àquilo que é a vocação do serviço dos anjos na estrutura da criação daquela que é a proposta de Deus, porque os anjos são espíritos que manifestam as potências do próprio Deus, aquilo que Deus é.
Então, quando falamos de Rafael, Deus cura, a cura vem através de Rafael, mas é a ação de Deus que é a potência e a capacidade de Deus curar o ser humano, transformar a vida, devolver a saúde, livrar da doença. Assim, ao longo de toda a escritura, nós vamos encontrar justamente esta manifestação. E os anjos são sinais enviados aos homens, por isso a tradução da palavra é anjos, e significa justamente "mensageiro" porque ele traz uma mensagem de Deus a nós.
É importante saber de tudo isso porque é muito preocupante quando os anjos se tornam objetos de superstição, isso a gente vê à torto e à direito por aí. Lembro-me de quando eu era criança assistindo desenhos animados, e sempre passava no intervalo um comercial dizendo "você quer saber qual é a mensagem do seu anjo para você? Então ligue e o vidente vai passar a mensagem do seu anjo para você." Entrava mais ou menos na onda dos horóscopos da vida, não é? Isso preocupa porque tira da essência aquilo que é a verdadeira devoção aos anjos que a igreja proclama e promove, inclusive não só na festa de hoje, mas logo mais estaremos também celebrando a memória dos anjos da guarda.
A igreja fala da presença dos anjos porque a escritura demonstra em verdade de fé a existência dos anjos, mas nunca colocados num aspecto mágico, supersticioso. Eu tenho sempre alertado para tomarmos esse cuidado para que não entremos nessa lógica perigosa porque nós perderemos o essencial, pois os anjos por si não são nada, eles necessitam de Deus e à Deus eles sempre nos remetem, sempre nos levam a contemplar a face de Deus.
A primeira leitura que nós ouvimos, que fala dessa batalha de Miguel e dos anjos contra o dragão, o diabo, a antiga serpente nesta imagem do apocalipse de São João na verdade tem um destino, a batalha não é o foco, o mais importante é a proclamação da vitória de Deus e da vitória daqueles que são de Deus. Os anjos manifestam sempre isso, a ação de Deus e a transformação que Deus quer realizar na vida de cada um de nós, então recorremos aos anjos para serem verdadeiros condutores que nos levam a contemplar a graça de Deus, a contemplar a presença e a ação de Deus na vida de cada um de nós.
É importante manifestar isso para que, assim, não percamos o foco daquilo que é essencial. Na verdade, a própria devoção aos santos nos remete também a esta realidade, o Padre Marcelo Rossi costumava brincar certa vez dizendo que "os santos são como as setas, apontam o caminho que devemos seguir”. Você pega uma rua e não sabe para onde ela vai, tem sempre uma placa que mostra a velocidade, a direção, se pode parar ou não, se tem alguma obstrução, enfim, os santos e os anjos nos apontam sempre para Deus, e nós devemos buscar a Deus nessa manifestação da presença de Deus em nossa vida através dessa intercessão que se torna uma oração constante.
Os anjos velam a face de Deus, como o livro do profeta Daniel e o próprio Apocalipse de São João vão nos mostrar, os anjos estão ali diante de Deus, elevando a Ele os seus louvores e proclamando a grandeza do Senhor, justamente demonstrando aquele que é o foco para o qual os nossos olhos, nosso coração e nossa vida devem estar voltados. É Ele que é a fonte e princípio de todas as coisas, e os anjos manifestam justamente essa certeza, por isso Deus envia seus anjos, para conduzir seu povo ao encontro de suas promessas.
Miguel tem esse papel, por isso o profeta Daniel utiliza a expressão de que Miguel é o protetor do povo de Deus, justamente para nos ajudar nas batalhas que devemos vencer, e a vitória sempre nos é garantida por causa do amor d’Aquele que nos chamou. Então, Miguel vem como esse sinal da vitória de Deus presente em nós bastando abrir apenas o nosso coração para acolhermos essa certeza, porque Deus nunca está distante de nós, Ele não é alheio à nossa história e à nossa vida, e os anjos demonstram isso.
Quando lemos o livro de Tobias, que é um livro magnífico, texto maravilhoso, e se você não leu ainda, faça essa experiência, é bem curtinho, mas é uma história tão empolgante e encantadora, gosto sempre de indicar inclusive para as crianças, vamos que ali fala das peripécias das situações difíceis que Tobias e Tobit passam. Ali, nos momentos de indecisões e dificuldades, Deus envia Rafael para se tornar companheiro de viagem do filho de Tobias e curar depois o próprio Tobias daquela doença que ele tinha nos olhos.
Não é o poder do anjo, meramente, mas é a graça de Deus que enviou aquele mensageiro para demonstrar que Deus não ia deixar a Sarah, que depois se torna nora de Tobias, e o próprio Tobias entregues aos sofrimentos que eles carregavam. Deus não vai nos deixar entregues, e os seus anjos significam justamente isso, essa presença d’Aquele que cuida e zela por nós. Deus é o guarda do seu povo como canta o salmista em diversos lugares, e essa verdade é proclamada para demonstrar que é a Ele que nós devemos recorrer e, claro, Ele não vai nos desemparar.
Por isso elevamos a Deus o nosso coração e a nossa oração e pedimos a intercessão dos anjos, e a nós Ele fala. Então, aparece a figura de Gabriel, justamente para demonstrar a força de Deus que vai transformar nossa história, pois a palavra Gabriel significa força de Deus, justamente aquele que vai transformar. Nos anúncios que ele faz, primeiro antes de Zacarias e Maria, no livro do profeta Daniel, é Gabriel que proclama as coisas que vão acontecer. Não como uma previsão do futuro, isso não é mágico como falo, mas justamente para mostrar que Deus vai conduzir a história do seu povo, não o deixando se perder ao longo do caminho e a salvação acontecerá.
Por isso, no ápice da história, no momento certo, Deus envia Gabriel novamente para anunciar a Zacarias o nascimento de João Batista que será o precursor à aurora, como cantamos no Benedictus, o cântico de Zacarias. A aurora que precede o nascer do sol da justiça, que é o próprio Jesus, e é por isso que Gabriel vai a Maria também anunciar o nascimento do Messias, trazendo esta alegria a todos nós para mostrar, mais uma vez, que Deus não nos abandona e que a vitória é certa.
Irmãos e irmãs, celebrar Miguel, Gabriel e Rafael é justamente proclamar esta certeza, por isso que a igreja nos convida a cada ano, trazendo esta festa para nossa celebração, justamente esta recordação e memória que Deus está ao nosso lado, que Deus não nos abandona. Essa grande certeza nós somos convidados a acolher no coração, principalmente nos momentos difíceis que passarmos. Muitas vezes podemos estar passando esse momento difícil agora, nas dificuldades tantas que enfrentamos, desemprego, saúde, problemas nas nossas famílias, problemas em nossos relacionamentos, enfim, não importa a situação que seja se nós clamamos ao Senhor.
Voltando apenas nesse pequeno ponto da história de Tobias, quando Deus envia o anjo Rafael? Justamente quando a oração de Tobias e de Sarah chegam aos ouvidos de Deus. Então, naquele momento, os dois elevaram a Deus suas preces e, no mesmo instante, Deus enviou o seu anjo para libertá-los. Assim, a história continua, justamente para mostrar que basta elevar a Deus a nossa oração.
Não nos desesperamos, porque os anjos estão aí justamente para nos mostrar que a esperança é o sentimento que devemos trazer em nosso coração e sempre confiar a Deus a nossa vida, na certeza de que Ele vai nos libertar, de que Ele caminha conosco e de que Ele acompanha nossos passos.
Peçamos a intercessão de São Miguel, São Gabriel e São Rafael e de nossa querida Santa Teresinha que, como ouvimos, era devota quando criança, e toda criança tem esse carinho especial. Uma das primeiras orações que aprendemos quando criança inclusive é a oração dos anjos da guarda, não é? Antes mesmo até de conhecer o Pai Nosso em detalhes, de saber o Salve Rainha em todas as suas expressões, o "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa e me ilumina", nós trazemos no coração desde cedo, cultivando esse carinho, esse amor e essa certeza de que Deus nos envia os seus anjos!

Momento e compromisso com Deus
Homilia: Pe. Jadeilson da Silva (Paróquia Santo Antônio) - 1º Dia do Tríduo de Santa Teresinha - 28/09/2022 - missa às 19h45)
É graça de Deus o que ouvimos no Salmo hoje, e respondemos a liturgia com a resposta ao Salmo. Alguém lembra o que cantamos na resposta? “Chegue até vós, Senhor, nossa oração.” Que a nossa oração chegue a Deus. Por que respondemos isso? Por que estamos dizendo que a nossa oração precisa chegar a Deus? Porque na primeira leitura vemos que escutamos questionando Deus. Não fazemos isso? Às vezes acabamos cometendo o erro de questionar Deus, nos pegamos pensando ou dizendo “Senhor, por que comigo?”, “Senhor, só comigo?”, e começamos questionando a Deus “por que isso está acontecendo na minha vida?” ou “tira isso da minha vida que está de cabeça para baixo, por que Deus está fazendo isso comigo?”.
Alguém acha que Deus quer o nosso mal? Em momento nenhum, se Ele quisesse o nosso mal, Ele não teria mandado seu filho para o alto de uma cruz. É assim o amor de Deus por nós, um amor de cruz! Colocando seu próprio filho no alto de uma cruz porque muito nos amou. Então, Deus não nos quer mal, não nos quer sofrendo, não nos quer tristes. Por que acontece isso? Porque o mundo oferece, não é Deus. O mundo oferece tribulações, sofrimentos, e aí vem um detalhe: nós aceitamos! Assumimos para nós o que o mundo oferece e não temos forças para vencer.
Os problemas aparecem em nossas vidas todos os dias. Se formos olhar para as nossas vidas, todo dia há algo novo para reclamar, não é?! Mas se pararmos para ver, olhar no espelho mesmo e ver o que temos de bom em nossas vidas, veremos que o que reclamamos é tão pequeno. Olhe mais para a sua vida e agradeça mais porque esse Deus é maravilhoso demais conosco. A maior graça que Ele fez hoje na tua vida é você estar aqui, ou seja, você está vivo, está viva! Quantos se deitaram e não se levantaram mais? São muitos, então comece a agradecer mais a esse Deus, comece a reclamar menos das tribulações, enfrente-as!
Eu fiquei três meses com uma dor na perna, fui para a formação do clero em maio, cheguei na formação, fui me levantar, senti uma fisgada na coluna e, quando cheguei em casa, a perna já não funcionava mais. Era dor que eu nunca vi igual, e o médico falou: “só sabe o que é a dor de coluna quem passa por ela.” A minha tomou a perna esquerda inteira porque uma hérnia apareceu e ainda estourou, e estava afetando a minha medula que brinca com a gente, não é?! Só foi pegar as terminações nervosas e jogou para a perna e já era. É horrível, mas não fiquei sentado.
Houve dias em que eu peguei muleta para poder andar pois eu não suportava colocar o pé no chão, mas fui atrás, corri logo para o Bartira, do Bartira já me mandaram para outro médico que já mandou para outro, que já me mandou para esse que eu operei lá em São Paulo. Quando eu cheguei lá, ele falou assim: “olha, eu quero novos exames, pois, para mim, é cirurgia de emergência, senão você vai perder os movimentos da cintura para baixo, a sua medula está sendo afetada.” A partir daí foi correria porque já entra plano de saúde que liberava a cirurgia e não liberava a equipe, e, quando liberou a equipe, não liberou os insumos. Mas, graças a Deus, saiu, é só a gente não desanimar, a gente se apegar a esse Deus porque ele faz tudo acontecer na nossa vida, mas eu tenho que fazer minha parte!
Vejam o evangelho de hoje: pensamos, num primeiro momento, “nossa, como Deus é duro conosco”. Ele é duro sim porque ele está dizendo que não é fácil ser cristão autêntico, não é fácil seguir a Ele porque Sua vida não é uma vida fácil, e sabemos não foi. Se olharmos para a vida pública de Jesus, alguém aqui aguentaria, como ser humano, passar o que ele passou? Difícil, e ele aguentou.
Preciso fazer a vontade do Pai, e o Pai quer que eu entregue minha vida por amor à humanidade. Ele vai para a cruz, e, no alto, ele grita “Pai, por que me abandonaste?” Aí o padre pergunta: será que Deus abandonou Jesus? O que é o silêncio de Deus? É o silêncio de Maria no pé da cruz. Ela não abandonou, mas ela falou alguma coisa? Não! Essa mãe estava sofrendo, não tem nem como dizer o tamanho da dor daquela mãe, mas ela estava ali, em silêncio. Quando Jesus pergunta: “Pai, por que me abandonaste?”, o silêncio de Deus é a Sua dor. Ele é Deus, Ele podia impedir que Seu filho fosse para a cruz, ele podia dizer “não, não vá, desça desta cruz”, porque Jesus jogou para as mãos dele: “decida, Pai, eu vou até as últimas consequências, eu vou entregar minha vida! É isso mesmo? Decida.” E Deus fica em silêncio.
O silêncio de Deus é a sua dor. É o tamanho do amor dele por nós, ver seu próprio filho morrer no alto de uma cruz. Então, a vida pública de Jesus não foi uma vida fácil, mas fez com que ele desistisse de alguma coisa? Não, em momento nenhum. E, às vezes, queremos desistir de tudo e ainda culpamos Deus, ainda somos ousados, culpar a Deus.
Um jovem me procurou e disse: “Padre, eu vim aqui para o senhor abençoar minha carteira de trabalho”, e eu falei “abençoo!”. Só que ele teve sorte porque tinha acabado de sair um pessoal lá da igreja falando que se aparecesse currículo, que mandássemos para eles. Então, pedi ao jovem que deixasse um currículo comigo. “Não, não tenho currículo.” “Mas, em casa, você tem?” “Não, não tenho.” “Você já entregou currículo em algum lugar?” “Também não.” “Você sai de casa para procurar trabalho?” “Não.” “Quantos anos você tem?” “26.” Com 26 anos vindo aqui para abençoar a carteira de trabalho? Falei “desculpa, não vou abençoar, não.” No dia que você levantar do sofá e sair para a rua como todo mundo faz, volte aqui com a sua carteira de trabalho que eu vou abençoar, mas, enquanto você estiver lá sentado no seu sofá, não vai cair do céu, ajude Deus a te ajudar.”
Deus faz a graça acontecer em nossa vida, mas ele precisa de nós. Tem um velho ditado que todo mundo conhece: “Deus ajuda quem cedo madruga”, faz a tua parte que ele faz o resto. Não é fácil segui-lo, e Ele mesmo já fala isso na liturgia de hoje, mas ele pede para que possamos ajudá-lo. A graça Ele vai fazer acontecer, mas eu preciso estar aberto para essa graça.
Estamos aqui na casa da Padroeira das Missões! Vocês conhecem a história dela? Essa mulher saiu em missão alguma vez na vida? E é a Padroeira das Missões. A vida, o exemplo, o empenho dela, vida de oração. Precisa ter mais intimidade com Deus, precisamos rezar mais. “Ah, padre, eu já rezo meu Pai Nosso, minha Ave Maria todo santo dia.” É só isso que vocês sabem rezar, Pai Nosso e Ave Maria? Vocês decoraram mais alguma oração ou não? Alguém tem mais alguma oração decorada além de Pai Nosso e Ave Maria? Tem um monte, não é?! E por qual motivo decoramos oração? “Ah, eu decoro oração para ficar guardada aqui na minha cabeça!” Não! Quanto mais oração você decorar, mais compromisso com Deus você tem. Então, o problema é seu por ter decorado, agora reze! Você decorou, você tem um
compromisso de rezar essa oração decorada todo santo dia. Não é para ficar aqui (na cabeça) não, é para rezar e, além disso, ter o seu momento com Ele.
Sabemos do momento dela com Deus, quando ela chegava na frente do crucificado, quando ela se jogava aos pés da Cruz, ela conversava com Deus. Vocês conversam com Deus? “Ah, padre, se alguém me vir conversando vai dizer que eu estou ficando doido ou doida”. Mas, e daí? Você sabe que não está. Eu mesmo quando vou fazer meus momentos de orações além das orações decoradas, eu paro um pouquinho: “Senhor, olha, é isso, isso, isso que eu estou passando, é assim, me ajuda com isso aqui? Sozinho não está dando certo não, me ajuda”, converso mesmo.
No outro dia, tinha visita em casa. Estava lá o pessoal visitando e eu estava ainda deitado, e eu lá, conversando, batendo altos papos com Deus. Quando a pessoa entrou no quarto para me ver, perguntou: “mas está conversando com quem?” Eu falei: “com Deus! Eu converso com ele todo dia, toda hora e bato altos papos.” Depois, sim, faço minhas orações decoradas, mas eu preciso ter intimidade com Ele.
Se pegarmos a história de Santa Teresinha, vamos ver muito isso. História de uma alma, que espiritualidade, que doçura. Eu me apaixonei por Santa Teresinha porque foi o primeiro livro que eu li dela! Uma irmã chegou para mim e falou “quero te dar um presente, mas eu quero que você leia em um mês, no máximo.” Eu falei “tá bom, o que é?” e ela me entregou a história de uma alma. Eu me encantei tanto que em uma semana já tinha lido, não foi um mês, não. Depois eu voltei a ler de novo porque a gente lê corrido, depois voltamos parando, mas é gostoso ver a experiência dela com Deus.
Vocês estão dentro de uma casa dedicada a uma mulher que tinha experiência de Deus na sua vida, que tinha intimidade com Ele, e o que ela pede é que aqueles que frequentam esta casa dedicada a ela tenham também intimidade com Deus. Além das suas orações decoradas, comece a conversar com esse Deus como ela conversou em muitos momentos da sua vida. O título que ela carrega de ser Padroeira das Missões sem nunca ter ido numa missão é de intimidade com Deus. A oração tem poder, se soubéssemos o que temos em nossas mãos...
“Ah, padre, o problema é que eu peço para Deus e ele não resolve logo.” É porque nós somos do ontem, do já, quando vamos pedir alguma coisa é para acontecer hoje, agora. O nosso tempo é o tempo de Deus? Não. O nosso tempo não é o tempo de Deus. Quando o plano de saúde liberou minha cirurgia, era para ser na numa quarta-feira. Eu já estava no hospital, já tinha dado entrada na internação quando teve uma emergência lá no hospital e o único anestesista que tinha no hospital era que ia fazer a cirurgia comigo. Foi chamado às pressas, foi aquela correria, e o doutor Pedro perguntou se poderíamos transferir para o sábado. Eu falei que sim, poderíamos. E eu rezando a Santo Antônio, pedindo para ele “olha, eu estou na tua casa, para eu poder me dedicar melhor à tua casa me ajuda pois eu não estou conseguindo.
Era para ser quarta-feira, 7 horas da noite, fui transferido para o sábado dia 4, 13 horas. Dia 13 era dia de Santo Antônio. Quando o médico falou vai ser às 13 horas, eu falei foi Santo Antônio, não ia dar certo hoje, vou para casa, volto daqui a dois dias que é o dia que ele escolheu. Cheguei no hospital 10 horas da manhã, dei entrada na internação e uma hora da
tarde já fui para a mesa de cirurgia, 5 horas da tarde estava voltando da anestesia, 9 horas da noite o médico passou e falou que eu poderia ir para casa. Eu saí caminhando do hospital. Eu falei “doutor, o que o senhor fez aqui que eu não estou com dor?” E ele falou assim “foi a melhor cirurgia que eu já fiz, pode ir embora.”
É Deus, e eu tenho certeza de que essa hora 13 foi Santo Antônio, é o dia dele. Todo dia treze a gente reza, então foi ele porque eu estava lá. Então, confia no seu padroeiro, seja devoto devota do seu padroeiro porque está no mandamento da lei de Deus. Mandamento da lei de Deus, os três primeiros mandamentos alguém lembra quais são? Amar a Deus sobre todas as coisas, não tomar seu santo nome em vão e guardar os domingos e festas de guarda, alguém pode viver por você? Ninguém! Só você pode amar a Deus sobre todas as coisas, só você pode evitar de tomar Seu santo nome em vão, só você pode vir fazer a experiência dele dentro da santa missa no domingo e na festa de guarda. O que é festa de guarda? É festa do meu padroeiro. Outra pessoa não pode fazer por você.
Já pensou? “Eu estou indo operar, viu? Vai lá na missa por mim?” Não tem como ela ir à missa por mim, só eu posso viver e são três. Três representa Santíssima Trindade, sobram sete. O número sete na sagrada escritura significa perfeição. Você vive os três primeiros mandamentos, agora você quer ser perfeito? Viva os outros sete. Onde começa o quarto mandamento, ou seja, o primeiro dos sete? Onde começa? Qual é o quarto mandamento da lei de Deus? Honrar pai e mãe, ou seja, começa dentro de nossas casas.
Quer ser perfeito, quer ser perfeita? Comece valorizando aquele que está debaixo do mesmo teto que você, porque todos os outros mandamentos não se referem a você, é sempre ao outro. Então, valorize mais o teu irmão e comece a valorizar aquele que está debaixo do mesmo teto que você. O Padre encerra dizendo isso: cuide de sua casa, dê o seu melhor na sua casa hoje, não deixe para amanhã. Precisa perdoar alguém? Perdoe. Pedir perdão? Peça, mas hoje, amanhã pode ser tarde demais e esse tarde demais vem com a dor que não tem tamanho, a dor do remorso.
Eu presenciei uma cena de um filho com 10 anos de idade jogando na cara da mãe que ela tinha matado o pai. Eles estavam brigados, e marido e mulher tem uma coisa de brigar e ficar sem se falar, não é? Cuidado, se acontece o pior você não sabe o tamanho da dor. Estão brigados? Estão brigados, mas, quando forem se deitar, olhe e diga “boa noite, boa noite”, vire para o lado e durma, não tem problema, não. Quebre o gelo, não fique sem falar, não. Estavam há uma semana sem se falar, ela se levantou cedo, não queria fazer café para ele, não queria nada, foi fazer caminhada. Quando ela se levantou para fazer caminhada, ele levantou, foi fazer o café, fez o café, foi tomar um banho e, quando estava saindo do banheiro, teve um infarto fulminante. O filho com 10 anos de idade, sozinho, dentro de casa tentando socorrer o pai, não conseguia segurá-lo, entrou em pânico, os vizinhos entraram, chamaram o SAMU que chegou, mas não deu tempo. Ela chegou em casa, aquele monte de gente, ambulância, “o que está acontecendo?” O filho já foi saindo “se você estivesse em casa o pai não teria morrido, teria dado tempo de salvá-lo”. Essa mãe carrega uma dor que vocês não têm noção. Ela chegou para mim e falou “padre, pede 10 segundos para Deus para pedir perdão para o meu marido.” Não tem 10 segundos. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje, porque depois você vai desejar 10 segundos e não terá.
A única coisa que sabemos que é nossa é a morte. Quando vai ser? Não sabemos, só esperamos que esteja bem longe de nós! Enquanto ela não chega, viva o hoje, por isso que o padre falou “dê o seu melhor hoje, dê o seu melhor em sua casa hoje, ame sem medo.” Amanhã podemos não ter tempo de fazer isso e pode ter certeza que quanto mais você amar, quanto mais você der o seu melhor, principalmente para a sua casa, você vai conseguir viver os outros 6 mandamentos, que é o número do ser humano. Você vai viver com tranquilidade porque você sabe honrar a sua a casa.
Então, o primeiro lugar que você precisa valorizar nos sete mandamentos restantes é a sua casa porque nós somos quem somos hoje por termos uma família, do jeito que ela é, cheia de altos e baixos, mas é essa a família que dá dignidade a cada um de nós, de sermos bons filhos, boas filhas, bons pais, boas mães, bom cidadão, boa cidadã, tudo aprendemos dentro de casa.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

O Evangelho precisa ser vivido em nossa realidade
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 26º Domingo do Tempo Comum – 25/09/2022 - missa às 10h)
Os profetas eram bem ‘salgados’ – o profeta Amós, particularmente. Temos o reino de Israel do Norte que tem essa pequena elite que esbanja, vive uma vida de luxo, se dão aos prazeres e nós temos a grande massa do povo que vive numa miséria terrível, então o que acontece? Essas pessoas acabam vivendo em um mundo alienado, acham que está tudo uma maravilha, não tem fome, não tem pobre, não tem gente morrendo, nada. Mas essa não é a verdade. Eles não querem ver a verdade, pois se virem vão perceber que eles estão levando o povo para a miséria. Eles bebem o sangue do povo e o profeta diz: vocês que não cuidam do povo, sabe o que vai acontecer? Vão vir os inimigos do povo e vocês serão os primeiros a ser levados acorrentados para a Assíria, o império que conquistou, por volta dos anos 700 a.C, a região norte do reino de Israel. Isso é a alienação da realidade. Não podemos negar o que está diante do nosso nariz. Não podemos dizer que não tem pobres, olhe em volta, olhe nossas ruas... Não precisa ir do outro lado do mundo, olha quantas pessoas temos que atender todos os meses aqui na igreja. E como você fala que não tem fome e miséria? Não tem sofrimento? Veja como arrochou o salário do teu bolso! Temos que olhar, ver a realidade, porque é só assim que conseguimos mudar a realidade...
Muito bem, nós temos Jesus que está indo para Jerusalém e lá vai ser morto. Ele dá instruções para seus discípulos e, ao mesmo tempo, Ele bate boca com muita gente. Os fariseus eram gente religiosa, gente que se dizia os ‘grandes judeus’. Eles praticavam os mínimos detalhes da Lei, inclusive matavam pessoas que não observavam muito – olha que maravilha, é tão religioso que mata. Deus fala na Bíblia “não matarás”, mas eles matam quem não observava a lei. É para essa gente que Jesus está falando hoje. Temos que nos admirar com esse Evangelho, pois tem coisas muito estranhas nesse Evangelho. A coisa mais engraçada é que tem um homem rico, durante todo o Evangelho, e nós não vamos saber nunca o nome dele, ele não tem nome e dava banquetes todos os dias se vestia de roupas finas, mas nós não sabemos o nome dele. Olha que interessante, nós sabemos, porém, o nome do pobre. Será que sabemos o nome de algum pobre? Às vezes ajudamos pessoas anos inteiros e nunca perguntamos o nome da pessoa sabe por quê? Porque, para nós, são menos, valem menos. Para Deus, o pobre tem nome. Quando o Papa Francisco diz: quando você der uma esmola, toque no pobre, olha nos olhos dele, pergunta o seu nome – isso se chama ser humano. Nós vemos esse homem rico, sem nome que dá esses banquetes e claro que sempre cai alguma coisa da mesa e temos que fazer atenção para essa palavra: migalhas. Quem come as migalhas da mesa quando cai? Cachorro! O que Lázaro queria? As migalhas. Quem cuida o Lázaro? Os cachorros. Olha só que absurdo, são os cachorros que vão lamber as feridas desse homem, são os cachorros que vão dar assistência para esse homem, olha que coisa estranha. Do rico, Lázaro não recebe nada absolutamente nada.
Outra coisa engraçada é que quando Lázaro morre, é levado pelos anjos de Deus até o seio de Abraão, isso que dizer à presença de Deus. Mas morre o rico sem nome e é enterrado. Geralmente rico tem velório demorado, agora preste atenção: nós tendemos a falar que Deus mandou esse homem para o inferno. Mandou mesmo? Veja a atitude desse homem falando do fundo do inferno ao pai Abrão. Ele é religioso, é um bom judeu, sabe quem é Abraão e diz: ‘pai Abrão, manda o Lázaro molhar o dedo e aliviar a minha dor’. Vocês lembram das migalhas? Uma gota de água e as migalhas. Você nunca deu uma migalha para esse homem, você não dá migalhas para ninguém, agora não existem mais migalhas acabou não tem mais tempo para dar migalhas. E ele insiste: ‘pai Abraão, manda o Lázaro...’, notem que nunca em nenhum momento ele dirige a palavra a Lázaro – nem na porta da casa se preocupando com ele, nem depois da morte. Ele não está nem aí. Lázaro, para ele, não é uma pessoa igual. Com o pai Abrão ele fala, mas com Lázaro não. Pois bem, isso que chamamos de inferno é simplesmente o coração desse homem, que não tem nada e morre se achando, persevera na sua atitude de indiferença para com o sofredor. São questões muito sérias. Nós aparecemos diante de Deus como nós somos. Diante da morte, nós nos colocamos diante da transparência de Deus, da inocência do seu olhar e ali nós aparecemos finalmente na nossa verdade. A verdade desse homem rico é egoísmo, diferença entre pessoas e falsa preocupação. Ele diz ‘manda o Lázaro ir lá falar com meus irmãos’ e o que ele está pedindo é uma coisa especial porque ele não se vê como os outros; para ele, seus irmãos não são como Lázaro, então ‘manda ele lá, faça uma coisa especial para nós’. Abraão simplesmente vai responder com a lógica de Deus, dizendo que todos tem Moisés e os profetas, é o que basta para todos, porque se teus irmãos não escutam o que é de todos, nem uma coisa especial, eles vão ouvir. De fato, isso é uma alusão a futura ressurreição de Jesus que não converteu aqueles que o condenaram a morte.
Fechamento é a nossa realidade que aparece diante de Deus, ser o que somos, por isso Jesus com essa parábola está nos chamando a atenção. Vamos ouvir mesmo a Palavra de Deus, vamos deixar a Palavra de Deus tocar a nossa vida e não ser só conversa mole, não só conversa do padre na igreja. Outra coisa pior ainda é que se o padre traz a realidade para dentro da missa, diz que ‘não pode isso, tem que falar de Jesus’ para que a Igreja seja mais um momento de alienação, isso está errado. Deus nos chama a ser profetas igual o Amós, que enfia o dedo na ferida. A Palavra de Deus tem que tocar constantemente na nossa vida, porque se não toca é só um verniz que a gente usa. A Palavra tem que transformar nossos atos. A Palavra nos grita: veja o outro como irmão, não seja indiferente ao sofrimento do outro, o que você faz para o outro revela o que é o teu coração. Olha lá o rico egoísta se achava melhor que os outros aparece diante de Deus exatamente assim egoísta, se achando melhor que os outros. Vamos pedir a Deus que Ele nos dê a graça de olhar, por dentro dos nossos corações, para aprender a sair dos nossos isolamentos, olhar os sofrimentos dos outros, as dificuldades dos outros e ser realmente mão estendida, porque é isso que Jesus faz na cruz: com as mãos e os braços estendidos, acolhe a todos, porque nós todos somos irmãos e irmãs.

Trabalhar nosso coração para seguir no caminho de Jesus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 25º Domingo do Tempo Comum – 18/09/2022 - missa às 10h)
Deus abomina a fraude que sempre impacta os outros, mas, sobretudo, os pobres. É muito interessante ver como os profetas do antigo testamento são ácidos, muito duros contra essas pessoas que praticam a injustiça. E o profeta Amós mostra aos desonestos: "vocês esperam o sábado” – sábado era o dia de descansar, não podia trabalhar – “para irem lá na balança e alterar o peso, misturar no trigo a palha, pegar uma sandália velha para tentar subornar um pobre, vocês acham que Deus não vê isso? Vocês acham que Deus não fará vocês pagarem por isso? Ele faz". Aqui falamos, se não for nesse mundo, é em outro. O mal não triunfa.
Depois nós temos Jesus que está indo para Jerusalém, vai morrer em Jerusalém, e na semana anterior ele discutiu com inimigos deles, fariseus e doutores da lei. Mas neste dia Jesus está falando para os discípulos! A gente escuta essa parábola e precisamos entender bem. Naquele tempo, o administrador não ganhava salário, como também os publicanos, que eram homens judeus que cobravam impostos dos judeus para mandar para Roma, que era o país invasor. Eles eram odiados pelo povo hebreu, mas tinha outro problema: eles também não recebiam salário, e por qual motivo? Porque eles viviam das “sem vergonhices” deles. O imposto que Roma impunha era 1 moeda vamos supor, e eles podiam cobrar 2, 3 ou 5 moedas, mas, para Roma eles só enviavam 1, e o resto eles colocavam no bolso.
A mesma coisa acontecia com o administrador, que trabalhava com os bens do patrão e recebia alguns juros que era o seu salário. Só que aqui temos um negócio escandaloso, pois provavelmente o dono do que este homem administra deve ser um grande comerciante, e tem o administrador que está praticando a agiotagem. Olhe só os juros absurdos que este homem cobra, 100% de juros sobre o óleo, 20% de juros sobre o trigo, é um agiota terrível. E o que acontece? Se o sujeito vai comprar o óleo, às vezes até para vender, e o homem fala "ah, não pode pagar agora? Então vai pagar o dobro depois".
A má fama do negócio corre para todos os lados e ninguém mais vem comprar. O dono do negócio percebeu que o administrador estava fazendo coisa errada, e falou: "você tem uma semana, depois vai embora daqui". O homem ficou desesperado pensando "o que eu faço agora? Estou velho para cavar, tenho vergonha de pedir esmola... eu já sei o que fazer! Vou dispensar todo mundo dos juros que eu impus e que eu ia pegar para mim." Este homem não é bonzinho, este é um homem sem vergonha dando de esperto, e o que ele faz? Ele fala "eu jogo fora tudo o que era meu, porque assim eu garanto que outra pessoa vai me contratar e depois, quando eu entrar, eu faço outras falcatruas de novo."
Jesus não está elogiando a "sem vergonhice" deste homem, não! Jesus está elogiando a esperteza deste homem, que, para salvar a pele, é disposto a jogar fora tudo e rápido. Ele não fica pensando e meditando, fazendo reunião, discutindo, fazendo votação, nada disso, ele decide e joga fora, o que importa é conseguir que alguém o acolha depois.
O que a gente tem que jogar fora? Jesus está falando para os discípulos e discípulas: "temos que jogar fora tudo aquilo que não é do reino que está na nossa vida", e para quê? Para ter um lugar no reino, e para isso não pode ficar pensando muito não, ter decisão assim como esse homem teve. Joga fora para salvar a própria pele, porque não é de Deus. Quantas vezes, na nossa vida, a gente tem alguma coisa que não funciona, sabemos que está errado e ficamos enrolando? Não, vamos parar, vamos mudar! Não pode esperar amanhã, hoje tem que mudar, hoje eu tenho que tentar melhorar isso.
Em 1988 nós tivemos a campanha da fraternidade sobre os negros, "A fraternidade e o negro", que hoje chamamos de preto, e eu me lembro, já contei isso algumas vezes, que uma das sugestões concretas que se colocava era não fazer piadas com pretos porque em toda piada com outro, você está diminuindo a sua dignidade. Eu aceitei o desafio, e desde esse ano, eu nunca mais fiz piada com pretos, porque você aprende e descobre o quanto é difícil porque está enfiado dentro de você, e você começa a ver que o outro não é inferior a você.
No Brasil, vocês se lembram das muitas piadas com loiras? Foi tão grave que tiveram que criar uma lei para punir quem fazia isso, um desrespeito. O que nós aprendemos no banco de trás do carro? Quando nós somos pequenos, muitas vezes, a misoginia, que é o desprezo pelas mulheres. Fez uma barbeiragem? Você já comenta "com certeza é uma mulher", e você falou isso perto de uma criança pequena uma vez, ela lembra disso para o resto da vida. Você implantou no coração do seu filho a misoginia, e a coisa mais triste é ver mulheres repetindo isso.
Isso não é do reino, desprezar uma pessoa por causa da sua cor, da sua condição social, da sua sexualidade, isso não é do reino, porque para Deus todos nós somos iguais, todos somos irmãos e irmãs. Deus ama e acolhe a todos nós, então nós temos que trabalhar o nosso coração para jogar fora todas essas coisas que não são do reino! Se eu tenho lá um jeitinho todo meu de conseguir dinheiro por fora, dar um troco menor, dar uma enrolada, isso não é do reino, eu paro com isso! Vocês entenderam? Tem que mudar, gente! E rápido, joga fora, que nem esse homem aí que jogou fora para salvar a pele paro mal. Jesus fala "Vocês são os filhos da luz, por que não fazem a mesma coisa? Joga fora as coisas que não prestam!".
Na vida da comunidade querer aparecer ou ser o primeiro, gente, estamos aqui para ser servidores. Jesus fala "quem não serve aos outros, não está no reino". O caminho é o serviço, é a ajuda, é o bem ao outro. Então, todas as vezes que nós descobrirmos algo que não é do reino em nossa vida, temos que fazer igual ao homem, jogar fora logo e pegar o caminho de Jesus.
Que interessante o que Jesus diz ali: "use o dinheiro injusto para comprar seus amigos que vão te receber não neste mundo, mas nas moradas celestes". Aí nos perguntamos "mas quem são esses amigos?" Nós temos que ir no fim do Evangelho, capítulo 25 de São Mateus: quem são os amigos de Deus? Os que têm fome, os que têm sede, não têm roupa, presos, doentes e sofredores, são eles que vão nos acolher na casa do Pai. No dia do juízo ao lado de Jesus estarão os pobres, eles serão os nossos advogados. “Aquela mulher ali me deu um pedaço de pão, aquele outro ali me deu uma peça de roupa, aquela pessoa ali me visitou quando estava doente”, esses são os amigos que o dinheiro injusto desse mundo compra para o céu.
O evangelho é consequente, nos obriga a mudar de atitude porque caso contrário, é igual às maquiagens ou quando se coloca um reboco, esconde tudo, e, no fim das contas, ao tirar tudo aquilo, você desmaia de medo, não é? Se nós somos superficiais em nosso cristianismo, nós só temos uma máscara, e o pior é que a máscara, às vezes, nem é bonita.
Para terminar, vamos pegar a Primeira Carta a Timoteo, que é muito interessante porque muitas vezes o pessoal só pega a primeira parte da frase "orai pelos governantes", então vamos orar por nossos governantes, mas para quê? Para que eles nos garantam uma vida serena e tranquila. Onde há serenidade e tranquilidade? Onde há fome? Não! Onde há doença? Não. Onde há falta de saúde? Não. Nós temos que pedir para que nossos governantes garantam isso para o povo, porque se não garantem, nós pedimos a Deus para saírem fora.
Quem atenta contra a democracia, aplica golpes, manipula o exército temos que pedir para sair fora. Nós estamos arriscando perder uma grande parte da Amazônia para o narcotráfico porque tiraram as fiscalizações de lá, tiraram a FUNAI de lá. Isso não é paz para ninguém, isso é falta de serenidade para o povo, isso é falta de tranquilidade para o povo. Rezar para que os governantes nos deem paz e tranquilidade, e quando não dão, troca! O Evangelho e a palavra de Deus têm consequências, nós não podemos ser só maquiagem.

Cremos num Deus de infinita misericórdia
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 24º Domingo do Tempo Comum – 11/09/2022 - missa às 10h)
Uma das mais antigas figuras e representações de Jesus dos primeiros séculos cristãos, não é Jesus crucificado, é Jesus, o Bom Pastor, seja em estátua ou em pintura, o jovem com a ovelha nos ombros, Jesus que acolhe os pecadores. Temos aqui no Evangelho de hoje dois grupos. O primeiro são os homens da religião, os bons religiosos, os fariseus e os doutores da lei, que era seriam hoje os grandes teólogos da época, observantes da Lei e são os primeiros a dizer para as pessoas: “você está errado, está no pecado você não tem salvação”. Eles eram os primeiros a fazer isso porque era observantes fiéis da lei de Israel. Jesus vai chamar essas pessoas de hipócritas, porque, de fora, parecem bonitos, observam a lei, mas por dentro tem morte e ódio. De fato, serão eles que vão matar Jesus e eles não conversam com Jesus, não disputam com Jesus, porque achavam Jesus bonito ou achavam bom o que Jesus falava, eles se aproximavam para encontrar modos para acusá-lo, para matá-lo. Esse era o coração perverso dessa gente. Eles veem Jesus que acolhe esses chamados ‘pecadores’, cobradores de impostos e outros – Jesus se aproximava de leprosos, de doentes e as doenças, na época, eram vistas como castigo de Deus, uma impureza. Os doentes eram vistos de longe como se não prestassem e eles se escandalizam porque Jesus acolhe justamente essas pessoas. Jesus vai dizer “os céus se alegram quando um pecador de converte” e Ele conta essa parábola da ovelha e da moeda perdida que representam que Deus vai a procura das pessoas perdidas, porque o nosso Deus é um Deus de amor, não é o Deus da lei, é o Deus da misericórdia. Ele ama todos os seus filhos e filhas, Ele não tem outra medida que não seja o amor e a misericórdia. A misericórdia de Deus é mais justa que nossa justiça vingativa e a misericórdia de Deus faz muito mais do que ousamos pensar, por isso Deus vai atrás do pecador. E Jesus mostra que é indo ao encontro do outro que você leva a salvação.
Depois Jesus conta a parábola do filho pródigo. Junto com a parábola do Bom Samaritano, talvez sejam as duas parábolas mais conhecidas do Evangelho. Temos atitudes estranhas aqui. Quem é o centro da história? É o pai, que tem dois filhos e um filho o vê como morto – quando nos tornamos herdeiros? Quando o pai morre ou a mãe morre, antes disso ninguém é herdeiro. A lei diz que se teu pai, em sã consciência, um dia antes de morrer pega tudo que tem e torra, você não pode fazer nada porque você só é herdeiro na hora que ele morre então se ele gastou tudo, problema seu. Mas esse moço, ao pedir a herança, está declarando a morte do pai e se afundando na distância do pai. Esse homem vai acabar na lama literalmente, na pior que existia para os hebreus – o porco era um animal impuro e até hoje os hebreus não comem porco, não só porque tem a unha rachada, mas porque o porco come a própria sujeira. Para um hebreu isso era um cúmulo do absurdo. Mas é nessa situação completamente degradante, onde esse homem vale menos que um porco, pois nem a comida do porco davam para ele, de lá do fundo do paço esse homem percebeu o valor do pai. “Meu pai dá pão em abundância para seus servos, ele cuida da dignidade dos seus servos, ele não humilha as pessoas, não coloca as pessoas nesse buraco de degradação, eu vou voltar para o pai”. Só que ele sabe que não é mais herdeiro, ele sabe e vai confessar seu pecado “eu vi você como morto, eu gastei minha herança, eu não sou mais teu filho, me trata como um servo, como um servo que você dá dignidade, eu quero esse amor que você tem pelas pessoas” e aí acontece o que só a misericórdia de Deus é capaz de fazer: o pai nem espera o rapaz terminar de falar e manda dar para o filho um anel, que é sinal de autoridade dentro da casa, e uma túnica, que é distintiva de outras pessoas naquele tempo nem todo mundo podia usar roupa igual a dos outros, então dar uma túnica pro filho significa distinção, colocar um determinado tipo de sapato, sandálias é outro modo de distinção. Então esse filho cai em si e percebe o que é amor que antes ele não tinha isso.
O outro filho está sempre na casa do pai, no território do pai, trabalha para o pai, só que tem um defeito: ele vê o pai como patrão e, pior, vê o pai como um patrão mau pagador, ele diz “nem um cabrito você me deu”. É assim que ele vê o pai e mais ele corta as relações com o irmão quando diz “esse teu filho” – uma forma de desprezo absurda – “que gastou os teus bens com prostitutas e outras coisas”. E o que o pai faz é o mesmo pai do outro filho: no seu amor, ele desmascara a mentira que o filho está falando. Quando se quer atacar os outros, muitas vezes se inventa mentira. Quando ele diz que nunca recebeu um cabrito, mas que conversa é essa, pois se o irmão já recebeu a herança, tudo que o pai tem é dele. Não tem sentido. E depois o pai retoma o caminho que o filho mais velho deve fazer: “esse teu irmão estava perdido e foi reencontrado, teu irmão não é desprezado que gasta e esbanja os bens, ele não é um amaldiçoado, ele é teu irmão! Se você não aprender a ver as pessoas, todas elas, como irmãos, você vai desprezando sempre mais as pessoas”.
Esse é o caminho de Jesus: só quando aprendemos a ver o outro como irmão e irmã, nós vamos conseguir melhorar o mundo. Tem irmão que a gente tem que colocar na cadeia para aprender de novo a viver bem na sociedade, tem irmão que a gente tem que dar pão, tem irmão que a gente tem que educar, se eu o olho como irmão. Esse é o desafio de Jesus e, cuidado, Jesus está contando essa parábola para pessoas da religião que viviam no templo rezando. Muitas vezes nos colocamos no lugar do filho pródigo, mas nós, gente de igreja, estamos mais no lugar no filho mais velho, por isso nós também precisamos de conversão constante.
Vamos pedir ao Senhor, Ele que vai nos buscar se nós nos desviamos, que Ele nos ensine a vê-Lo como pai amoroso, que Ele nos ensine a ver a todos como irmãos, pois assim poderemos realmente melhorar o mundo onde estamos.

Ouvir a voz de Jesus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 23º Domingo do Tempo Comum – 04/09/2022 - missa às 10h)
Nós temos nesse evangelho uma situação que é a seguinte: Jesus, desde o capítulo 9 até o capítulo 19 de Lucas, está indo para Jerusalém e o texto diz que as multidões o seguiam. Nessas multidões estamos também nós que ouvimos a palavra de Jesus, fomos batizados, e Jesus se volta para a multidão. No Evangelho de São Lucas, esse voltar-se para a multidão é um gesto solene, que indica que Jesus vai dizer coisas importantes. Em vários momentos no Evangelho de Lucas nós encontramos essa expressão e, de fato, Jesus faz ensinamentos importantes.
Jesus vai dizer “se você não deixa pai, mãe, irmãos e irmãs, mulher, filho, marido, você não pode me seguir, se você não despreza tua vida você não pode me seguir, se você não toma tua cruz de cada dia você não pode me seguir”. O que significa? Jesus quer que nós não amemos pai e mãe? Não! Jesus quer que nós deixemos de dar atenção e amizade para os nossos irmãos e irmãs? Não! O que Jesus está nos dizendo? O que deve guiar a nossa vida é o evangelho de Jesus, é Jesus e os seus valores e não as pessoas mais caras da nossa vida, porque podem estar em contraste com Jesus.
Nós temos que pensar que São Lucas escreve por volta dos anos 90 depois de Cristo, 40, 50 anos depois de Jesus e muitos cristãos já estão se acomodando, participam das celebrações, mas isso não muda em nada a vida deles. O evangelho não está mais, as pessoas não estão dando atenção, isso é que nem começar a construir uma torre e você não leva para frente. Uma vez que você começou um caminho, só tem sentido se você for até o fim, não pode se sentar no meio da estrada e, às vezes, nós nos encontramos parados no meio da estrada. O que nós temos que fazer? Ouvir de novo a voz de Jesus e olhar nossa vida, as nossas ações, os nossos desejos, se eles estão de acordo com o evangelho ou não.
Às vezes a gente descobre “gente, mas essa atitude minha aqui não é boa, não é do Evangelho, eu vivo fazendo piadas sobre os outros, com isso eu estou desprezando as pessoas, eu estou ofendendo as pessoas, eu estou diminuindo as pessoas, eu vou parar de fazer piadas falando e debochando dos outros” por exemplo. Se eu fico aí “ah, a gente tem que matar todo mundo”, espera aí, isso não é de Deus! Nós temos que servir as pessoas, são todos irmãos e irmãs e há os que sofrem mais, tem que dar mais atenção ainda para eles. Esse é o caminho de Jesus, e se eu penso diferente, jogo fora o pensamento que não é de Jesus para seguir Jesus. “Ah, mas minha família toda pensa desse jeito, minha avó pensava desse jeito”, problema dela, eu sigo o caminho de Jesus.
O rei tem 10 mil homens e o outro rei, que é mais forte, tem 20 mil. É, 10 mil é difícil, então o que eu faço? Eu mando mensageiros para tratar a paz. Isso se chama prudência, não ser louco. Para seguir Jesus nós não temos que ser loucos. Nós temos que ser pessoas que pensam direitinho e fazem as coisas com jeito, olhando bem onde estamos pisando para nos manter-nos caminho de Jesus. Nós temos que limpar o coração, mudar nossas ações, nós temos que acordar!
Jesus vai dizer “quem não carrega sua cruz atrás de mim não pode ser meu discípulo”. A cruz aqui é sofrimento? Não. Tem muita gente ao longo da história que ficava se flagelando, botava pedra no sapato, botava corda amarrada em volta da barriga para sangrar, ainda tem doido que faz isso ainda hoje. Não é isso que Jesus quer não, gente. Pegar a própria cruz significa viver os valores do evangelho, do amor, da igualdade, da solidariedade, da justiça no dia a dia, ser servo de todos, irmão e irmã de todos, todos os dias de novo, nem que isso nos custe a cruz.
Não é para todo mundo que Jesus pede a cruz, não. Para alguns pede, e ele nos dá força para seguir o caminho dele, mas a gente tem que acordar. Nós temos que nos perguntar realmente “eu parei no caminho? Eu estou seguindo Jesus? O que eu estou fazendo? O meu cristianismo está sendo só de nome, de carteirinha?” Jesus não quer isso, Jesus não quer devotos, Jesus quer discípulos, e discípulos e discípulas são os que seguem os passos do mestre. Jesus faz isso, eu faço.
Nós estamos no mês da Bíblia. Vamos fazer o povo passar vergonha, todo ano eu faço a mesma pergunta, é só vergonha que o povo passa! De novo, quem já leu a Bíblia levanta a mão. Muito bem. Quem já leu o Novo Testamento? Quem leu a Bíblia, leu o Novo Testamento. Quem já leu os quatro evangelhos? Quem já leu um evangelho? Nós católicos temos que criar vergonha na cara e começar a ler a Escritura. Por muitos séculos a igreja dificultou a leitura das escrituras, era sempre em latim, era um problema. No Concílio Vaticano II, os bispos acordaram: “mas gente, espera aí, a Palavra de Deus tem que ser conhecida pelo povo, nós vamos traduzir a Bíblia e nós vamos incentivar o povo a ler, porque a nossa vida cristã ela se apoia na Palavra”, tanto que nós, na missa, temos duas mesas, a Mesa da Palavra e a Mesa da Eucaristia. São feitas sempre do mesmo material para dizer que são uma continuação da outra!
A Palavra de Deus, seguir a Palavra, conhecer Jesus para poder segui-lo. “Jesus faz assim. Como que é fazer assim hoje?” É isso que nós temos que fazer e foi isso que fez o autor da primeira leitura. O livro da sabedoria foi escrito no ano 50 mais ou menos antes de Cristo e é o texto de um autor que estava fora de Israel, estava no Egito, em Alexandria, capital do Egito, e lá, com a cultura grega, pensamento dessa cidade, ele se pergunta “é possível viver o judaísmo nesse tempo, nesse lugar, com essa cultura em que se impõe para todo mundo?” Ele vai procurar e vai ver que sim, em todos os tempos, em todos os lugares é possível viver o evangelho de Jesus como ele também falou lá. É possível viver a fé hebraica, mesmo numa grande cidade com pensamentos e ideologias completamente diferentes, e os judeus faziam a diferença dentro daquela comunidade.
Nós cristãos católicos temos que fazer a diferença não porque somos melhores, mas porque temos que ser servos de todos, porque Jesus fez assim

O banquete do Reino dos Céus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 22º Domingo do Tempo Comum – 28/08/2022 - missa às 10h)
O último domingo de agosto ainda não é mês da Bíblia, mas vamos fazer umas perguntinhas. Vamos ver se vocês leem a Bíblia! Os bispos no Concílio Vaticano II tiveram um trabalho danado para entregar a Bíblia na mão do povo de novo, traduziram para todas as nações, mas os católicos não leem a Bíblia, é uma vergonha. Quem lembra onde na Bíblia fala-se de banquetes? Teve as bodas de Canãa, a última Ceia... No Antigo Testamento, tem o profeta que fala ‘sobre este monte [Jerusalém], eu servirei um grande banquete com carnes gordas, vinho e não haverá mais choro nem luto no grande banquete do Reino’. Jesus fala: ‘virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e se sentarão na mesa do Reino com Abrãao, Isaac e Jacó’. Jesus conta parábolas também: os empregados cujo patrão chega de noite sem avisar e encontra-os todos ali esperando, pois não sabiam que hora ele iria chegar, aí quando ele chegou, colocou os empregados sentados na mesa e serviu os empregados. Que banquete esquisito que é este né? Mas também tem outros, quem lembra do rico epulão, o rico comilão? Todos os dias dava banquetes na casa dele para os amigos, para gente rica e, na porta, tinha um pobre todo chagado, os cachorros vinham lamber as feridas daquele pobre e nem as migalhas que caiam da mesa desse rico, ele se dignava a dar para aquele pobre.
Jesus é convidado para uma refeição na casa do chefe dos fariseus. Os fariseus eram um grupo muito importante, eles formavam um grupo de resistência cultural e religiosa. Eles pensavam que o Reino de Deus viria quando todos os israelitas, os hebreus observassem a Lei e eles observavam, eram muito caxias. Mas só que com isso, eles excluíam as pessoas. Eles diziam: ‘nós somos os bons, os outros são malditos porque não vivem a Lei’. Eram uma gente famosa. Depois da destruição do templo de Jerusalém, praticamente o que sobrou foi o judaísmo farisaico, o judaísmo que conhecemos hoje. Esse chefe dos fariseus convida Jesus, mas olhem bem a frase seguinte: os outros fariseus que estavam convidados observavam. Não é porque Jesus era mais bonito ou mais feio, era para encontrar algum motivo para condená-lo. Então Jesus foi para uma cova de cobras e o que acontece? Esse pessoal se acha melhor que os outros e entre eles também se acham. Então chegam nessa festa e nem perguntam, vão logo ocupando os primeiros lugares, porque eles se acham importantes. Jesus percebe esse jeito de agir e aí ele comenta com essa parábola: olha só, se escolhe os primeiros lugares e chega alguém que o dono da casa quer naquele lugar, ele vai dizer com muito jeito ‘escuta, será que você pode se sentar em outro canto?’. E se acontece isso, você finge que não tem problema e vai lá para o fundo. É a vida. Não queira se achar, porque quando você se acha, você se apresenta como melhor que os outros. Para Deus, não existe melhor que os outros. Para Deus, todos nós somos irmãos e irmãs, filhos e filhas.
Depois Jesus fala ainda de uma outra situação. Quando você dá uma festa, não chame os seus amigos que de algum modo vão se sentir obrigados a te convidar também. Chame os que você sabe que não vão poder te retribuir: os pobres, os cegos, os coxos. Quem lembra em que lugar do Evangelho Jesus fala alguma coisa parecida com essa? Dar comida para os pobres, para os cegos, para os coxos. Jesus fala isso no juízo final. Eu estava com fome e você me deu de comer, eu estava com sede e você me deu de beber. Toda vez que se faz o bem para os últimos que não podem nos retribuir, você está fazendo o bem para Deus. Você está dizendo que o outro tem dignidade. Você está restituindo a dignidade para o outro. É isso que Jesus nos ensina. Não existe e não pode existir dentro da comunidade quem se ache melhor do que os outros. Quanto mais você tem, mais você tem que servir. Pois foi para isso que Deus te deu os seus dons, para servir aos outros numa comunidade de irmãos e irmãs que se servem e se ajudam.
A Igreja está celebrando o mês vocacional e hoje nós celebramos a vocação dos leigos. A vocação dos leigos é, primeiro, viver os valores do Evangelho e levar esse anúncio para o mundo, ali onde vocês estão: no trabalho, entre os amigos, na família, no bairro e no país inteiro. Temos que viver e anunciar os valores do Evangelho: vida para todos, cuidado com os mais fracos, e justiça que é com a divisão dos bens. Essas são as nossas atitudes no mundo lá fora, porque nós não somos cristãos e católicos só quando estamos aqui dentro. É lá fora que nós damos testemunho do Evangelho e o Evangelho quer a vida para todos, não quer a morte nem a fome de 33 milhões de brasileiros. Para isso, nós temos que nos descobrir sempre irmãos e irmãs dos outros. Nós somos todos irmãos, não tem diferença, não tem exclusão, todos se sentam na mesa do Reino. Esse é o caminho de Jesus e é isso o que Jesus nos ensina no Evangelho de hoje.
Vamos pedir a Jesus que nos dê força de testemunhar o Evangelho onde quer que estejamos.

Fazer tudo o que Jesus disser
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Assunção de Nossa Senhora – 21/08/2022 - missa às 10h)
Assunção da Virgem Maria. A igreja desde muito cedo acreditou que a mãe de Jesus, após sua morte, foi elevada ao céu em corpo e alma. Essa devoção começou no Oriente, a Dormição da Virgem Maria, e depois foi trazida para o Ocidente.Era celebrada, mas não tínhamos a proclamação do dogma da assunção, e o Papa Pio XII, por volta de 1948/1949, mandou para todos os bispos do mundo – quase fez um mini concílio – perguntando para eles: "o povo de Deus crê que a Virgem Maria é assunta ao céu?" porque o povo de Deus não erra quando crê.
Os bispos responderam afirmativamente, então ele, em solenidade, em 1950, proclamou o dogma da Assunção de Maria. Isso não quer dizer que a Nossa Senhora foi assunta ao céu em 1950, mas que, no momento de sua morte. Alguns teólogos na época discutiam que como ela não tinha pecado original, ela não morreu. Papa São João Paulo II acabou com essa conversa: "Jesus morreu, então a Virgem Maria também. Jesus ressuscita por poder próprio, Maria por graça, como será com todos nós, por graça.
Nós não temos poder de ressurreição, só Deus nos dá essa graça, então Maria é ressuscitada por graça e elevada aos céus, que significa "entrar no mistério de Deus", pois se Ele não viesse falar conosco, seria fechado. Maria, na totalidade do seu ser, entra na glória de Deus, o que nos será último dia.
O que é celebrar a Assunção? É celebrar o valor da corporeidade humana. Deus ama os seres humanos, "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres que Deus ama"! Deus nos criou com corpo, Deus não nos fez anjos, e o nosso corpo é instrumento de amor, de serviço, de entrega da vida. É nesse corpo que nós fazemos sofrimento, morte, perseguições, injustiças; a nossa corporeidade joga 100% dos nossos caminhos e das nossas opções, ela é expressão do nosso ser, e isso nós não teremos na vida eterna. De que jeito? Isso será respondido por Deus, nós sabemos que, depois da morte, como diz São Paulo, nos é dado no céu um corpo imperecível.
Porém, a assunção é também um sinal para nós. OConcílio Vaticano II diz: "Maria brilha como uma estrela no céu para o povo de Deus a caminho", mas a caminho de onde? A caminho do reino. Ela brilha como uma luz que indica Jesus para que nós sejamos discípulos de Jesus, para que nós retornemos ao caminho de Jesus. Maria é toda de Cristo, não tem concorrência, o coração dela bate no mesmo ritmo de Jesus, a vontade dela é a mesma vontade de Jesus.
E qual é a vontade de Jesus? Que todos nós sejamos salvos e que já nesse mundo todos tenham vida em abundância! Essa é a vontade de Deus, nem que para isso tenham que ser derrubados os poderosos de seus tronos, ou que tenham que dispersados os orgulhosos, aqueles que se acham: "eu tenho direito de comer muito, de ter várias terras, de ter muito dinheiro, e os outros que se danem". Esses são os orgulhosos, nem que tenham que ser dispersados, e por castigo? Não! Para que aprendam que é na igualdade, no respeito, na équa divisão dos bens que nós vamos encontrar vida e justiça para todos.
Maria canta isso em seu hino que inclusive ouvimos hoje: “derruba os poderosos dos seus tronos”, e não são poderosos espirituais não, são os reis deste mundo, os governantes que praticam injustiça e maldade.Dispersa os orgulhosos desse mundo, desse tempo e de todos os tempos para elevar os humildes, pois Deus quer que todos estejam bem. E onde o olho de Deus cai? Deus cai em cima dos que não têm vida plena, dos que sofrem, que morrem de fome. Os olhos de Deus estão fixos lá, isso não é invenção de Padre não, isso está lá nas palavras dos profetas já do antigo testamento: "vocês me oferecem sacrifícios, festas, e acham que preciso de carne? Essas festas não me servem para nada. Os meus olhos estão voltados para o pobre, para a viúva, para os órfãos, para os estrangeiros, para todo aquele que faz a minha vontade."
Ali estão os olhos de Deus: "quando vocês praticarem a justiça, aí sim esses sacrifícios servirão". Sem a prática da justiça, sem o amor ao próximo, sem solidariedade, sem respeito pelo outro, o nosso sacrifício não é agradável a Deus, Maria nos ensina isso também. "Ele olhou para a humildade da sua serva" –quando nós falamos, pensamos na mãe do messias, que eram o que pensavam as mulheres daquele tempo. Todas as mulheres de Israel queriam ser a mãe do messias, existia essa espera.
Onde Deus foi achar uma mãe digna para seu filho? Muito longe! Nazaré era uma vila pequena no meio das montanhas, perto do lago de Cafarnaum. Ele não procurou palácio do imperador de Roma, não foi no palácio de Herodes, não foi em Jerusalém, não foi chamar a filha do sumo sacerdote, foi chamar a menina lá de longe, e por quê? Porque os olhos de Deus estão lá no que é pequeno, no que é humilde, no que é desprezado.
Não podia conhecer a corrupção da morte aquele corpo no qual se operou o milagre da encarnação do verbo, o mesmo filho que o Pai gera na eternidade, no tempo foi gerado pela Virgem Maria. Deus fez com que o filho daquela mulher, sem a ajuda de homem, fosse humano e Deus. Só essa mulher pode diante de Deus dizer "nosso filho Jesus Cristo", somente ela, todos nós dizemos "Vosso filho Jesus".
Maria nos ensina a seguir Jesus, única ordem que Maria nos deu no evangelho, única, o resto é conversa mole: "façam tudo o que Jesus vos diz", única ordem que Maria deu. Pode colocar aparição, chamar teólogos, e São Paulo VI perfeita e corretamente diz que "a verdadeira devoção à Virgem Maria é ser discípulos e discípulas de Jesus."
Assim somos filhos, assim somos consagrados a Maria se nós seguimos o evangelho de Jesus, porque ela primeiro acolhe a palavra eterna do Pai, cuidadessa criança e a encaminha para o conhecimento humano do Pai. Como Deus, Jesus não precisava conhecer o Pai, mas como ser humano sim. Maria e José educam Jesus na fé e na religião de Israel, o Deus fiel, e a experiência que Jesus teve na companhia de José e Maria foi tal que Jesus vai apresentar o Pai como paizinho, uma coisa impensável aos judeus que achavam que Deus estava muito longe, muito alto, que eles eram somente a miséria, nem podem falar o nome dEle, e Jesus O chama de paizinho.
Maria está também na construção dessa imagem que Jesus tem do Pai, então ser discípulos de Jesus é olhar para Maria e aprender dela, pois ela seguiu Jesus e ela é rainha, como Jesus é rei. Onde Jesus é rei? Lá na cruz, no horror do calvário, aquele é o trono de Jesus, não otrono dos reis desse mundo, é na cruz, pior forma de tortura daquele tempo para matar alguém, e Maria é rainha aos pés da cruz.
Esse é o mistério de Deus, o Deus que vê o mundo do avesso, e Maria aprendeu e proclamou isso! Ele olhou a humildade da sua serva, Ele derruba os grandes e poderosos para elevar os humildes. E Deus é fiel, foi fiel no passado, Maria olha a história do seu povo de Israel, é fiel agora, Ele está cumprindo a sua promessa do messias, e será fiel sempre.
Vamos pedir à Nossa Senhora que nos ajude a ser bons discípulos e discípulas de Jesus.

Anunciar a Palavra!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 20º Domingo do Tempo Comum Ano C – 14/08/2022 - missa às 10h)
O Profeta Jeremias, na Primeira Leitura, anunciava que Jerusalém seria tomada pelos babilônicos. Jerusalém já tinha sido salva uma vez, algumas décadas antes, e o povo achava que Deus ia proteger a cidade, mas Jeremias disse “não, aqui vai ter desgraça, entreguem-se e, pelo menos desse jeito, vocês vão salvar suas vidas”. Aí existiam uns amigos que gostavam de falar somente coisas que o rei gosta de ouvir – por que quem é que gosta de ouvir falar de desgraça? Ninguém. E tem gente que é especialista em falar mentiras, contando o que a outra pessoa fica contente, e esses outros eram exatamente assim, diziam: “não, os babilônios não vão chegar aqui. Deus já protegeu essa cidade antes”. Diante da insistência do profeta, eles quiseram dar um jeito de matá-lo e olha o modo como quiseram matar esse homem: pegaram uma cisterna, um poço que recolhe água da chuva para quando tiver seca, essa cisterna não tinha água, na ocasião, mas tinha lama e os homens do rei colocaram Jeremias lá. Então um servo estrangeiro, etíope, falou: “não, isso é uma injustiça, um crime, um homem que fala a verdade de Deus não pode ser punido desse jeito”. E ele foi lá falar com o rei: “escuta aqui, você só vai dar ouvido pra esse pessoal que vive te lambendo? Que bota mentira nos teus ouvidos? Olhe bem como estão as coisas, o povo está passando fome e é esse homem que o senhor vai matar?”. Ai o rei manda tirar Jeremias e pouco tempo depois Jerusalém foi invadida pelos Babilônicos. O rei, seus filhos e os nobres da cortes foram todos deportados para a Babilônia e o exílio durou 70 anos. Assim, a palavra do profeta Jeremias foi confirmada. Jeremias depois foi pro Egito e lá o assassinaram, mas ele anunciava a palavra. E a palavra de Deus nem sempre é agradável aos nossos ouvidos, porque ela nos chama sempre à conversão. Ela denuncia tudo aquilo que não é segundo a vontade de Deus.
Anunciar a verdade pode criar perseguição e divisão, por isso Jesus vai dizer no Evangelho: “eu não vim trazer a paz, eu vim trazer divisão”. Aqueles que seguem Jesus e querem a vida para as pessoas que todos possam viver na paz e na justiça não agradam aqueles que querem morte, a exploração, a exclusão das pessoas. Esse povo persegue, divide e mata e foi o que fizeram com Jesus. De fato o mataram porque Jesus anuncia a fraternidade, uma forma nova de viver que não cria tirana da religião, não cria divisão entre as pessoas, não cria a exclusão de alguns em favor de poucos outros. Isso custa caro.
Vamos pedir ao Senhor que ele nos ajude a anunciar a palavra de Deus como Jeremias fez custe o que custar.

Eis aqui o teu servo!
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 19º Domingo do Tempo Comum Ano C – 07/08/2022 - missa às 10h)
O evangelho de hoje nos fala da vigilância: vigiar, esperar porque o Senhor volta. E é muito interessante que tenham colocado a Primeira Leitura elogiando a fé de Abraão e de Sarah. Eles acreditaram no Senhor, foram vigilantes e por isso receberam a promessa. Deus prometeu: "A tua descendência será grande como a areia do mar e as estrelas do céu" e Abraão acreditou, apesar de ter tido apenas um filho com Sarah. A mesma coisa é a pessoa que acredita em Jesus, que acredita na sua volta e que vai cuidar de viver como Jesus quer.
E então Jesus nos dá essas imagens, interessante: Ele fala de servos de um grande senhor, que estão cuidando da casa enquanto o senhor foi a uma festa. A festa de casamento daquele tempo durava uma semana, não são iguais aos buffets que custa caríssimo por quatro horas, lá durava uma semana, ai haja vinho! Por isso na festa de Canaã acabou o vinho. Então, você não sabia quando o patrão voltaria, e a coisa mais interessante, o que você pensa e espera? Que chegaria o seu patrão – teu patrão pode ser um rei, governador, ou até um presidente da república – pois ele chega e o que você espera que aconteça é que ele se sente e que os servos que estão preparando as coisas venham servi-lo. É isso o que a gente espera, mas olha que coisa, o Evangelho fala que o senhor encontra os servos com tudo preparado e atentos, ele põe os servos na mesa sentados e ele vai servir as pessoas, que coisa doida é essa? É muito estranho esse evangelho. O que Jesus está dizendo para nós e para todos os cristãos, não só para os doze, para todos nós: nós somos servos da humanidade, o reino de Deus é serviço, serviço à vida. Este é o reino de Deus: serviço. Então o maior é servo de todos.
Então Pedro pergunta a Jesus "Mas isso é para todo mundo ou somente para nós?", ai Jesus dá uma resposta a São Pedro "Pois então, para quem foi confiado isso, aprenda a ser servo! Dá de comer, beber, administrar bens, ou seja, ser servo dos outros". Agora se esse homem começa a ver que o senhor não chega, começa a beber e comer, gastando os bens do seu patrão, sendo uma pessoa cruel com os outros, a hora que o dono chega sem esperar e encontra o sujeito e a casa nessa situação, ele não vai ter piedade nenhuma desse sujeito, é assustador o que Jesus fala, que vai cortar o sujeito na metade, matando-o. Por quê? Porque nós somos servos, todo aquele que é discípulo de Jesus é servo dos outros, servo da vida, da verdade, da justiça e da paz. Esse é o caminho de Jesus. Jesus nos vai dizer "Você não sabe a hora que chega, essa atitude sua de serviço tem que ser até o fim da vida". Você não pode dizer "ah está demorando mesmo então vamos relaxar", isso não é cristão e nem de pessoa que tem fé. Temos de estar prontos, porque Deus vem, vem no fim da nossa vida, nós sempre esperamos que vamos viver até 99 anos e mais um pouquinho, não é? Aí vem um ditado popular "Idosos morrem, jovens podem morrer".
Seja um ou os outros, temos que estar sempre vigilantes. Muitas vezes, especialmente no nosso mundo, se faz propaganda do individualismo, do sucesso pessoal, do passar a perna nos outros, do explorar as pessoas, do empobrecer as pessoas para que eu tenha mais... Esse mundo não vive segundo Jesus. Nós, cristãos, somos chamados a ser neste mundo um sinal para o povo, de serviço e defesa das pessoas, de acolhida e respeito em um mundo que não se respeita. Nós somos chamados a ser acolhedores e ter respeito pelas pessoas, esse é o caminho de Jesus.
Hoje também nós recebemos o ícone do Bom Pastor. Esse ícone está indo em todas as paróquias da Diocese de Santo André para lembrar a cada paróquia que nós devemos rezar pelas vocações sacerdotais. Nós, padres, não somos mais santos que os outros, às vezes Deus escolhe os mais fracos. Eu sempre falo e olho o caminho que meu irmão fez. Meu irmão tinha 42 anos, sua mulher teve câncer, eles tinham dois filhos, mas ela morreu, depois de dois anos sendo devorada pelo câncer, e três meses depois, o filho mais novo morreu de câncer. Meu irmão se casou de novo e, seis anos depois, a segunda esposa morreu de câncer. Eu fico pensando "Meu Deus, eu não teria tanta força não!". Eu olho para certas situações de outras pessoas, e penso "Deus você realmente escolheu o mais fraco de nós para servir teu povo", pois Deus usa a fraqueza para confundir os fortes e os grandes. Deus chama do meio do seu povo e o povo são vocês, não são outros não. Deus chama do nosso meio, rapazes e homens para o ministério sacerdotal, para dedicar-se aos cuidados do seu povo, de forma exclusiva. A igreja pede, além do serviço ao povo, o celibato, que é um "a mais" que a igreja pede, não precisaria, mas pede, para que sejamos mais dedicados ainda. Nós não somos mais, nós somos servos, e sobre nós cai aquilo que Jesus falou "o servo que abusar da sua autoridade para beber, comer, enriquecer, vai ser partido ao meio". Nós temos que servir com atenção o povo de Deus.
Então vamos rezar para que Deus chame de nossas famílias. Temos jovens aqui na igreja, mas temos jovens que acompanham também pelas redes sociais, tenham coragem de se perguntar ao menos uma vez na vida "será que Deus me chama para o sacerdócio?". Tenham coragem de fazer essa pergunta, e se você perceber que Deus está te chamando, ou que Deus está chamando seu filho, apesar de ser filho único, porque vocês não fazem mais filhos, entregue seu filho ao caminho de Jesus. O jovem que percebe que Deus está chamando, tenha confiança, porque Deus é fiel, Ele nos segura e mantém em seu caminho. Vamos pedir ao Senhor que mande operários para sua messe, que mande padres às igrejas. Para que, nós, padres, e o povo santo de Deus, sejamos servos nesse mundo que muitas vezes não quer o caminho de Jesus.

Deus ouve as nossas orações
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 18º Domingo do Tempo Comum Ano C – 31/07/2022 - missa às 10h)
“Sopro dos sopros. Tudo é um sopro”. Nós traduzimos por vaidade. Mas a vaidade ainda que ela seja um conceito negativo, ela tem alguma consistência. O sopro representa o nada, o vazio. E o escritor sagrado vai passar por muitas situações humanas e vai chegar a esta conclusão: comamos, bebamos, porque amanhã morreremos. Primeiro que ele fala no plural e não é “eu e meus familiares”, é a comunidade inteira, o povo todo. Poder comer o pão do próprio trabalho em paz. Beber o vinho da alegria em paz consigo e com os outros. Paz. É possível isto neste mundo? Sim, se nós não vemos o outro como ocasião de exploração, se não vermos o outro como inferior a nós, vemos o outro não como possibilidade de exploração – e hoje em dia, ainda pior, possibilidade de descarte. Isso é horrível, por isso nós estamos num mundo como estamos. Ninguém fala de manter as economias de modo que a população possa estar bem, é sempre que a gente tem que crescer, tem que produzir mais e isso está levando o mundo para o desastre. Não estou dizendo que nós não tenhamos que procurar progresso, mas que seja de uma forma que não destrua as pessoas. E nós chegamos a um ponto que podemos destruir o planeta inteiro e já o estamos fazendo. Isso é ganância.
Tem situações que a ganância é absurda e produz raciocínios absurdos, como por exemplo fulano tem tanto dinheiro que quer fazer a colonização de marte. Que sentido tem isso? Nós temos milhões de pessoas passando fome neste mundo, milhões de pessoas que não tem aspirina para superar uma febre ou uma gripe, nós temos milhões de pessoas que não tem água potável em casa – e não é só lá longe não, aqui no Brasil também. E nós vamos pensar em Marte?! Dinheiro para produzir dinheiro para produzir dinheiro. E quantos descartados, marginalizados, os lixos do mundo? Isso é o resíduo dessa sociedade de ganância.
No Evangelho de hoje [Lc 12,13-21], Jesus nos fala então desse homem rico. E vocês perceberam que esta parábola é toda em primeira pessoa? Um homem rico que teve uma grande colheita: “o que que EU vou fazer? EU vou destruir os meus celeiros e fazer maiores. EU vou dizer a mim mesmo: goza da vida, porque EU tenho bastante para mim”. Quem falta nessa parábola? Quem plantou para que tivesse aquela colheita? Não foi esse homem. Quem colheu? Não foi ele, nem é ele quem vai derrubar os celeiros e construir novos. Quem vai servi-lo para ele viver gozando da vida? São os seus servos. Nessa parábola, falta “nós” e falta “eles”. Esse homem vive somente para si, ele não tem pensamento nenhum para os outros. E o Eclesiastes vai dizer: junta tudo, faz tudo só para você, para que serve? Você vai morrer do mesmo jeito. Para que serviu aos faraós fazer os túmulos gigantescos do jeito que fizeram com um monte de tesouros escondidos? Os corpos deles viraram objetos de museu. Não servem para nada. Este homem não pensa nos outros. Este homem não vive nem pensa a fraternidade. Um homem ganancioso é sempre aquele que tenta tirar vantagem em tudo. Como este homem terá pagado seus empregados? A ganância não é dos cristãos, porque você se engana, você se fecha em si mesmo. Quantas vezes a gente não joga na loteria e diz “meu Deus, se eu ganhar eu vou dar um pouco para a igreja”? Eu já fiz, mas é tudo conversa mole. É por isso que Deus não dá nada para a gente. Ganhar na loteria é a mesma probabilidade de encontrar petróleo no quintal de casa. Mas nós vivemos com esses sonhos que na verdade escondem o nosso egoísmo e a nossa ganância. Jesus nos coloca em alerta sobre isso e não é para desprezar os valores do mundo não, mas os bens desse mundo são feitos para todos.
Do ponto de vista político, falamos em partilha dos bens de produção. Isso tem reflexo em tudo, se cuida da justiça social, paga bons salários, cuida da saúde, da educação da população, se pensa no outro e não em si. Este é o caminho do Evangelho. Este é o caminho de criar paz entre todos de modo que cada um possa verdadeiramente dizer: vivo na paz de Deus, eu sei que meu irmão não está passando necessidade. Poder dormir sem pensar que alguém no mundo está passando fome ou frio, ou não pode comprar uma aspirina.
O Evangelho é exigente. Ele nos questiona. Se nós não aprendemos da palavra do Evangelho, de quem nós vamos aprender? Vamos pedir ao Senhor que nos ensine e nos converta para que nós sejamos sempre mais solidários, atentos às necessidades dos que mais sofrem. Nós repetimos e repetimos isso porque esse é o coração do Evangelho. Se nós não aprendemos isso, não aprendemos nada, somos só papagaios quem vem rezar Pai Nosso e Creio, mas nossa vida não muda, nós não criamos laços de amizade, de fraternidade entre nós. O Evangelho sem mudança de vida, é conversa mole. Isso serve para todos nós, todos nós vamos virar pó e teremos que prestar contas para Deus, por isso precisamos começar a agir de outro jeito.

Deus ouve as nossas orações
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 17º Domingo do Tempo Comum Ano C – 24/07/2022 - missa às 10h)
Na Primeira Leitura de hoje [Gn 18,20-32], temos a continuação da leitura de semana passada. Nós encontramos Abraão que deu hospedagem aos três homens que na verdade eram três anjos de Deus, que se dirigiam a cinco cidades do vale – as duas principais cidades era Sodoma e Gomorra, mas no total são cinco. E o que Deus encontrou ali com Abraão foi hospitalidade. Os anjos vão para as cidades porque chegou ao ouvido de Deus que aquelas cidades são perversas, cidades más, e o que nós vemos? A confirmação disso, aquelas cidades não só não acolhiam bem os hóspedes, coisa que era um dever sagrado para os hebreus, como abusavam deles no maior modo de desprezo possível naquela época, e por isso Deus condenou aquelas cidades. Mas Abraão pede para Deus: "Se nessa cidade tiver 50 justos, perdoa?". Deus responde "Perdoo". Abraão pergunta: "E se tiver 40?", Deus responde "Perdoo". "E se por acaso tiver 30?", pergunta Abraão, "Perdoo" Deus responde, "Se tiver 20? 10?", "Perdoo". E ele para no 10, por quê? O livro do Gênesis foi escrito por volta dos anos 500 a.C. é um livro muito recente, e naquela época, na Palestina, existiam as sinagogas, mas para que existisse uma sinagoga naquela cidade precisava de 10 homens com mais de 12 anos de idade, ou seja, adultos. Por isso ele para no número 10, teria que ter pelo menos uma sinagoga nessas cidades, porque se não tem, Deus extermina tudo. O que importa aqui, não é se vai ou não exterminar, mas a disposição que Deus tem em nos ouvir. Abraão fala, pede e Deus escuta. Abraão põe um limite, mas Deus não põe um limite, tanto que quando os anjos avisam Ló que vão destruir as cidades, os anjos o pedem "Leve a sua mulher e suas filhas e foge para a montanha" e quando Ló diz "Eu não tenho forças para chegar na montanha, deixa eu me hospedar ali na menor cidade, Cegor", o anjo responde "Está bem, eu vou poupar a cidade". Por causa de um homem, Deus poupou a cidade inteira. As medidas de Deus são enormes, muito maiores que as nossas.
No Evangelho [Lc 11,1-13], nós temos o Jesus que ensina a rezar. Nós chamamos essa oração, conforme o evangelho de Mateus, Pai Nosso. No evangelho de Lucas, é só "Pai", e é muito interessante que este Pai não é o pai falando do céu e da terra, daquele que governa todas as nações, ele fala com a palavra que a criança pela primeira vez se dirige ao pai, quando neném está começando a falar, não fica o pai e a mãe discutindo para ver o que ele vai falar primeiro? Se é pai ou mãe? Essa primeira palavra "papai, mamãe" da boca de uma criança é essa palavra que Jesus usa para se referir a Deus, ao Deus inominável, não se podia dizer o nome de Deus, o sumo sacerdote, uma vez por ano, no santo dos santos, dizia o nome de Deus, uma vez por ano. Se você falasse o nome de Deus você era acusado de blasfêmia, era condenado a morte. Jesus chama este Deus de "papai", para nos mostrar que Deus não está longe, Deus está mais perto de nós, do que nós mesmos. Nós podemos dizer que nós estamos mergulhados em Deus, Deus não está lá longe, olhando o universo. O universo está mergulhado em Deus. Deus conhece todas as nossas situações do universo inteiro, estamos mergulhados nEle, esse é o Pai de Jesus. O povo de Israel, muitas vezes foi infiel, traiu a aliança, adorou outros deuses, isto é, a infidelidade, mas a santificação do nome de Deus se dá na vida das pessoas. As pessoas são fracas e nós mesmos somos fracos, a Igreja também, nós, comunidade de cristãos, muitas vezes traímos Deus, somos agentes de morte e não de vida, então Deus, Ele mesmo, glorifica o nome de Deus. E a fidelidade de Deus se revelou para nós em Jesus, lá na cruz, Deus é fiel, Deus não guarda nada para si, Deus não esconde nada debaixo da manga, Ele se entrega todo. Por isso, Jesus nos ensina a ter total confiança na fidelidade de Deus.
"Santificado seja teu nome" e esse nome é Jesus. "Venha a teu reino", o reino é o que Deus quer para todos nós, plenitude, o Espírito Santo é aquele que conduz a história da nossa vida até que chegue aonde Deus quer que chegue. Nós não somos donos da história, Deus é o senhor da história e a última palavra sobre a história quem vai dizer é Jesus crucificado. Por isso nós pedimos "venha a teu reino", porque o reino de Deus vai além de todas as nossas esperanças e expectativas, é comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs, e nós já começamos a construir isso aqui, quando nós nos amamos, respeitamos e somos solidários uns com os outros.
Depois São Lucas pede o “pão de cada dia”, o pão que é a subsistência da vida, o pão que é comida e bebida, saúde, educação, liberdade, fraternidade, respeito, isso é o pão nosso de cada dia, isso é para todos. É um mundo sem divisões, sem classes de oprimidos, um mundo onde todos possam ter vida digna, é isso que Deus quer para a face da terra, como pré-anúncio daquilo que será o reino do Pai. Na casa do Pai, todos somos irmãos e irmãs. Para Ele, não tem diferenças. Nesse mundo, nós podemos começar a viver desse jeito, e nós cristãos somos chamados a sermos testemunhas disso.
Quando dizemos “Perdoai os nossos pecados”, lembrando que nós somos pó, nós somos miséria, nós somos pasto da morte, nenhum de nós escapa da fatalidade da vida humana, e nós somos fracos, pecadores, às vezes infiéis, às vezes traidores, às vezes incapazes até de fazer o bem, mas não por maldade, pois se for por maldade é pecado, mas se eu sou assim, o outro também é. E para nós conseguirmos realmente construir um mundo que já seja um pré-anúncio do reino, nós temos que nos perdoar. É o único modo de acabar com o ciclo da vingança. Ciclo da vingança que muitas vezes está até em códigos religiosos "você vai vingar teu irmão, vai vingar teu pai", mas isso não é de Deus, entenderam? Deus não quer vingança, Deus quer o perdão, porque é o único remédio capaz de parar a roda da vingança e da morte.
E, finalmente, São Lucas pede "não nos deixe cair em tentação". Tentação aqui gente não é querer comer uma bala sendo que não pode, como se na hora do almoço você fosse comer doce e sua mãe diz não, isso é besteira. Essa aqui que pedimos no Evangelho, é a grande tentação, é a tentação de sermos infiéis, a tentação de virar as costas para Jesus, a tentação de entrar no mundo das trevas e da maldade, a tentação de ser Judas. No Evangelho de João, quando Jesus fala a Judas "Faça o que você tem que fazer", o Evangelho diz que "Judas saiu e era noite", Judas abandona a luz que é Jesus e vai para as trevas, para as trevas da injustiça, do ódio, da morte, que vai gerar a crucificação e morte dos inocentes. É desta tentação que se fala no Pai Nosso.
No Evangelho de Mateus, acrescentam-se vários elementos, mas vamos nos fixar só no último: "livrai-nos do mal" ou do maligno, de algum modo se refaz a grande tentação, Jesus disse que o maligno é mentiroso e homicida desde o início. Nós temos que estar sempre atentos a isso, eu estou dando ouvidos a mentiras? Estou procurando a verdade? As minhas ações, as minhas opções ajudam a gerar vida ou criam em volta de mim e no mundo a morte? Nós temos que nos perguntar isso. Em cada ação simples, como um botão apertado de urna eletrônica, eu ajudo a escolher se quero a vida ou a morte. Nós temos que pedir muito a Deus discernimento para não votar errado. Um gesto só, este é um exemplo. Mas temos muitas outras ações em que nós abraçamos a morte: se eu desprezo uma pessoa por conta de sua cor ou opção sexual, eu estou optando pela morte. Se eu desprezo um pobre que me pede um pedaço de pão, eu estou optando pela morte. Esse é o grande perigo: abandonar Jesus, que é vida, e agir como um servo da morte, por isso Jesus nos ensina a pedir ao Pai "não nos deixe cair nesta tentação".

Ser discípulo na igualdade e no amor
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 16º Domingo do Tempo Comum Ano C – 17/07/2022 - missa às 10h)
Nós nos encontramos aqui com duas situações de hospitalidade: nós temos Abraão que está lá no deserto, provavelmente num pequeno oásis porque tem uma grande árvore, e bem no mais quente dos dias ele vê esses três homens se aproximarem – ele não sabe são três anjos – três homens se aproximam, andando pelo deserto, e ele corre implorando para que esses homens aceitassem a hospitalidade dele. Para os hebreus, a hospitalidade é um dever sagrado, e Abraão prepara um banquete para esses homens que ele não conhece. Como são anjos de Deus, eles mostram a fidelidade de Deus, que tinha prometido a Abraão que ele teria um filho. Abraão tinha várias mulheres, mas a mulher oficial era Sara, as outras eram concubinas. Sara não tinha filhos e era um filho dela que seria o herdeiro, se ele morresse sem herdeiros, passava para um servo dele a herança. Então os anjos, em recompensa por aquela atenção dele, cumprem a promessa: “daqui um ano nós voltaremos e sua mulher vai ter um filho”, o filho que Deus tinha prometido, Isaac.
Jesus está na sua viagem da Galileia para Jerusalém. São 10 capítulo do Evangelho de Lucas (capítulo 9 até o capítulo 19), e, no meio do caminho, nós temos a história dessa hospedagem. Essa mulher da cidadezinha convida Jesus para ser hóspedes dela, Marta. Nós sabemos que ela tem um irmão que é Lázaro e a outra irmã, Maria, e todas as vezes que nós vemos Jesus tratando com as mulheres, tem alguma coisa revolucionária. A mulher naquele tempo não tinha direito a nada, ela não podia testemunhar em tribunal, o testemunho de uma mulher era inválido, ela era propriedade do pai até casar-se, depois do marido e, se o marido morresse, era propriedade do filho mais velho se ela tivesse um filho, senão ela passava para propriedade do parente homem mais próximo do marido.
E qual era o lugar da vida da mulher? O lugar da vida da mulher é dentro de casa, dentro da vida de vizinhança das mulheres, casa, quintal, cozinha, cuidar dos filhos até 12 anos se fosse menino, mulheres até que se casassem. Ela cuidava da pequena economia da casa, cuidava de roupas, tinha galinha que deu muito ovo, ela trocava com outros produtos que outras famílias ali produziam, mas é uma vida privada. A vida na praça, a vida das grandes decisões, a vida dos julgamentos, essa é a vida do homem, não é a vida da mulher. A mulher não sabia ler nem escrever, não se ensinava as mulheres, elas aprendiam as coisas por tradição transmitida pela mãe. E nós temos aí uma situação estranha: Jesus chega nessa casa e uma das duas que moravam lá, Maria, se coloca sentada aos pés de Jesus para ouvir a sua palavra, não é para conversar, não é para conversa mole, não é para falar como que está o tempo, ouvir a sua palavra. Ela se coloca na atitude de discípula, coisa que a mulher não podia ser.
Ela se coloca ali e Jesus simplesmente ensina porque para Jesus a mulher é igual, para Jesus a mulher não tem que ser promovida, dar alguns direitinhos para ela, não, a mulher é igual, a dignidade dela é igual à minha. É por isso que Jesus é revolucionário com as mulheres, ele trata as mulheres como iguais, não como ser de segunda categoria, iguais, por isso Ele se senta e deixa que essa mulher esteja sentada aos seus pés ouvindo seus ensinamentos como era permitido só para um homem. Jesus vai ter no seu grupo mulheres que o seguem, Jesus trata como iguais.
A reação de Marta é a reação da boa hebreia: “Senhor, mas o nosso lugar é na cozinha, o nosso lugar é não receber instrução, o nosso lugar é ser propriedade, o nosso lugar não é ficar sentada escutando o Senhor ensinar, isso é coisa para os homens” – é isso que está na cabeça de Marta, por isso ela chama atenção de Jesus para que Ele dê uma alfinetada em Maria, para que Jesus fale para ela “ó, minha filha, aqui não é o teu lugar, tu te ponhas no teu lugar, vá para a cozinha”. Jesus se nega a fazer isso, Jesus se nega a entrar no jogo da cultura, da tradição – “mas as mulheres sempre foram tratadas assim” – para Jesus, não, a mulher é igual, e essa cultura é falsa, desvaloriza, Deus não quer isso.
Essa mulher é discípula como é discípulo um homem, essa mulher ouve a Palavra e a coloca em prática, assim como um homem ouve a Palavra e a coloca em prática, igualdade. E Jesus vai dizer isso, vai fazer um jogo de palavras: “Marta precisa pouca coisa”. Esse “pouca coisa” se refere seja à comida, a gente não fala “ah, basta uma besteirinha, não precisa fazer nada” quando vai na casa das pessoas? As pessoas falam “eu vou fazer um café para você” e você diz “não precisa, não precisa, é uma coisinha só" – é mais ou menos isso que Jesus fala: “Marta, não se preocupe tanto” de um lado, mas de outro Ele está falando que o que é importante é ser discípula, o que é importante é mudar a mentalidade. Vocês são iguais, vocês não são inferiores, vocês não são nossas servas, vocês são iguais, então o seu trabalhar constante, esse corre-corre seu amanhã você vai fazer de novo, mas o ensinamento que a Maria está recebendo agora ninguém vai tirar. Comida amanhã tem que fazer de novo, o trabalho da mulher nunca acaba em casa, e de alguns homens também porque agora tem homem que cuida das coisas de casa, nunca acaba, está sempre começando de novo, está sempre sujando a louça de novo, está sempre tendo que cozinhar outra vez. É o que Jesus está falando, isso aí é o corre-corre do dia a dia, mas são as palavras de Jesus ouvidas e colocadas em prática que vão criando em nós a mentalidade nova em que nós aprendemos a olhar as pessoas como iguais. O outro não é menor que eu, o outro não é segunda classe, nós somos irmãos diante de Deus, nós somos iguais, dentro da sociedade civil nós somos cidadãos debaixo dos mesmos direitos e dos mesmos deveres, e as nossas diferenças, que são as minorias, devem encontrar espaço de respeito dentro de uma sociedade plural.
O outro diferente continua sendo igual como dignidade humana de irmão e irmã e de cidadão e cidadã. É por isso que dentro do estado civil nós não podemos anular as minorias, porque se nós fazemos isso, nós criamos nazismo, é assim que pensa Hitler, e o caminho do desrespeito às minorias é o extermínio, forno para queimar as pessoas. Isso não é de Deus e isso não é cristão. O que Jesus nos ensina é que o outro na sua diferença é igual, foi isso que Ele ensinou para Marta. Maria está numa situação de igualdade, e ela vai sim, uma outra hora, outro momento, ou talvez até ali mesmo ajudar a irmã dela, mas o que Marta tem que aprender é que ela mesma tem dignidade, está nela, ninguém tem que dar essa dignidade para você, está em você. Reconheça essa dignidade que a tua irmã já foi capaz de reconhecer. Maria não fala nada, mas Maria aqui é a mulher nova que já reconheceu a sua própria dignidade que está nela, ninguém tem que dar não, há nela, por isso ela pode sentar e escutar o que o Mestre está falando porque ela é discípula como Pedro, como João, como Tiago, como Maria Madalena, Maria é discípula. Igualdade.
Vamos pedir ao Senhor que Ele nos ensine isso para que nós possamos viver melhor, para que nós consigamos viver em uma sociedade mais justa, onde as pessoas não são postas fora por causa da cor, por causa da sexualidade, por causa da falta de estudo ou porque são índios. Todos somos cidadãos, todos somos iguais diante de Deus.

É com misericórdia que amamos o próximo
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 15º Domingo do Tempo Comum Ano C – 10/07/2022 - missa às 10h)
No final do capítulo 9 do Evangelho de Lucas, vamos encontrar muitos momentos de confronto de Jesus com o pessoal daquele tempo e aqui, no Evangelho de hoje [Lc 10,25-37], nós temos um doutor da Lei. Os mestres da Lei eram homens que durante toda a vida estudavam a Sagrada Escritura e que, aos 40 anos de idade, recebiam um tipo de ordenação. A interpretação que eles davam da Escritura era considerada infalível, então este é um homem que conhece muito bem a Escritura. Jesus está indo para Jerusalém, deixou a Galileia e os judeus tinham muito desprezo pelos samaritanos e pessoas fora de Israel. Então, um doutor da Lei se encontra com esse pregador que já é famoso e está vindo da Galileia e quer pegar ele no pulo, por isso faz uma pergunta muito elementar: “qual o primeiro mandamento? o que preciso para me salvar?”. Então Jesus devolve a pergunta porque ele sabe que esse homem sabe a resposta e que ele está ali de má fé – o texto diz que queria colocar Jesus em dificuldade. Jesus lhe diz “você não é doutor da Lei, não entende de escritura, o que a escritura diz?” e o mestre da Lei responde com uma oração que os hebreus rezam três vezes por dia que é o Shemá: “escuta Israel, o Senhor é teu Deus, o Senhor é único, amarás o Senhor teu Deus de todo coração, com toda sua alma, com toda sua força e toda sua inteligência, e o próximo como a ti mesmo”. Os hebreus rezam essa oração, que é o primeiro mandamento, três vezes por dia. Jesus então lhe diz essa frase: “faça isso e viverás”. Mas não basta saber a Escritura, ser um doutor em teologia, não basta ser doutor em bíblia, tem q viver o evangelho, tem que botar em prática o que diz o evangelho.
Aí o homem de novo, querendo se desculpar, pergunta “quem é o meu próximo?”. Essa pergunta pode parecer muito cínica, mas não é, porque os hebreus achavam sim que tinham que amar ao próximo como a si mesmo, mas quem é o próximo? Para eles, o próximo é o outro hebreu, não é o estrangeiro, o pagão, esses são vistos como gente de segunda classe, não é o samaritano que eles também odeiam. Então Jesus passa uma rasteira nesse homem e é muito interessante a imagem que Jesus usa: um homem que descia de Jerusalém para Jericó. Em Jerusalém, se faziam ritos de purificação para depois irem para a própria cidade e então celebrarem na sinagoga, então esse homem provavelmente foi fazer ritos de purificação e, na volta, foi pego por assaltantes. Isso era muito comum naquela época e por isso eles sempre precisavam viajar com um cajado na mão para se defender também contra animais. Mas os assaltantes o pegaram, deram uma surra e o deixaram meio desmaiado e foram embora. Então um sacerdote e um levita, um por vez, passam pela mesma estrada, fazendo o mesmo caminho de volta da purificação – vejam então que aquele homem é um hebreu que fez seus rituais para se preparar para a celebração da sinagoga – mas tanto o sacerdote quanto o levita olham e passam do outro lado, como para dizer as duas pessoas que mais conheciam as escrituras, as leis e as tradições de Israel fazem isso porque estão observando a lei da purificação. Para os hebreus, um homem não podia tocar um defunto ou ficaria impuro e não poderia participar dos rituais litúrgicos na sinagoga ou no templo, então o sacerdote e o levita não chegam perto para se manterem puros religiosamente puros. Isso é a lei religiosa que não respeita a vida. Você faz suas práticas de religião, mas não é um bom cristão, um bom judeu etc. para que serve isso? Para nada é só conversa mole. Jesus já mostrou isso para o doutor da Lei, mas vai mais longe “passou um samaritano” que eram odiados pelos judeus, pois eram meio sincretistas, faziam uma bagunça com religiões pagãs e o Deus de Israel. Jesus vai falar: “um samaritano, que vocês odeiam, passando de viagem, ele não está nem aí com Jerusalém, mas vê o homem se aproxima e sente compaixão”. Compaixão é se colocar no lugar do outro, sentir as dores do outro, ver o mundo a partir da situação de dor do outro e o que ele fez? Vai lá e usa os remédios que tinha naquela época para desinfetar as feridas e ajuda o homem, o coloca em cima do jumento e leva para uma hospedaria – naquele tempo, não existia hospital, apenas as pensões que funcionavam como um tipo de hospital para as pessoas em viagem que ficavam doentes; ali elas recebiam cuidados e depois seguiam viagem ou eram enterradas no cemitério do lado. Era a vida daquele tempo. O samaritano passa a noite cuidando desse homem e, no dia seguinte, segue viagem, mas deixa pago duas diárias e pede para cuidarem dele e diz que, na volta, paga o que ele gastar mais. A compaixão nos faz entrar no sofrimento do outro, isso é amar o próximo: entrar no sofrimento do outro e tirá-lo de lá.
Aí Jesus fala para o homem “quem foi o próximo daquele que estava ferido?”. Geralmente pensamos que o próximo é o que está lá ferido, mas Jesus muda a perspectiva: o próximo sou eu que me aproximo do sofredor, eu sou o próximo daquele que está sofrendo, eu tenho que me fazer próximo do outro e responder a partir daquela situação – que às vezes são situações insolúveis. Tem situações que não tem solução, como o pessoal da Cracolândia, o que se pode fazer por aquela gente? O que o padre Júlio faz é dar comida, agasalho, é isso que dá para fazer... Não adianta fazer esse pessoal andar pelo centro de São Paulo criando ódio por todo mundo e não fazer nada por eles. O que dá para fazer é isso, mas o que a sociedade fez foi jogar eles no lixo e muitos deles nunca vão sair do lixo. Ter compaixão é se aproximar deles e fazer o que é possível dentro daquela situação. Jesus por fim pergunta para o mestre da Lei: quem é o próximo? O que usou de misericórdia e a misericórdia é de Deus. Deus é misericordioso, é da essência, é do coração de Deus. Nós temos que nos aproximar dos outros, como Deus se aproxima de nós, com misericórdia, não com arma, não com paulada, não com cachorro, não queimando tudo que as pessoas têm, não é esse o jeito misericórdia. A última mensagem que Jesus dá ao mestre da Lei é “agora vá e faça, seja misericordioso com o próximo e com todos, como o samaritano”. O samaritano agiu como Deus age, colocou em prática a escritura que o mestre da Lei interpreta, mas não vive.
Corremos muito esse risco de ser como os doutores da Lei. Devemos lembrar que naquelas duas figuras que passaram do lado de lá podemos estar nós, católicos de missa. Se a nossa fé não nos leva a ter misericórdia dos outros, somos simplesmente pessoas que praticam religião, mas não seremos discípulos de Jesus nem faremos o que Jesus quer que é ir ao encontro dos que sofrem para que o mundo seja melhor. Até por egoísmo a gente deveria fazer o bem para os outros: para que o mundo onde eu vivo seja melhor: se eu tenho menos violência, eu posso andar mais tranquilo na rua; se as pessoas têm mais comida, mais trabalho, mais educação, mais saúde, a sociedade toda ganha com isso. Vemos aqui os falsos moralismos que estão sendo usados agora “somos contra o aborto, família tradicional, contra a ideologia de gênero...” é tudo conversa mole. O povo está passando fome com essa política desastrada e incompetente, é o governo mais corrupto da história do Brasil, nunca tivemos tanta corrupção, corrompeu o congresso e vem falar de Deus, mas o seu deus é a morte – 700 mil brasileiros morreram por incompetência, porque as vacinas não foram dadas no tempo certo. Não se enganem com a religião que não cuida do que sofre. Não acreditem em quem fala de Deus e promove as armas. Não acreditem e quem fala de Deus e mata os índios, porque é mentira! Pelas obras, eu vou conhecer as pessoas e a obra desses que estão aí é a morte, então não caiam nessas conversas que são falsos moralismos. É isso é o que Jesus fala para aquele sujeito “agora vá e faça, seja misericordioso, promova a vida”. Esse é o caminho. Eu falo essas coisas, porque o Evangelho tem que ter sentido em nossa vida, o doutor da Lei já morreu, Jesus morreu e ressuscitou. O Evangelho é para nós hoje e tem consequências hoje.
Vamos pedir ao Espírito Santo que nos dê luz e graça para sermos promotores da vida.

Manter os olhos em Jesus e no Evangelho
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Solenidade de São Pedro e São Paulo Ano C – 03/07/2022 - missa às 10h)
Nós temos aqui essa apresentação que nos mostra São Pedro e São Paulo, a Bíblia que, neste caso, é o anúncio do evangelho que os dois proclamaram, a rede – Jesus disse: “vocês serão pescadores de homens” – e a chave, que lembra o poder petrino.
Muito bem! Jesus levou seus discípulos para essa região chamada Cesareia de Filipe, que era uma periferia perdida de Israel. Região desértica, pobre e quem governava era Filipe, irmão do rei Herodes Antipas, lá da Galileia. A região era tão ruim que a rainha largou o marido, que era o Filipe, e foi casar com o Herodes que tinha mais dinheiro, a mãe da Salomé não era grande coisa não. Mas também nos lembra a periferia do mundo, longe das influências do grande centro, que é Jerusalém, o Templo, o Sinédrio, o governador de Roma, o centro de pensamento, de economia. Jesus não quer nada disso, ele vai fora e lá, na periferia do mundo, na periferia de Israel, ele vai perguntar para os seus discípulos quem eles dizem quem é Jesus.
Primeiro Jesus pergunta quem é o filho do homem na opinião do povo. O filho do homem é uma figura misteriosa anunciada pelo profeta Daniel! Ele mostra Deus no juízo final e o profeta vê essa figura como um filho de homem que chega diante do pai e recebe autoridade, poder e glória, e Deus diz para ele: “não basta que você seja meu filho, eu farei de você luz das nações para que você leve a salvação a todos os confins da terra”, o salvador de todos.
Muitas vezes no evangelho, Jesus vai atribuir a si o nome de filho do homem. Existia essa outra figura que é o Messias, que era lido em chave política, seria o grande reformador da liturgia do templo, ia acabar com as sem-vergonhices que existiam no templo, dinheiro, essa coisa toda, e iria expulsar os romanos de Israel e fazer de Israel é a maior nação do mundo.
Quando Pedro responde “tu és o Messias, o filho do Deus vivo”, ele tem essa ideia na cabeça porque se nós continuarmos a ler o evangelho, logo depois dessa fala de Jesus, Ele vai começar a dizer “o filho do homem irá para Jerusalém e vai ser julgado pelos sumos sacerdotes, pelos doutores da Lei e pelos anciãos, vai ser condenado, torturado e morto, e no terceiro dia ressuscitará”.
São Pedro chama Jesus de lado e fala “para com essa conversa, que negócio é esse? Isso não vai te acontecer nunca!” Por quê? Porque Pedro tem a ideia do Messias político na cabeça. “Não, você vai acabar com tudo isso.” Jesus então chama Pedro: “afasta-te de mim satanás! Você é para mim pedra de tropeço porque você pensa como os homens e não como Deus.”
Pois é, mesmo para os discípulos demorou para entender que Jesus é o filho do homem nos moldes do profeta Daniel, e ele é também o Messias, mas Deus não quer aquela imagem que eles tinham de Messias. O Messias é outro, é de Deus e não da cabeça dos homens.
Mas padre, e essa frase aí no meio: “Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”? Nós não temos ali na narração da ressurreição o diálogo que Jesus teve com Pedro, nós sabemos que Pedro teve uma aparição de Jesus ressuscitado e muito provavelmente as frases que Jesus teria dito a Pedro foram deslocados para outros lugares do evangelho e uma delas é esta, que é o Jesus ressuscitado que fala Pedro.
Pedro depois que se arrepende, Pedro que corre para o túmulo porque ele não abandonou o mestre – ele abandonou lá, ele negou lá, mas ele não se vendeu para as trevas que nem Judas. Ele percebeu o erro e imediatamente volta atrás e permanece com os outros discípulos, reúne em torno de si os outros discípulos. Jesus, na manhã da ressurreição, aparece para Pedro, e nessa aparição muito provavelmente Jesus teria dito essas palavras e uma outra: “confirma a fé dos teus irmãos”.
Pedro, ao longo da sua vida, foi esse ponto de referência na comunidade de Jerusalém, mas também para as outras comunidades. Quando em Antioquia da Síria a comunidade começou a discutir se tinha que ter circuncisão dos novos discípulos de Jesus, São Paulo e Barnabé, mandados pela comunidade, vão para Jerusalém falar com quem? Com Pedro e os outros, e ali eles vão discernir qual é a vontade de Deus, e Pedro vai dizer: “nada de circuncisão, a lei de Moisés acabou”, e isso guiou a igreja e guia e até hoje.
Pedro esteve vários anos em Jerusalém, um breve período em Antioquia da Síria e depois foi para Roma. Em Roma, em torno dele se reunia a comunidade e, mais ou menos entre 64 e 67, nós não temos a data exata, como a perseguição de Nero, que é descrita no Apocalipse de São João, ele vai ser martirizado, ele e São Paulo.
Pedro foi crucificado de cabeça para baixo numa colina perto do Vaticano chamada Janículo. Hoje nós temos uma igreja naquele lugar chamada São Pedro em Montorio, ele teria sido crucificado ali e foi enterrado na colina do Vaticano onde existia um enorme cemitério. Foi enterrado ali. O Imperador Constantino mandou cortar o topo da colina, fazer um aterro danado para que em cima daquele túmulo onde estava Pedro se fosse construída a antiga Basílica do Vaticano. A Basílica que nós conhecemos hoje foi construída nos anos 1500, começou a ser construída pelo Papa Júlio II, em 1506.
São Paulo era fariseu. Os fariseus eram uns bons religiosos, gente observante da lei, e muito duro, muito fanático e começou a perseguir esse grupo estranho que se chamava o caminho. Você sabia que esse era o primeiro nome dos cristãos? O povo do caminho. Cristãos vai ser usado pela primeira vez na cidade de Antioquia, para onde Pedro vai mais tarde, e, ali, esse nome vai se espalhar e se tornar o nome dos discípulos de Jesus. Mas, nesse primeiro momento, era chamado o caminho, e Paulo veio atrás, mandava enfiar na cadeia o povo. Foi para Damasco, uma cidadezinha lá perto, para botar cristão na cadeia, levar para Jerusalém e mandar matar esse povo. Ele era um fanático fervoroso!
No meio do caminho Jesus apareceu para ele e falou: “eu sou aquele que você persegue”. Paulo ficou cego, foi levado para a cidade e recebeu a ordem de procurar ou ser procurado por aquele que nós chamaríamos hoje de pároco do lugar, daquela comunidade. Ananias era o chefe da comunidade, porque é na comunidade que nós temos o discernimento da fé, é na comunidade que nós aprendemos a seguir Jesus. Jesus nos quer em comunidade. Jesus não quer que a gente tenha tenha culto e devoção por ele sozinho em casa, isolados do mundo, Jesus nos quer em comunidade.
Então Paulo vai para a comunidade e lá começa a experimentar a vida da comunidade e anunciar nas sinagogas que Jesus é a esperança de Israel, aquilo que os nossos pais esperaram por mil e oitocentos anos aconteceu em Jesus. Paulo foi muito perseguido por causa do anúncio do evangelho! Ele fala na carta aos Gálatas que em 4 vezes ele recebeu as 40 varadas menos uma (eram 39 porque se fosse 40 cortava o pescoço). Era uma punição que se dava para as pessoas que eram consideradas malfeitoras, 39 pauladas nas costas, e Paulo sofreu isso quatro vezes. Foi preso, foi exilado, foi perseguido, passou fome, passou frio, foi maltratado, um horror. Ele sofreu demais por causa do anúncio do Evangelho.
O evangelho de Paulo é o evangelho da liberdade. A cruz de Jesus perdoou nossos pecados, nós estamos livres da lei. Nós somos salvos e justificados pela cruz de Cristo. Nós somos pessoas novas e, por causa disso, nós vivemos de um jeito novo e nós podemos amar e servir o próximo porque o nosso coração está lá onde está Jesus.
Paulo também foi mandado prisioneiro para Roma duas vezes, provavelmente a primeira vez por volta dos anos 54, teria sido absolvido, e, anos depois, por volta dos anos 64, teria sido preso outra vez e, com a perseguição de Nero, mandaram decaptar, mais ou menos no mesmo período São Pedro. Esse dois Santos recebem na igreja a mesma veneração porque eles são tidos como as duas colunas da Igreja, como nós vamos ouvir na liturgia, no prefácio da oração eucarística.
Pedro anunciou o evangelho para o povo de Israel, o povo da antiga aliança. Paulo, mestre das nações, anunciou o evangelho aos pagãos. É Paulo que vai dizer, quando ele está lá uma vez, tentando falar com judeus, e os judeus começam a debochar dele, aí ele fala “Deus mandou anunciar primeiro para vocês, vocês não querem! Eu vou anunciar para os pagãos.” E os pagãos que estavam ali na região escutando o que Paulo estava dizendo ficaram todos entusiasmados. Esse é o momento divisor de águas em que a comunidade de Jesus começa a tomar consciência de que é alguma coisa diferente do judaísmo. Depois dos anos 70 e da destruição do templo, no Concílio judaico de Jamnia, decidiu-se expulsar os cristãos da Sinagoga. Aí, então, nós seguimos livres o nosso caminho, mas essa foi ação também plantada por Paulo.
Pedro e as chaves, “eu te entrego as chaves do reino do céu”. Quem tem as chaves? Naquele tempo, quem é o detentor das chaves? O dono da casa. Quando Jesus no apocalipse diz “eu tenho as chaves da morte e do inferno”, o que ele está dizendo? “Essas duas realidades não têm poder sobre mim, eu sou senhor da vida”. Aqui, no caso, Jesus está dando para Pedro a autoridade de Deus. Não é que são Pedro é Deus, e nem os Papas são Deus, não são. E qual é o poder de Deus? O perdão dos pecados, nos perdoar.
E a outra missão de Pedro: confirmar a fé dos irmãos, nos guiar ao longo da história para que, em cada tempo, em cada lugar, a igreja responda aos problemas e aos desafios desse tempo. Lá em 1500, quando foi feito o Concílio de Trento, achamos outras situações, a gente não tinha internet, nós não tínhamos ainda nem o que nós chamamos hoje de ciência; é depois que isso vai mudando e a igreja vai respondendo. A igreja respondeu nos anos 800 quando o império romano do ocidente estava no buraco, e a igreja se associa a Carlos Magno para salvar o mundo do ocidente.
Cada época a igreja vai dando uma resposta guiada pelos Papas. Todos são santos? Não. Nós tivemos grandes santos, grandes Papas. Nós, nesses nesses últimos séculos, tivemos Papas maravilhosos. Neste século aqui, fabulosos, isso é uma graça de Deus. Mas nós tivemos porcarias também, não poucas. Nem por isso eles desviaram a igreja do seu caminho, nem por isso levaram a igreja para o erro, mantiveram o barco da igreja seguindo ao longo da história, anunciando o evangelho.
Vamos pedir a Deus pelo Papa, sucessor de Pedro e pelos nossos bispos, sucessores dos Apóstolos, para que sejam para nós, comunidade cristã, guias no seguimento do Evangelho.

Manter os olhos em Jesus e no Evangelho
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 13º Domingo do Tempo Comum Ano C – 26/06/2022 - missa às 10h)
Setecentos anos antes de Jesus, a Samaria, reino do norte, foi invadida pelos assírios, que deixaram de existir em comunidade nacional. Do povo de Israel, sobrou somente os dois reinos do sul: Judá e Benjamin. E esse pessoal misturou-se muito com as religiões pagãs, mas eles adoravam o deus de Israel. Porém o povo de Jerusalém tinha desprezo pelos samaritanos, e aí, durante esses setecentos anos, eles viveram em briga. Quando Jesus desce da Galileia, passa pela Samaria para poder entrar em Judá, Ele passa por uma vila e pede hospedagem, por quê? Porque naquele tempo não tem hotel na beira de estrada, não tem luz elétrica, não tem celular, não tem como discar para o 190 [número da polícia]. Se você está fora do povoado durante a noite, você corre riscos muito grandes, seja de ser roubado, de ser ferido por animais, de se perder... imagina uma noite que não tem lua, não tem poste de luz, você fica perdido no meio da estrada! Era terrível uma situação dessa, e Jesus é largado desse jeito então Ele fala com dois discípulos, os dois de "cabeça quente", que era São João e São Tiago e eles dizem: "Quer que mandemos um raio do céu para acabar com essa gente?". Jesus fica nervoso e dá uma bronca neles, porém essa bronca é o mesmo jeito que ele usava para fazer exorcismos, para calar o mar quando estava agitado, do mesmo jeito. O fanatismo religioso – João e Tiago ali no caso eram fanáticos – é tão ruim como o diabo que a religião combate, pois ele mata, esse ódio mata, exclui pessoas, acham que são de segunda ou terceira classe, que não valem nada, e isso é um perigo que nós corremos sempre. Todo fanatismo mata! Olha o Afeganistão hoje, mas olha para a história da Igreja, quantas pessoas nós matamos em nome da fé? Isso é fanatismo e não é bom. Toda vez que você olha para outro valendo menos, você está arriscando de matar o outro. Nós temos essa situação dos indígenas no norte do Brasil, por que estão sofrendo tanta perseguição? Porque as pessoas acham que eles não tinham que falar, porque acham que valem menos, que não são cidadãos como os outros, por isso matam. No sábado a noite, na cidade de Oslo, um norueguês abriu fogo em uma boate gay, matou algumas pessoas e feriu mais de 21 por ódio. O que essas pessoas fizeram a ele? Nada! Eles só são diferentes! Você não pode excluir o outro porque ele é diferente. Mas não vamos muito longe, olha essas partidas de futebol, vamos lá para assistir um simples jogo, se o time perdeu, perdeu, o outro ganhou, parabéns! Vamos esperar uma próxima para ver se o time ganha, mas isso não quer dizer que você precisa matar o outro, dar uma paulada no outro, isso é uma barbaridade. Isso são algumas das formas de fanatismo, fanatismo sempre diz que o outro é menos, que o outro está errado e não pode existir. É uma tentação constante dos discípulos de Jesus, então nós temos que ter os olhos sempre em Jesus para não nos desviar do caminho.
Então Jesus vai para esse outro povoado, sem saber se teria mesmo algum outro povoado por ali, se teria que dormir no meio do deserto, sem saber o que ia acontecer. Então vem um sujeito correndo atrás e fala "eu quero te seguir" – ele devia estar bem entusiasmado, provavelmente ouviu a pregação de Jesus e estava animado, e Jesus fala "ser meu discípulo pode significar que talvez você não seja acolhido, ser discípulo é algo exigente, pode tirar de você a segurança para tua vida". É muito sério. Aí vem outro falando "eu quero te seguir" e Jesus o chama: "Venha então, siga-me", mas ele responde "Ah, mas eu quero antes enterrar o meu pai", e Jesus vai responder "Deixe
que os mortos enterrem seus mortos". Jesus não está desprezando o rapaz e nem a dor pela morte do pai dele, Jesus está dizendo que o maior valor para a vida do discípulo é o anúncio do reino. Nós somos chamados por Deus, por força do nosso batismo, a ser anunciadores do reino, com nossa vida primeiro: uma vida de honestidade, de justiça, de paz, de solidariedade, e depois anunciar também com a palavra. Tanto que Jesus quando diz a ele para deixarem os mortos enterrarem seus mortos, é para ele anunciar o reino.
E finalmente o outro diz "Senhor eu quero te seguir, mas deixa eu me despedir da minha família" e Jesus vai dizer uma frase: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é digno do reino". A gente não pode amar a família porque segue Jesus? Pode. Mas temos que lembrar que a coisa mais importante é ter os olhos em Jesus e no Evangelho, e por quê? Até mesmo seus parentes podem te desviar do caminho, tem parente seu que faz chacota porque você vai na missa, porque você é um bom cristão, aí você começa a pensar em "dar uma maneirada", e você vai saindo do caminho. Naquele tempo, o arado quando tinha ponta de metal estava bom demais, às vezes era uma ponta de madeira... se a pessoa tinha dinheiro, tinha junta de bois e vai abrindo os sulcos da terra, mas você precisa ficar atento no arado para seguir sempre na mesma linha. Se você se distrai, o boi vai para o outro lado e vai ficar com o terreno todo perdido. Então a frase de Jesus quer dizer "não se distraia do Evangelho que você tem que seguir". Nem o afeto familiar deve desviar você da atenção a Jesus e ao Evangelho, porque Jesus e o Evangelho são importantes, todo o resto pode ser simplesmente dispensado.

Amar e servir nossos irmãos e irmãs
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 12º Domingo do Tempo Comum Ano C – 19/06/2022 - missa às 10h)
No antigo testamento acreditava-se que as pessoas piedosas eram protegidas por Deus, nada aconteceria com elas. Então o que aconteceu com o Rei Josias que era um ótimo rei? Se vocês olharem os dois livros dos reis, são poucos os reis que são elogiados. Tinha rei que se casava com princesas estrangeiras e trazia um monte de deuses pagãos para o reino de Israel, era uma bagunça, mas alguns não, alguns foram muito bons e tentaram reconduzir o povo, tentaram tirar os templos pagãos, e um desses grandes reis foi Josias, isso um pouco antes do exílio da Babilônia.
Esse rei era muito bom, amado por todos, aí foi para a guerra e todos pensavam que Deus iria proteger, mas um flexa matou o homem. O povo ficou doido: “mas ele é um homem bom, justo, religioso” – isso é o que colocou a questão sobre o sofrimento e a morte do inocente, e Deus fala “eu darei para Jerusalém um tempo de contrição, ver o mal que fez para os outros”; isso é arrependimento, se dar conta do que se fez de mal, no que dificultou e até acabou com a vida do outro, se converter desse tipo de ação para que possa haver vida e alegria para todos. Então, em Jerusalém, Deus vai dar isso – não em Jerusalém, Palestina hoje, mas para o seu povo onde quer que esteja.
Depois nós temos Jesus no evangelho que está terminando seu ministério na Galileia, no norte da Palestina, depois descendo tinha a Samaria e depois a Judéia, e Jesus fez grande parte do seu ministério na Galileia. Partiu para Jerusalém, onde acontecem os confrontos tremendos de Jesus com os líderes religiosos daquela época e eles acabem matando Jesus crucificado. Por isso, Jesus diz: “não digam para ninguém que sou o Cristo” porque a missão dele não tinha acabado.
Jesus nos revelou que o messias de Deus é diferente do que se pensava, um messias poderoso, glorioso e que fosse engrandecer Israel, não, Jesus mostrou uma outra messianidade. Os planos de Deus são diferentes, é na cruz que aparece a obra messiânica de Jesus, de fato, é debaixo da cruz que um pagão, o centurião, fala: "esse era filho de Deus”, o messias que assume sobre si a maldade do mundo.
Quem matou Jesus? Os sumos sacerdotes que eram todos ateus, não acreditavam na ressureição dos mortos, na vida eterna, nos anjos, em nada. “A vida tem que viver aqui, observar a lei aqui e depois é pó” – esses eram os saduceus, e esses eram os sumos sacerdotes. Depois temos os anciões que eram os homens ricos, famílias tradicionais, geralmente grandes latifundiários e os doutores da lei que, na sua maioria, eram fariseus, os bons religiosos, observantes da lei, se faziam reconhecer e aclamar como bons judeus. Esses três grupos mataram Jesus, não reconheceram sua messianidade – ou reconheceram e, por isso mesmo, o mataram, para não mudarem suas vidas. Continuaram assim por 40 anos.
Quem traz e quem pratica a injustiça no mundo são aqueles que fazem e multiplicam o número dos pobres, são aqueles que descuidam da saúde do povo, que empobrecem o povo, que perseguem os justos, são aqueles que matam as pessoas que defendem os pobres. Tivemos esse caso vergonhoso agora dos assassinatos da Amazônia que o mundo inteiro está vendo. O padre Júlio Lancelotti vive sendo ameaçado de morte porque cuida dos pobres, e cuidar dos pobres é colocar o dedo na ferida de um Estado injusto que produz a pobreza.
Jesus, com as suas brigas, debates, confrontos com esses três grupos que falei, sumos sacerdotes, anciãos e doutores da lei, vai desmascarar a iniquidade desse povo, não vai ter papas na língua, vai chamar esse povo de hipócritas: “vocês são sepulcros que carregam um monte de podridão dentro e se parecem bonitos”. É crítica grave! Jesus chama Herodes de raposa, são coisas pesadas. Jesus não acaba onde acaba porque falou palavrinhas bonitas, quem fala palavrinhas bonitas não acaba na cruz.
Jesus enfiou o dedo na ferida, eu digo que ele arrancou o fígado das pessoas e dos grupos que geravam sofrimento e morte no meio do povo porque Deus olha, Deus escuta o grito do inocente que sofre. Cuidado, inocente não quer dizer santo, não é porque é pobre que é santo, mas exatamente por ser pobre que Deus olha para ele.
Deus olha para onde tem sofrimento, dor, pobreza e morte. Se você deixa de comprar vacina e deixa um monte de gente morrer, os que morrem são inocentes mesmo não sendo santos, vítimas de um Estado iníquo. Se parte do Brasil vira terra de ninguém, terra sem lei, terra do narcotráfico, é porque quem devia não fez nada, mas é nossa terra e deveria ser protegida do crime. E o Estado não faz, pelo contrário: tirou até o pouco que tinha de proteção para aquilo ser terra de ninguém e ganhar mais dinheiro, isso é iniquo. Mata as pessoas que defendem o direito do povo que sofre na região. Não é o primeiro, não são os primeiros, são muitos anos que temos isso: morte de quem defende o mais fraco.
Isso Jesus fez, isso denuncia um Estado, uma sociedade, uma mentalidade de morte que não é de Deus. Nós, cristãos, somos chamados primeiro a denunciar, mas você só denuncia se você se escandaliza, nós chamamos isso de indignação ética, se você reconhece nesse sofrimento dessas pessoas algo que Deus não quer. Deus não quer bomba em cima de ninguém na Ucrânia, Deus não quer ninguém passando fome, Deus não quer as nações da África sendo dizimadas por guerras e interesses estrangeiros, impossibilidade de vacinar as pessoas porque não tem nem onde guardar as vacinas, situações terríveis de pobreza.
Deus não quer nada disso num mundo tão rico como o nosso! Deus não quer esse sofrimento. Nós temos que aprender a ver o outro como irmãos, e um irmão meu eu não quero ver passando fome, um irmão meu eu não destruo, um irmão meu eu não mato. Jesus disse isso, defendeu e mostrou a iniquidade do mundo, do templo, porque ali, naquela época, o executivo, o legislativo e o judiciário ficavam todos nas mãos desse sinédrio. Jesus denunciou a iniquidade desse povo que não estava seguindo a vontade de Deus apesar de se dizerem “de Deus”, por isso ele acaba na cruz.
Então, quando lemos o evangelho, temos que tirar uma casquinha de açúcar que fomos jogando em cima do evangelho e, de repente, o evangelho não diz mais nada. Arranca essa casquinha de açúcar e você vai descobrir o verdadeiro Jesus lá dentro.
Vamos pedir a Deus que possamos sempre olhar para Jesus, mudar na nossa vida aquilo que não está de acordo com o evangelho para poder amar e servir os outros porque são nossos irmãos e irmãs.

Jesus na Eucaristia - vida eterna
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Solenidade de Corpus Christi Ano C – 16/06/2022 - missa às 10h)
Corpus Christi. Essa festa acontecia na diocese de um Papa da idade média, e, quando ele foi eleito Papa, ele estendeu essa festa para o mundo inteiro. O que significa o Corpus Christi? As palavras são em latim, elas querem dizer "Corpo de Cristo". E por que esta festa? Porque ao longo dos séculos, nós tivemos muitos grupos de hereges que negavam a presença real e permanente de Jesus na Eucaristia, muitos grupos. Santo Antônio, por exemplo, que nós celebramos alguns dias atrás, participou de um grande movimento de evangelização contra esses hereges, então ele ia pregar ao povo mostrando que Jesus estava realmente presente na Eucaristia.
A presença de Jesus na Eucaristia não é um pedaço de carne e duas gotas de sangue. É Jesus inteiro, é a vida de Jesus que está no pão e no vinho, a vida de uma pessoa que é Deus, que passou sua vida terrena fazendo o bem: perdoou os nossos pecados, curou doentes, ressuscitou mortos, teve seguidores, pregou para as grandes multidões de pobres, criticou os poderes constituídos no templo do rei Herodes, e morreu exatamente por causa de suas posturas e posições que conflitavam com as ideias dos senhores dos templos de Jerusalém.
Por isso que é bobagem reclamar, por exemplo, que os padres falem alguma coisa da vida pública e política. Lembrem-se: Jesus fez isso, e os padres vão responder diante dele se não anunciarem o evangelho. Onde tem morte, nós temos que denunciar que ali há morte, para que se promova a vida! Jesus morreu por isso, porque pregou a fraternidade! Toda essa vida, a sua morte, a sua ressureição e sua glória estão ali, presentes na Eucaristia. Jesus entra em relação conosco pela ação de fraternidade. Jesus diz para Madalena: "vai aos meus irmãos", ele tem uma relação de fraternidade conosco. Onde quer que nós estejamos, Jesus nos vê como irmãos e irmãs.
A comunidade primitiva ficou impressionada com o que Jesus fez naquela última ceia, que não foi a Páscoa hebraica – a Páscoa hebraica foi no dia seguinte, Jesus estava morto quando celebraram a Pascoa hebraica. Existia, naquele tempo, um ritual nas refeições, e Jesus toma o pão na benção mais solene que existia na celebração e muda as palavras.
Os hebreus conheciam aquelas palavras pois eram 1800 anos, ou pelo menos 1200 que se celebrava a fuga do Egito e a passagem da escravidão para a liberdade, e Jesus muda! Isso chama tanto a atenção dos apóstolos que essas palavras se gravam que nem fogo na mente deles. No vinho, Jesus também muda as palavras, não é mais o cordeiro, um bicho, não é mais um sangue de animal, a aliança agora é com a vida de Jesus pelo sangue derramado por cada um, sangue que grita misericórdia diante do Pai em nosso favor. Isso nos diz a carta aos hebreus: o sangue de Jesus intercede por nós diante do Pai.
E é muito interessante ver os gestos: tomou, deu graças, partiu e deu. Na multiplicação dos pães nós vemos estes quatro atos/gestos, então a multiplicação dos pães não está falando apenas de um milagre, houve sim um milagre que marcou muito a comunidade, tanto que alguns evangelhos contam duas vezes o mesmo milagre. Jesus tem compaixão, ele quer que o povo tenha vida! Ele não quer pobres e miseráveis sofrendo, não quer 33 milhões de famintos, não quer 120 milhões de pessoas que não sabem se vão ter a janta de hoje num país que é o segundo exportador de comida do mundo, e, em alguns alimentos, o primeiro.
Jesus não quer essa contradição, não quer essa loucura, ele vê o povo faminto e se preocupa em dar o pão para esse povo! Jesus não quer o povo com fome, não quer o povo vivendo na rua, não quer a Amazônia dominada por traficantes, madeireiros e garimpeiros ilegais matando índio, Deus não quer isso.
Então o Evangelho tem a ver com nossa vida? Tem e muito! Jesus deu o pão para as pessoas, não deu conversa mole, não deu leis injustas, não corrompia parlamentos com orçamentos secretos e outros “dinheirões” dentro dos bolsos de centrões. Jesus quer que o povo coma, que tenha vida. Jesus não mente, Jesus diz a verdade. E, no final deste evangelho [Lc 9, 11b-17], depois que o povo comeu até a saciedade, não é um pedacinho para tapar a fome, o povo come até se sentir saciado – “Eu quero que todos tenham vida, e vida em abundância!" – é isso que Deus quer para nós; todos comeram, ficaram satisfeitos, e aqui é uma imagem simbólica: sobraram doze cestos de pães. O que quer dizer isso? Doze é o número dos apóstolos, em uma outra versão serão sete, que era o número dos diáconos, e o quer dizer isso? Os discípulos, os apóstolos, e os sucessores deles ao longo da história nos distribuem o pão da vida, e o pão da vida é a Eucaristia, por isso nós temos que rezar para ter vocações.
O povo de Deus tem direito à Eucaristia e ao perdão dos pecados, mas para isso precisa ter padre, e para ter padre tem que rezar, pedir para Deus, para chamar esses meninos e jovens, dos vossos filhos e netos! Que Deus chame jovens para ser sacerdotes, que garantam para esta comunidade a Eucaristia e o perdão dos pecados. Celebrar a Eucaristia, celebrar o Corpo do Senhor é celebrar a vida de Deus conosco, é celebrar a vida que Deus quer que tenhamos, é celebrar nosso empenho para que o nosso povo, nosso bairro, cidade, estado, país, o nosso mundo não tenha mais famintos, não tenha mais pessoas sem casa, sem saúde, sem educação. Deus quer a vida, e vida em abundância para todos, e Jesus na Eucaristia é para nós vida eterna.
Vamos pedir ao Senhor que Ele nos dê a graça de nos aprofundar sempre mais no mistério da sua presença real no Pão e no vinho e aprender dele a trabalhar e nos empenhar para que todos tenham vida.

A Santíssima Trindade e a fraternidade
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Solenidade da Santíssima Trindade Ano C – 12/06/2022 - missa às 10h)
Nós estamos na solenidade da Santíssima Trindade. Nós não adoramos o Deus dos hebreus, não adoramos o Deus dos muçulmanos, nós adoramos a Trindade. Os hebreus e os muçulmanos adoram um único Deus e, com eles, nós somos as três religiões monoteístas do mundo, mas o nosso Deus único é trino: Pai, Filho e Espírito. Jesus diz no Evangelho: “O Espírito receberá do que é meu, ele dirá o que ouviu”, mas Jesus também fala isso de si mesmo: “eu falo o que o Pai me disse, eu vos comunico o que o Pai me disse” e depois Ele vai dizer: “eu e o Pai somos um” e vai dizer mais: “se eu ajo com o dedo de Deus é porque entre vós chegou o reino de Deus”. O dedo de Deus é um modo de dizer o poder de Deus e do Espírito Santo.
Quem pode ver Deus? Ninguém. Deus habita em uma luz inacessível. Quando Moisés pediu para ver Deus, Deus falou para ele: “você vai se esconder na rocha, no buraco, em uma caverna, eu vou colocar a minha mão na entrada da caverna e vou passar diante de ti com toda minha glória e você vai me ver pelas costas, porque ninguém pode ver o rosto de Deus e permanecer vivo”. Aí a gente olha no evangelho de São João que diz: “aquele que tem o rosto voltado por Pai”: ele nos revelou que quem tem o rosto voltado para o Pai é Jesus, na eternidade, verbo eterno do Pai. Quem pode olhar o rosto do pai? Só Deus. Jesus é Deus, só Ele pode olhar para o rosto do pai. Quem pode ouvir e comunicar a palavra do Pai? Jesus é o verbo encarnado, e o Espírito porque o espírito é Deus. Como o Pai e o Filho, o Espírito perscruta, olha o coração de Deus. O Espírito é o amor de Deus entregue para nós.
Então a Trindade vive um abraço estreito e a força que abraça o Pai e o Filho é o Espírito. Esse abraço é tão forte, tão potente que as três pessoas são uma única divindade e cada pessoa tem as outras duas em si – sem ser esquizofrênicos; quem tem múltipla personalidade é doido, mas pra Deus isso é possível.
Essa representação do altar mostra a Bíblia na primeira página e a primeira frase da Gênesis é “no princípio, Deus criou o céu e a terra”. Nós atribuímos a criação do universo ao Pai, mas o Pai cria no Filho e com o poder do Espírito – as três pessoas agem sempre aqui. Em seguida, temos aqui a cruz: Jesus, o verbo encarnado do Pai, que cumpre a vontade do Pai. O Pai quer a salvação do universo e o Filho é enviado pelo pai para anunciar e viver isso. E Ele o faz com a força do Espírito Santo. Por último, temos o Espírito Santo que é representado por várias imagens como o vento, o fogo, o óleo, a água, a pomba que desce de forma certeira no ninho... Quando João fala que viu o céu se abrir e o Espírito descer como uma pomba não é porque parecia uma pombinha voando, ele quis dizer que o Espírito desceu de forma certeira sobre Jesus para indicar o início da missão de Jesus. É um sinal externo porque Jesus está em eterna comunhão com o Pai e o Espírito.
Se olharmos para a Trindade perguntamos “saber tudo isso o que muda na nossa vida?”. A Trindade são três pessoas completamente diferentes: o Pai é o gerador, o Filho é gerado, e o
Espírito é expirado. São três situações diferentes que em Deus, por força do Espírito, estão tão unidas que formam um só. Um único Deus em três pessoas representa harmonia, amor, luz, graça, alegria. Para traduzir na nossa forma de viver, na nossa condição humana, isso é fraternidade. Jesus diz: “vou para o meu Deus e vosso Deus, meu pai e vosso Pai, vós sois todos irmãos”. Deus não faz distinção de pessoas. O que pode criar vida entre nós? Fraternidade. Viver realmente e crer realmente que nós somos todos irmãos e irmãs. A fraternidade entre nós é a realização em nós daquilo que é o amor de Deus por nós, e qual é a vontade da trindade? Que todos sejamos um. Foi isso que Jesus falou que nós estejamos neles e eles em nós, é isso que Deus quer de nós e temos que aprender isso aqui nesse mundo, lugar de viver a graça e o poder de Deus. Para isso, não precisa ter poder ou milagre, é amar o outro, é ver que o outro é meu irmão e irmã. Algumas pessoas nós temos que ajudar a se levantar, outras temos que colocar na cadeia para aprender a viver como irmãos, mas, todos são irmãos. Se vivemos como irmãos, não tem fome, não tem miséria, não tem gente mentindo ou matando, porque o outro é meu irmão. É diferente de mim, mas eu não quero matar o meu irmão e nem minha irmã. Isso é caminho de Deus e o que a Trindade ensina, é nisso que a Trindade nos é modelo. Deus quer que sejamos como Ele. Vamos pedir a Virgem Maria que reze por nós e conosco; ela que é e que foi filha predileta do Pai, mãe do verbo divino encarnado, templo do Espírito Santo, que Nossa Senhora nos ensine a viver o amor que Deus tem no coração dele: a fraternidade.

Que o Senhor nos encha do Espírito
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Solenidade de Pentecostes Ano C – 05/06/2022 - missa às 10h)
Nós temos hoje aqui essa decoração que nos lembra os 7 dons do Espírito. O Espírito de Deus é Deus como o Pai e o Filho, é a ação em Deus. Nós, na teologia, usamos um modo esquisito de falar: o Espírito Santo é a hipostatização de todos os atributos divinos. O que quer dizer isso? O Espírito Santo é a divindade em Deus, o Espírito Santo é o amor de Deus, o Espírito Santo é o poder em Deus, o Espírito Santo é a onisciência de Deus. Todos os atributos de Deus são do Espírito Santo, e o Espírito de Deus leva não só a humanidade, mas toda a criação, à sua plenitude que vai ser a comunhão com o Pai e o Filho.
Quando São Paulo nos fala “Deus será tudo em todos, Cristo será tudo em todos, então ele entregará o mundo nas mãos do Pai que se faz na força do Espírito”, o Espírito Santo faz com que a palavra de Deus seja atual sempre. O evangelho de Jesus sempre é capaz de responder às nossas várias situações da vida ao longo dos tempos!
Nós vivemos o século 21, temos os nossos problemas, somos 7 bilhões de pessoas nesse planeta. Nós temos a consciência de planeta e antes não se tinha essa consciência, nós temos tecnologia, hoje nós estamos com o problema da Covid, e o que a palavra de Deus tem para dizer sobre isso? Tem alguma coisa para dizer? É o Espírito Santo que nos ajuda a fazer com que a palavra de Jesus possa ser vivida hoje no tempo da Covid, no tempo da tecnologia e até no tempo das fake news. Viver hoje o evangelho, o amor ao próximo, o serviço.
Nós ouvimos na sequência “iluminai a escuridão”. O tempo nosso, com a Covid, está levando muita gente à depressão, e ela é descrita como escuridão, o não-sentido, o vazio. É o Espírito de Deus que é capaz de dar luz para o nosso coração, iluminar as nossas trevas. Então, nesse tempo, pedir ao Espírito que nos dê luz, nos dê discernimento nesse tempo de tanta mentira, tanta polêmica, tanto problema. Pedir ao Espírito de Deus que nos mostre o caminho do Evangelho, o rumo de Deus, para que nós não nos enganemos e não enganemos os outros.
O Espírito de Deus é apresentado por Jesus como o advogado, o defensor: “Eu enviarei do Pai o outro defensor”. Por que outro? Quem é o defensor? Jesus! Jesus atrai sobre si a maldade do mundo. O mundo se joga sobre Jesus e o mata, mas esse é o maior testemunho de amor e fidelidade que nós temos. O Espírito Santo, como o outro o defensor, faz com que a comunidade cristã seja a face de Jesus presente no mundo. De fato, em muitos lugares do mundo, a Igreja é perseguida e cristãos são mortos porque são de Cristo, porque defendem a justiça, a paz e a verdade.
A gente fala “nossa, isso pode estar longe de nós”, e não está não! Vocês viram essa semana aqui em São Paulo os discursos de ódio contra o Padre Júlio Lancellotti? Por quê? Porque cuida dos pobres. Cuidar dos pobres é cuidar da vida, é promover a vida nesse nosso tempo. Isso é a força do evangelho que nos leva, e toda vez que você segue o evangelho pode ter certeza de que você vai levar paulada na cabeça.
É o Espírito Santo que nos leva a seguir o evangelho e a dizer como São Paulo: “Ai de mim se eu não anunciar o evangelho”, ou como profeta Jeremias: “Eu tentei até não falar mais a Tua palavra, eu tentei não ir mais atrás disso, mas a Tua palavra é um fogo, parece que queima nos meus ossos, eu tenho que falar!” Essa é a força do Espírito.
Nós somos chamados a pedir ao Espírito de Deus e poder viver o amor de Jesus no nosso tempo, na nossa família, no nosso trabalho, na sociedade, na política, dentro da comunidade cristã. Ser testemunhas de Jesus, esse é o caminho do Evangelho, essa é a via que nos leva o Espírito.
Ai a gente fala: “mas, padre, o senhor fala de ação, fazer isso, fazer aquilo… e o Espírito Santo?” O espírito de Deus é como o vento, é como o fogo, é certeiro igual uma pomba que desce para o ninho. Nós vemos o efeito, mas não vemos ele porque o Espírito de Deus é livre. Nós não conseguimos prender o Espírito de Deus, por isso se fala de vento, fogo, é ação, e a ação dele na nossa vida é o amor pelos que sofrem.
Vamos pedir ao Senhor que ele nos encha do seu Espírito para que nós possamos realmente testemunhar Jesus neste nosso tempo.

A Ascensão é um convite à propagação do Evangelho
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Ascensão do Senhor Ano C – 29/05/2022 - missa às 10h)
São Lucas escreveu uma grande obra em dois volumes, que foi idealizada assim desde o início. O primeiro volume é o Evangelho de São Lucas e o segundo é o Atos dos Apóstolos. Ele encerra este evangelho falando da Ascensão e começa o Ato dos Apóstolos narrando a Ascensão de Jesus de novo.
O que é a Ascensão? Deus, na sua infinita bondade, esvazia-se de si e torna-se um de nós. É como se Ele tirasse de cima de si Sua glória e se tornasse igual a nós. Deus pode fazer isso. Viveu a nossa vida, teve nossas alegrias, sofrimentos, angústias, nosso trabalho, anunciou o Evangelho e, no fim, foi assassinado pelo sistema político daquele tempo, que era o sinédrio judeu e o poder romano. O Pai aprova toda a ação de Jesus. Jesus, sendo Deus, nos revela como é o coração de Deus. Deus é fiel até o fim. O Pai se entrega todo para o Filho e este, imitando o Pai, se entrega totalmente a nós até a morte de cruz. O amor de Deus não tem limite. O limite do amor humano é dar a vida pelo outro e Jesus faz exatamente isso: dá a vida pelo outro para mostrar a fidelidade de Deus. É interessante ver que o trecho da carta aos hebreus que ouvimos hoje [Hb 9,24-28;10,19-23] termina exatamente com essa frase: “é fiel aquele que fez a promessa”. Esse é o nome de Deus: fidelidade. A ascensão é o final da missão visível de Jesus nesse mundo. Deus se fez um de nós por 33 anos. Ele caminhou conosco em um determinado lugar, em um determinado tempo da história, em uma determinada cultura. Viveu a vida ali, foi morto e nos revela que a vida não termina no frio do túmulo, mas sim que ela se abre para a eternidade. Essa é a revelação de Jesus. E os apóstolos, que viram Jesus mais uma vez, contemplaram essa realidade nova, que é Deus após 40 dias. Eles tiveram várias experiências de Jesus ressuscitado, que não é um defunto que volta a andar, mas sim outra coisa. Jesus foi além da morte: atravessou o vale da morte junto do Pai e se manifesta para nós.
Senhor da vida eterna, a morte não tem poder sobre Jesus. No livro do Apocalipse, vemos Jesus que tem as chaves do lugar dos mortos na mão. Isso significa que Ele é o dono. Quando você tem um cachorro e tem a coleira dele, você é o dono e tem poder sobre ele. A mesma coisa Jesus, sobre a morte, o mal e o inferno. Jesus tem tanto domínio sobre o inferno que a última palavra da história é de Jesus. E a última palavra de Deus é misericórdia. Então Jesus nos manifesta isso. A ascensão é o fim desse período em que Jesus está conosco de forma visível mesmo nessas manifestações da ressureição. Para que Jesus esteja conosco de outro modo, para que Ele esteja presente na comunidade de seus discípulos e discípulas e essa comunidade possa fazer transparecer o rosto de Jesus. Todas as vezes em que nós nos amamos como irmãos e irmãs, em que vivemos e promovemos a justiça a paz, ou somos solidários com os que sofrem, ou lutamos para que haja justiça e igualdade nesse mundo, estamos fazendo transparecer o rosto de Jesus, que permanece em nosso meio.
Jesus, quando ascende ao céu, é como se ele se expandisse e abraçasse o mundo todo em todos os tempos, de modo que hoje possamos testemunhar Jesus do mesmo jeito que aqueles homens e mulheres testemunharam Jesus há dois mil anos e ao longo de todo esse período da história. Quem faz com que Jesus esteja presente desse modo no nosso meio? O Espírito Santo. Porém, no Pentecostes, que nós vamos comemorar domingo que vem, poderíamos falar “presta atenção ao próximo capítulo”. Nós lemos a escritura e rezamos, tendo o cuidado para não ficarmos alienados. E Jesus, mais de uma vez, nos ensina isso, já no Antigo Testamento, quando Elias fugiu pro Monte Horeb dizendo “quero morrer, não quero mais fazer nada disso”. Deus aparece e, depois de conversar com ele, diz: “pode voltar por cima dos seus passos, pois você tem uma missão”. Lá no Monte Tabor, quando houve a transfiguração, São Pedro, São João e São Tiago estão lá e São Pedro diz: “nossa, é tão bom a gente ficar aqui”. Claro que é, pois é o céu. Quem não vai querer? Mas Jesus diz: “a gente vai descer o morro porque temos uma missão a cumprir”. Maria Madalena, quando Jesus ressuscita, ela vê Jesus e vê o céu. Ela quer abraçar Jesus e diz que quer viver a eternidade. Mas Jesus fala: “vá anunciar para seus irmãos”. O céu é para depois, mas a missão é para agora. Situação semelhante ocorre quando Jesus abençoa os discípulos e é levado pra junto do Pai. Eles ficam pasmados olhando para o céu. Aí vem os anjos e falam: “Ele disse para vocês irem anunciar o Evangelho em Jerusalém, na Samaria e no mundo inteiro”. Você olha pra Deus, lê a Sua Palavra a fim de viver e anunciar o Evangelho, a Boa Nova.
Aprender a viver com os outros como irmãos: este é o caminho do Pai. Caminho este anunciado por Jesus. Esse é o caminho que nos impulsiona o Espírito Santo. Vamos louvar a Deus pela Sua misericórdia de nos revelar isso e nos capacitar a viver como irmãos e irmãs.

Buscar a transformação para a Jerusalém Celeste
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 6º Domingo da Páscoa Ano C – 22/05/2022 - missa às 10h)
Jesus está na Última Ceia, Judas já foi embora e Judas Tadeu pergunta para Jesus se é essa a hora que ele vai se manifestar para o mundo. O que significa? Judas Tadeu, depois de 3 anos com Jesus, e Jesus falando que o reino de Deus é diferente do que pensam os hebreus, que o Messias não é como os hebreus querem, e Judas Tadeu pergunta para ele: “é agora? Vai ser o reino agora?” Jesus vai dizer: “quem ouve a minha palavra, nesse o pai faz morada.”
O reino de Deus é reino de paz, de serviço, de solidariedade, de fraternidade. Jesus vai dizer: “eu vos dou a paz”, mas não como o mundo dá a paz! A paz do mundo é a paz romana: os romanos chegavam no lugar e, ou o pessoal se rendia, ou eles massacravam tudo, colocavam “paz romana”. É violência, força, subjugar os povos, isso não é de Deus, Deus não quer isso. E é exatamente isso que está na cabeça dos hebreus quando pensam no messias ou no reino do messias: um messias que vá botar ordem em tudo, mudar todas as liturgias do templo, expulsar os romanos da Palestina e implantar um reino que dominará o mundo inteiro. É essa a ideia que eles têm na cabeça.
Jesus fala não! O reino de Deus caminha por outras vias, é reino de paz e de entrega de si para os outros, é confiança total no Pai. Jesus se coloca como modelo: eu me entrego na total confiança para o Pai, e o Pai é fiel, o Pai da vida eterna. Jesus nos convida a fazer a mesma coisa, gastar nossa vida fazendo o bem e confiantes de que o Pai não vai nos abandonar. Mesmo que vierem perseguições e morte, o Pai estará conosco.
Jesus fala do Espírito Santo, o defensor, o advogado, o outro advogado – o primeiro é Jesus, que pede por nós ao pai. O Espírito Santo vai nos recordar as palavras de Jesus, o amor de Jesus em cada tempo. Hoje os nossos problemas são diferentes dos tempos de Jesus, são diferentes de quando teve o descobrimento do Brasil, são diferentes dos problemas no Japão ou na Índia. O Espírito de Deus fala conosco hoje, aqui, para que aqui nós possamos viver a palavra de Deus, colocar atualizada a palavra de Jesus aqui no nosso meio.
A comunidade cristã é lugar de discernir, de escutar a palavra de Deus que o Espírito Santo acende no nosso coração. Nós ouvimos o livro do apocalipse, essa cidade maravilhosa que São João vê sobre a montanha – a montanha, na Bíblia, lembra a presença de Deus. É interessante ver que, no Apocalipse, nós temos duas cidades, Babilônia, chamada de prostituta, e Jerusalém Celeste. Uma coisa interessante é perceber certas coincidências entre essas cidades! A Babilônia é quadrada, tem um rio que atravessa a cidade. A Jerusalém do alto, a Jerusalém Celeste, também tem um rio que atravessa a cidade. Nós nos perguntamos “mas, é outra cidade ou é a mesma cidade convertida?”
O mundo de Deus é de Deus, é uma outra realidade e vai se manifestar no último dia, mas, nesse mundo, nós somos chamados a transformar nossa sociedade que, muitas vezes, é Babilônia, a cidade da morte, a cidade que explora, a cidade que bebe o sangue dos inocentes. Nós, cristãos, somos chamados pela nossa ação transformar essa cidade para que ela se torne cada vez mais parecida com a Jerusalém Celeste. Nós podemos viver um mundo de irmãos aqui, agora. O reino de Deus é simplesmente decorrência disso, se entra no mundo de Deus e se vive lá a radicalidade da fraternidade que nós já começamos viver aqui.
Muitas vezes, nós nos perguntamos “e como é viver isso?” – olhar se o que você faz, se o que a comunidade faz, se o que a nossa sociedade faz é gerador de vida ou de morte. “Ah, mas ninguém sai aí dando tiro para todo mundo” – tem uns doidos que saem! “Ninguém sai dando tiro para todo o mundo então está ótimo.” Não, não está ótimo! Nós temos pobreza, nós temos injustiças, nós temos desigualdades, nós temos governantes que estão querendo agora destruir a educação do Brasil. Fizeram essa semana uma votação que a gente só pode chamar aquilo de iníqua, colocando a educação em casa. Para você educar seus filhos em casa, você tem que ser um professor! Bota um negócio desse nas nossas favelas, nas nossas comunidades, isso vai acabar com a educação do país. Esses são instrumentos da morte, esse é o antirreino.
Na nossa comunidade, às vezes, se critica, se fala mal, se faz fofoca, se luta contra... você está trabalhando para o antirreino. O reino de Deus é solidariedade, é se dar as mãos, é fazer o possível para que tudo funcione bem mesmo que eu não apareça. E em casa? O respeito, o diálogo, não viver uma vida escondida em que a mulher não sabe o que o marido faz ou que o marido não sabe que a mulher faz. Os filhos que podem viver também com uma vida escondida, isso não cria família, isso é o antirreino. Diálogo, amor, compreensão, perdão, esses são valores do reino e essas coisas fazem que a nossa vida vá se transformando cada vez mais na Jerusalém Celeste.
Vamos pedir ao Senhor que ele nos ajude a trabalhar sempre pelo reino e, quando nós descobrimos em nós elementos ou raízes que não são boas, que Deus nos dê a coragem de arrancar essas raízes ruins e buscar o reino de Deus.

Qual a medida do amor de Deus?
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 5º Domingo da Páscoa Ano C – 15/05/2022 - missa às 10h)
O Evangelho de hoje [Jo 13,31-33a.34-35] se apresenta num momento dramático. Nós estamos na última ceia, Jesus sabia que estavam fechando o cerco em volta dele, e num certo momento ele percebeu que Judas tinha se vendido para o outro lado. E Jesus diz pra Judas: o que você tem que fazer, faça logo! Interessante o Evangelho dizer que Judas saiu e era noite – Judas abandona a luz e entra para o mundo das trevas. No meio das trevas, ele vai aparecer a última vez, lá com os soldados que vão prender Jesus. Ele desaparece nas trevas. E nesse momento, Jesus percebe que, realmente, é questão de horas. Ele abre o seu coração. Dentro de algumas horas, Jesus vai revelar a medida do amor de Deus. A medida do amor de Deus é a não medida. O que o ser humano pode fazer pelos outros é dar a vida, morrer pelo outro é o máximo que nós podemos fazer. E nisso Jesus revela a fidelidade do Pai. Deus é fiel. De Deus não se deve ter medo, Deus é vida, Deus salva. Deus quer a vida para todos. Jesus se entrega como fidelidade ao Pai. O Pai entrega tudo, eu entrego tudo. E Ele vai dizer aos apóstolos, vamos dizer assim, o segredo do seu coração: Eu vos dou um novo mandamento, amai-vos uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros.
Amar o próximo como a si mesmo já era um mandamento do Antigo Testamento, mas esse mandamento, muitas vezes, simplesmente pode nos levar a um grande egoísmo, eu não faço as coisas para que não façam para mim, mas aqui estamos no negativo. O que Jesus faz é transformar este mandamento numa atitude ativa: amai-vos como Eu vos amei! Não tem maior amor do que dar a vida pelos que você ama. Jesus entrega, Jesus morre com uma morte terrível, o pior tipo de tortura que existia naquele tempo. E não é simplesmente morte, Jesus morre como herege, ou seja, fora da religião. Jesus morre como delinquente contra o estado, o Império Romano o condena como delinquente. Jesus é completamente esvaziado como ser humano, lhe negam toda a dignidade humana possível. Deus se esvazia de si mesmo, não guarda nada, nada, nada, nada para si, para mostrar que é fiel. Não tenham medo de Deus.
Nós lemos na Segunda Leitura, uma parte do capítulo 21 do Apocalipse, onde São João fala da nova Jerusalém e da vida nova de Deus: eis que faço novas todas as coisas! O livro do Apocalipse é o livro da grande esperança, que nos anuncia que a fidelidade de Deus se mantém sempre. Deus nos prometeu vida eterna, Deus nos dará vida eterna. Deus vai tirar de nós a morte, o sofrimento, a dor, Ele vai fazer as coisas novas, um mundo de paz, fraternidade, de comunhão entre nós. O que nós não conseguimos nesta terra, o que nesta terra nós temos que trabalhar, nos empenhar constantemente, uma geração depois da outra para construir, isso nós teremos em plenitude na casa do Pai. Como filhos e filhas de Deus que somos, nós somos chamados a já neste mundo viver esses valores: justiça, paz, fraternidade, solidariedade, respeito. Esse é o caminho de Deus, e Jesus não poupou nada de si para nos indicar esse caminho.
Vamos pedir que Ele nos guie, nos ajude e nos faça realmente crer que Ele é fiel. O nosso problema é sempre desconfiar de Deus, mas esse é o veneno do maligno no nosso coração.
Depois Jesus nos dá com este mandamento, aquilo que é o distintivo do cristão: amar! Não são roupas, não são penduricalhos religiosos, não são determinadas devoções que nos fazem católicos, que nos fazem cristãos. O que nos faz cristãos, seguidores de Jesus, é agir como Ele. É nas suas ações que vai aparecer que você é ou não é discípulo e seguidor de Jesus. Vamos pedir ao Espírito Santo que nos dê forças para viver o mandamento do amor.

Jesus é o Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas
Homilia: Pe. José Ailton Teixeira - 4º Domingo da Páscoa Ano C – 08/05/2022 - missa às 10h)
Hoje nós celebramos três momentos importantes na Liturgia deste quarto Domingo da Páscoa. O primeiro é chamado Domingo do Bom Pastor, retratado neste Evangelho de apenas quatro versículos [Jo 10, 27-30]. Jesus diz: “eu sou o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas”. O segundo momento é o dia mundial de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas, instituído pelo então Papa João XXIII, em 1963, que até hoje celebramos, sempre no Domingo do Bom Pastor; e hoje, coincidentemente, temos também o Dia das Mães que, como Maria, não poupam a própria vida, mas a entregam por amor a Deus, aos homens e ao mundo, a partir do momento em que elas se tornam mães, assim como fez Maria dando à luz a Jesus Cristo. E Maria colaborou com Deus, com o plano de salvação, quando aceitou a maternidade divina. Por isso, a Igreja, com muita alegria e esperança, celebra esse dia tão importante, Dia das Mães.
Queridas mães aqui presentes, as ausentes e as que já nos precederam, marcadas com o sinal da casa do Pai, que Deus as abençoe, as fortaleça, as encoraje e sejam realmente mães, como Maria, de doação, de entrega, de renúncia, de mortificação da própria vida. Assim como o Bom Pastor, que não poupa a própria vida e a dá por amor. Por isso, Jesus diz que é o Bom Pastor, já que viria a dar a vida por suas ovelhas.
Que neste dia das vocações, possamos rezar, incansavelmente, pelas vocações sacerdotais e pelos seminaristas para que, como Jesus, também possam dizer: “sim, eis-me aqui, ó Pai, para fazer a Tua vontade”. Nós todos, mães e pais, não nos cansemos de rezar pelas vocações sacerdotais, pelas vocações religiosas - pelas irmãs e pelos padres - para que continuemos presentes no meio de nosso povo; rezem pelo pároco de vocês, padre João Aroldo, para que continue sendo um homem de Deus, a serviço das coisas e das causas de Deus, no anúncio do Evangelho, levando a todos uma mensagem de vida, de esperança. Por isso, quando a Igreja, 59 anos atrás, celebra o primeiro dia de orações pelas vocações, ela viu que havia a necessidade de anunciar ao mundo e aos homens que Jesus Cristo é o Bom Pastor.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida."

Criar consciência no amor
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 3º Domingo da Páscoa Ano C – 01/05/2022 - missa às 10h)
Hoje, nós vamos fazer uma pregação breve porque nós temos a nota dos bispos da CNBB para ser lida. Vamos pegar o miolo deste evangelho [Jo 21, 1-19] que é a tripla confirmação de Pedro. Deus não está pronto para nos apontar o dedo, para mostrar nossos pecados; Deus ama, Deus quer a vida.
Jesus sabia muito bem que Pedro o tinha negado, que tinha sido covarde, orgulhoso, sabia. Porém, diferente de Judas, que se entregou para o poder das trevas e ficou com os inimigos de Jesus, Pedro nunca abandonou a comunidade. A comunidade dos discípulos foi, também, suporte pra Pedro, ele não abandonou.
E nós vemos Jesus que vai dizer a ele: “você me ama?” Jesus não pergunta para Pedro: “você criou vergonha na cara? Você se arrepende do que você fez? Você tem remorso da tua covardia?” Deus não pergunta nada disso. “Pedro, você me ama?” Três vezes Jesus pergunta isso. Por três vezes Pedro tinha negado e, cada vez, de forma mais consciente.
Agora Jesus pergunta para ele sobre o amor: “Pedro, você me ama?” “Sim, Senhor!” – estamos ainda no entusiasmo. “Pedro, você me ama?” Você já pensa na segunda vez: ué, será que não escutou? “Sim, você sabe que eu te amo.” – a resposta já é mais séria. Na terceira vez, o sujeito tem que estar realmente pensando “mas espera aí, tem alguma coisa séria aqui.” “Senhor, você sabe tudo, você sabe que eu te amo.”
É como se Pedro fosse cada vez tomando mais consciência da resposta que ele vai dar para Deus. Do mesmo modo que ele foi criando a consciência na negação, aqui ele vai criando consciência no amor. E Jesus vai dizer: “esse amor que você tem é suficiente para cuidar dos meus irmãos e irmãs, e vai ser suficiente para você dar testemunho de mim na hora do martírio”, o amor a Deus.
Pedro se tornou imediatamente um homem maravilhoso, perfeito, não sei o quê? Não! Mas ele continuou buscando Jesus, ele continuou confirmando a fé dos irmãos, ele aprendeu a, devagarinho, ir mudando de atitude, especialmente com os cristãos que vinham do paganismo.
O caminho de Pedro é longo, ele vai se convertendo aos poucos, mas ele está sempre na comunidade, está sempre seguindo Jesus, então o amor dele é verdadeiro, dentro dos seus limites, dentro dos seus defeitos, mas é verdadeiro. Não abandona Jesus, não abandona a comunidade.
Vamos pedir ao Senhor que Ele ajude também nós a respondermos cada vez mais decididos Senhor, eu te amo! Vamos todos responder juntos: Senhor, eu te amo! De novo: Senhor, eu te amo! Mais
uma vez: Senhor, eu te amo!

Cristo caminha conosco
Homilia: Pe. Oberdan Santana da Silva - 2º Domingo da Páscoa Ano C – 24/04/2022 - missa às 10h)
No Evangelho de hoje [Jo 20, 19-31] São João nos fala de uma aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos que aconteceu ao anoitecer do primeiro dia da semana, isto é, domingo. E onde estavam os discípulos quando ocorreu essa aparição? Segundo o evangelista, eles estavam em um lugar com as portas fechadas, estavam escondidos por medo de serem perseguidos e condenados à morte como Jesus.
Os discípulos tinham perdido sua referência, o mestre Jesus, e agora era o medo que dominava seus corações, mas eis que Jesus aparece e se põe no meio dos discípulos, apesar de as portas estarem fechadas. E Jesus, estando no meio, transforma tudo pela sua presença. Com a presença de Jesus o medo vai embora, e os discípulos recebem um novo ânimo, recebem a paz que vem de Deus, em Hebraico, o "Shalom", isto é, a plenitude da benção, a harmonia, a tranquilidade, a confiança.
Aqui o evangelho nos ensina algo muito importante: é necessário que Jesus esteja no centro! São João nos convida a reconhecer que é ao redor de Jesus que a comunidade se estrutura e recebe força para enfrentar todo tipo de dificuldade. Sem Jesus, sem a sua referência, nós nos tornamos um rebanho perdido e assustado que não sabe o que fazer e muito menos para onde ir.
Mas quando Jesus está no centro, no centro da nossa comunidade, no centro da nossa vida pessoal, no centro das nossas ocupações, tudo se transforma, tudo se ajusta quando Jesus está em um lugar que lhe é devido. Ele deve estar no centro, a harmonia depende disso, da presença de Jesus no centro da nossa vida. Então, ao escutar este evangelho, a primeira pergunta que nós devemos fazer é se Cristo está verdadeiramente no centro da nossa vida!
Às vezes, nos preocupamos com tantas coisas e não nos preocupamos com as coisas que são essenciais, não nos preocupamos em dar a Cristo o lugar que lhe é devido, e, então, a nossa vida vira uma desordem, a bagunça se torna completa. Cristo deve estar no centro e, por isso, nós recebemos dele a paz, a verdadeira harmonia.
Em seguida, o evangelho nos faz contemplar a divina misericórdia nos gestos de Jesus. Jesus bem poderia repreender a conduta dos seus discípulos – eles tinham negado o seu mestre, não tinham acreditado na ressurreição, e estavam escondidos. Mas a primeira palavra de Jesus ressuscitado não é de reprovação, não é de condenação! As palavras que Jesus dirige a seus discípulos são palavras de conforto, são palavras de confiança: "a paz esteja convosco".
De modo simples é como se Jesus dissesse: "está tudo bem, fiquem tranquilos, eu venci a morte". Jesus ressuscitado se coloca no meio da comunidade dos discípulos, para, em sua misericórdia, lhes transmitir a paz que supera todo medo e discórdia. Aliás, este domingo, Segundo Domingo da Páscoa, é chamado de "Domingo da Divina Misericórdia". Essa festa foi instituída por João Paulo II no ano 2000, na missa em que ele canonizou Santa Faustina, a Santa a quem Jesus disse: "eu sou o amor e a misericórdia em pessoa, não há miséria que possa superar a minha misericórdia", e tudo se encaixa! O evangelho hoje nos ajuda mesmo a orientar o nosso olhar para a divina misericórdia que se revela em Jesus ressuscitado.
Podemos contemplar a divina misericórdia, como acabei de dizer, pelo gesto de Jesus de transmitir a paz a seus discípulos assustados, mas contemplamos também, e sobretudo, a divina misericórdia nos sinais que permanecem no corpo de Jesus.
Depois de transmitir a paz aos seus discípulos, Jesus lhes mostra as mãos e o lado onde estão as marcas dos pregos e da lança. No corpo de Jesus permanecem as chagas que vieram da cruz, mas por quê? Como assim? Jesus ressuscitado aparece ainda com as marcas da paixão? Sim, as chagas permanecem no corpo de Jesus porque permanece o amor de Jesus pela humanidade. As chagas são os sinais do seu amor e da sua misericórdia, e por isso não desaparecem.
Jesus será sempre o Messias que ama no suplício da cruz e na glória da ressureição, e eu penso que isto é, de fato, muito reconfortante: o amor de Deus por nós é infinito, sempre podemos contar com a Sua divina misericórdia. A divina misericórdia não nos abandona, não nos deixa à mercê dos nossos pecados e das nossas misérias!
E, em seguida, este evangelho tem muitos símbolos: Jesus sopra sobre os seus discípulos o Espírito Santo. Esse gesto de Jesus é semelhante ao gesto de Deus quando criou o homem: Deus soprou seu Espírito Divino sobre o homem feito de argila, e, a partir daquele momento, o homem passou a ser um ser vivente. Jesus repete esse gesto do sopro do Espírito para realizar a nova criação! Pelo sopro do seu Espírito, os discípulos vão receber vida nova, vão receber a força da ressureição.
Pois bem, compreendidos esses símbolos, nós devemos nos questionar: qual é o lugar ideal para fazer essa experiência que os discípulos fizeram? A experiência do encontro com Jesus ressuscitado que sopra sobre nós seu espírito de vida? O evangelho nos ensina que é na vida em comunidade.
O evangelho, na realidade, fala de duas aparições de Jesus ressuscitado, e as duas ocorrem quando a comunidade dos discípulos está reunida. E nós vimos que, na primeira aparição, Tomé não estava com os discípulos, e, por isso, perde a oportunidade de encontrar-se com Jesus ressuscitado. Mas, na segunda aparição, Tomé está com a comunidade, e dessa vez, ele pode participar da experiência de encontro com o Cristo vivo, dessa vez Tomé pode ver Jesus ressuscitado e mesmo tocar suas feridas, e isso o desperta para a fé.
Vocês percebem? Tomé só se encontra com Jesus ressuscitado quando ele volta para a comunidade dos discípulos. Aqui está um grande ensinamento que o evangelho nos traz neste dia: não é em experiencias egoístas, fechados nas nossas casas que nós nos encontramos com Jesus ressuscitado. A comunidade, por mais que tenha seus defeitos, por mais que tenha dificuldades, é o lugar onde se faz verdadeiramente a experiência do encontro com Jesus. Aqui Jesus se revela a nós de maneira privilegiada, na palavra proclamada, no pão repartido que é o seu próprio corpo entregue para nossa salvação, no diálogo, na comunhão dos irmãos, é aqui, em meio a todos esses sinais, que Jesus se faz mais próximos de nós e alimenta a nossa fé. Aquele que está fora da comunidade, corre o risco de perder a fé, corre o risco de se desanimar, de não enxergar mais os sinais de Cristo ressuscitado. Mas aqui não, aqui nós nos fortalecemos, aqui nós crescemos juntos como irmãos recebendo o sopro do Espírito, a força do ressuscitado.
Eu não sei se eu deveria ser tão direto, mas eu vou ser! Quem deixa de vir à missa dominical perde a grande oportunidade de encontrar-se com Jesus ressuscitado, e a experiencia de Tomé comprova isso. Era domingo, primeiro dia da semana, e os discípulos estavam reunidos, e nós repetimos esse gesto. Hoje é domingo, e estamos nós aqui reunidos como comunidade para recebermos a força de Jesus que se faz presente em nosso meio.
Depois da segunda leitura [Ap 1, 9-11a.12-13.17-19], que é do Apocalipse de São João, ressalta de maneira semelhante ao evangelho a presença de Jesus, que venceu a morte, nas comunidades cristãs. Na igreja, Jesus se faz presente com a força do seu Espírito e nos dá a força que necessitamos para vencer as forças do mal.
São João utiliza muitos símbolos para falar do poderio de Jesus ressuscitado, ele fala do filho do Homem que aparece em meio a sete candelabros vestido com uma túnica comprida e com uma faixa de ouro em volta do peito. O que São João quer nos dizer por meio dessa imagem magnífica é que Jesus, que morreu e vive para sempre, tem autoridade sobre tudo. Ele é o Senhor da história, é o princípio e o fim de todas as coisas. Portanto, se caminhamos com Ele, não devemos ter medo de nada.
Naquele contexto, os cristãos estavam sendo violentamente perseguidos pelo Império Romano. São João mesmo, quando escreveu esta carta, estava preso na Ilha de Patmos, mas, em sua carta, ele não se lamenta, pelo contrário, ele manifesta a firme convicção de que Jesus está vivo, de que tem poder sobre tudo, e de que aqueles que caminham com ele podem ter a certeza da vitória.
O testemunho que nos dá São João é um testemunho muito belo, aqui está algo que pode iluminar nossa caminhada de fé: devemos sempre nos recordar de que Cristo, aquele que venceu a morte, aquele que venceu todas as barreiras, caminha conosco, e é graças à comunhão com Cristo que nós podemos superar todo mal. Nos momentos de dificuldades, nas perseguições e provações, nos lembremos dessa grande verdade porque certamente isso vai alimentar nossa fé e vai nos trazer coragem para seguirmos adiante a nossa missão!
E, por fim, a primeira leitura [At 5, 12-16], que é do Atos dos Apóstolos, nos mostra que uma característica admirável das primeiras comunidades cristãs era o poder de realizar milagres. Os discípulos realizavam milagres e, assim, manifestavam a força do Cristo Ressuscitado, e isso fazia com que a comunidade dos fiéis crescesse cada vez mais. Homens e mulheres atraídos pelas maravilhas que os discípulos realizavam passavam a fazer parte da comunidade dos cristãos. Isso deve nos fazer questionar sobre o que nós estamos fazendo para dar testemunho da nossa fé e para fazer a nossa comunidade crescer.
O texto nos fala que os discípulos realizavam até mesmo curas, pelo poder de Cristo tudo é possível. Mas há coisas mais simples que nós fazemos todos os dias e que também dão testemunhos de nossa fé! Quando nos esforçamos para diminuir o sofrimento de algum irmão, quando nossos gestos falam de amor, de reconciliação e de partilha, nós realizamos o verdadeiro milagre e estamos dando testemunho da vida nova que vem de Jesus, da sua ressureição, nos nossos gestos simples nós mostramos a luz do cristo ressuscitado que brilha em nós.
Então, nessa Eucaristia, vamos pedir a Cristo que sopre sobre nós seu Espírito de vida como soprou sobre os apóstolos para inspirar as nossas palavras e gestos e para nos dar a força que precisamos para nos tornarmos suas testemunhas. Que nós, e, de modo especial, essas crianças que hoje serão batizadas, sejamos no mundo testemunhas de Cristo ressuscitado, testemunhas de Sua divina misericórdia que abraça o universo.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo

Encontro com Jesus fonte de vida
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Domingo da Ressurreição Ano C – 17/04/2022 - missa às 07h30)
Que santa disposição desse povo às 7 horas da manhã ir fazer procissão e cantar e caminhar com alegria: a nossa vida deve ser um hino de nossa alegria! A procissão lembra o caminho. Abraão foi chamado lá da Mesopotâmia da terra de Ur da Caldeia, ele foi chamado por Deus para que fizesse um longo caminho. O povo depois, os filhos de Jacó, fazem também um caminho longo para o Egito e, do Egito, Deus chama o seu povo 400 anos depois para fazer um outro longo caminho. O povo de Israel fazia sempre grandes procissões, iam das suas cidades aos templos regionais ou ao templo de Jerusalém. Nós vemos Jesus que caminha pela terra de Israel com os seus discípulos, todos peregrinando pelo mundo. Deus vai ao nosso encontro e é interessante ver que Jesus continua indo ao encontro dos seus: Jesus vai ao encontro das mulheres no sepulcro, Jesus vai ao encontro dos apóstolos, Jesus vai no encontro dos discípulos em Emaús. Deus vem ao encontro e o nosso caminho é um encontro com Deus.
Jesus, na ressureição, nos revela que este encontro é um encontro definitivo. É um encontro de alegria, de misericórdia, de vida eterna. Esse é um encontro com Deus e também o nosso caminhar pela vida, o nosso peregrinar, não é uma coisa que nos leva para o nada perde o sentido. O sentido é a vida em Deus, por isso o nosso caminhar pode e deve ser orientado por aquele que nós encontraremos: Jesus, Ele é o caminho, “caminho, verdade e vida”. Quem segue Jesus não perambula pela vida, caminha na vida, na vida verdadeira, na vida que nós leva para a casa do Pai e quem está nesse caminho, nós podemos dizer que já esta na alegria daquela chegada. Por isso esta nossa vida encontra sentido no doar-se, no fazer o bem, no gastá-la pelo bem dos outros. Esse é o nosso sentido da nossa vida: gastar o nosso tempo e as nossas energias para que todos nós possamos ser como irmãos e irmãs. Busquemos o bem pelos outros para que ninguém esteja fora desse caminho. Que todos possam seguir Jesus de mãos dadas, como nós fizemos nessa procissão guiados por Jesus ressuscitado.
Não foi fácil para aqueles homens e para aquelas mulheres perceberem essa novidade, porque é o novo de Deus. Quando Deus irromper de novo na nossa realidade, no último dia, nós também ficaremos de boca aberta porque é o mundo de Deus – a coisa é tão potente que os mortos, o pó perdido dos mortos, ouvirão a voz de Deus e se levantarão dos seus túmulos. Isso que para nós parece lixo que colocado ali no Cemitério do Camilópolis ou do Curuçá, Deus chamará das cinzas com voz potente, porque é o mundo de Deus e não o nosso mundo. Maria Madalena contemplou esse mundo, queria se jogar nesse mundo. Os discípulos de Emaús viram isso no momento que Jesus partiu o pão, o coração já queimava quando Jesus explicava, mas quando Ele partiu o pão, eles viram esse sinal do céu. Essa coisa que vai além de nós, e correm com o ânimo novo, com o fogo novo dentro deles, aqueles homens e aquelas mulheres amedrontados, retomam vida no encontro com Jesus. E esse encontro é tão forte que repercute nas nossas vidas até hoje e vai permanecer até os fins dos tempos. E vamos nessa alegria, porque Deus não nos deixa órfãos, Deus não nos deixa prisioneiros da morte e nem do pecado. Nós podemos construir um mundo melhor, nós podemos ser fermento na massa do mundo, não ver o mundo como o nosso inimigo, mas como o lugar para transformar em vida.
Vamos pedir ao Senhor que Ele nos faça crer realmente na ressureição. Que nós possamos viver nessa alegria e transformar o nosso mundo com esse fogo novo que o Senhor colocou nos nossos corações.

A certeza de que a morte não é o fim
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Sábado Santo Ano C – 16/04/2022 - missa às 19h)
Esta Santa Missa solene de hoje é chamada de mãe de todas as liturgias. Da liturgia de hoje, derivam todas as outras. E, nesta liturgia, nós vamos ter a graça de batizar três pessoas e outras onze que vão receber a Eucaristia pela primeira vez. E teremos também uma senhora que, por algum tempo, esteve em uma comunidade evangélica. Ela sempre foi católica, ficou lá algum tempo e agora quer voltar novamente para a comunhão católica. Então, no momento da renovação das promessas do batismo, ela vai vir aqui à frente e vai conosco renovar, solenemente, diante de toda a comunidade, a fé em Jesus - que lembro, é a mesma fé dos evangélicos.
Nós, cristãos, professamos a mesma fé: Jesus é nosso único Salvador! Isso nos une a todos os cristãos: a única salvação em Jesus Cristo.
Quando nós ouvimos estas leituras - ouvimos o Gênesis, o Êxodo, as palavras dos profetas -, nós vemos como Deus é fiel. A fidelidade de Deus se manifesta no seu povo e se realiza plenamente na pessoa de Jesus: Deus feito um de nós. Da eternidade, como diz São Paulo, Deus tinha predisposto isso. Deus criou o mundo, o universo, tudo, tendo em vista o momento da encarnação do seu Filho. Deus quis, da Eternidade, que seu Filho se tornasse um de nós. E Deus quis que Jesus fosse o seu revelador. Deus, falando com voz humana. Deus sentindo com coração humano. Deus caminhando pelas nossas estradas empoeiradas. Deus passando a nossa fome, a nossa sede. Deus sofrendo as nossas dores. Deus carregando sobre si as nossas injustiças.
Jesus, na cruz, traz estampado em si, sobre seu corpo, as nossas maldades. Todas as vezes que nós combatemos a vida, isso ofende a Deus. Porque Deus é vida e Deus só pode dar vida. O Filho se encarna naquele tempo, naquele lugar e ali, dentro da história, ele salva a humanidade toda. Muitas vezes nós pensamos que tirar nossos pecados é algo muito simples para Deus. Deus poderia tirar os pecados por um simples ato de vontade. Deus não precisava mandar seu Filho do céu pra isso. Deus nos salva porque este era o seu desejo desde sempre: que nós estejamos com Ele, na eternidade.
Deus nos encontra envenenados pelo pecado, que faz um dano danado na história. Como fica difícil caminhar segundo o olhar de Deus. Mas isso não atrapalha aquilo que Deus quer. O profeta Isaías diz muito bem: “assim como a chuva desce do céu e não volta pra mim sem molhar a terra e fazer crescer a semente para que o agricultor possa colher e comer, assim também é a minha Palavra: não volta para mim sem cumprir o que eu quero”. Não existe poder que possa ser obstáculo à vontade de Deus. E a vontade de Deus é que todos sejam salvos! Todos!
E Jesus, caminhando entre nós, se fez caminho. Nós seguimos uma pessoa, e essa pessoa é Jesus. Jesus passou a Sua vida fazendo o bem, anunciando a salvação, vivendo conosco como irmão de todos e todas. Jesus trata as mulheres com igualdade porque ele as reconhece iguais. Aos estrangeiros, Jesus elogia a fé. Aos pagãos, Jesus elogia a fé. Aqueles que eram tidos como desgraçados e amaldiçoados, feridos por Deus, que eram os leprosos naquele tempo, Jesus os cura. Jesus vai ao encontro das pessoas. Ele nos ensina a sermos irmãos e irmãs, mas também, Ele nos mostra o quanto querer viver como irmãos e irmãs, neste mundo envenenado pelo pecado, pode custar. Tem muitas pessoas que não querem viver como irmãos porque se acham melhores, porque querem ter mais. E não é um prato de comida a mais. É tanto dinheiro que nem em uma vida inteira daria pra gastar. Há pessoas que decidem vida e morte de povos inteiros, de nações. Pessoas que se levantam como deuses. Estas pessoas esmagam o povo porque não vivem como irmãos e irmãs. E como esmagam o povo, esmagaram também Jesus. Por isso, Jesus carrega em si, no seu corpo ferido, as marcas da injustiça. São essas forças contra a fraternidade que esmagam o povo, que esmagam Jesus. Mas Deus é fiel e a Sua palavra não volta para Ele sem cumprir aquilo para que ela foi mandada.
Jesus veio para anunciar a salvação para todos e o poder da morte não é páreo para Jesus, não é páreo para Deus. Deus está acima do mal. O bem e o mal não são duas forças iguais e opostas. O mal não pode competir com a vontade de Deus porque o mal e o pecado são nada.
A ressurreição de Jesus é o selo que Deus Pai coloca sobre toda a vida do seu Filho como uma prova, uma amostra para nós. O caminho é esse. Vocês são todos irmãos e irmãs? Vocês querem um mundo melhor? É esse o caminho. E esse caminho é vida eterna.
Nós vemos, nos relatos da ressurreição, essas mulheres que ficam, aparentemente, abobadas, estão perdidas completamente. Mas depois também os onze, quando Jesus vai aparecer para eles na tarde de domingo. Eles estão mais perdidos do que cego em tiroteio. Por quê? Porque ali eles veem, vamos dizer assim, um pedacinho do céu. Nós somos deste mundo. Deus é o transcendente. Nós não podemos nem imaginar o mundo de Deus se Ele não desce até nós e nos diz como é o seu coração. Nós nunca saberíamos quem é Deus. Os apóstolos e, primeiro de tudo, Maria Madalena e aquelas mulheres viram o novo de Deus. A ressurreição é o mundo de Deus, que explode dentro desta nossa realidade limitada e isso nos deixa abestalhados. É muito difícil mesmo, para nós, pensar na situação dessas mulheres.
O último enterro que participei foi do Padre Odair. Como é marcante esse gesto humano de sepultar os mortos. Nós deixamos de ser animais. Nós acordamos da inconsciência animal no dia em que nós enterramos o primeiro ser humano. Ali nós sabemos que nós somos humanos, com alma, à imagem de Deus. É naquele momento. O enterro, a sepultura é algo primordial na experiência humana. E nós nos deparamos com esse momento estranho que rompe tudo, corta relações, devasta nosso coração. E a mesma coisa sentiram aquelas mulheres, aqueles homens. Ninguém vai em um túmulo esperando o novo. De fato, aquelas mulheres foram esperando o de sempre: essa profunda experiência humana. Mas só humana. Foi difícil para elas entenderem que tinha alguma coisa diferente. Uma violência para o coração do ser humano. Quando você chega em um túmulo e não encontra lá o defunto, pensa que o roubaram. E ver aquelas pessoas, aqueles dois homens brilhantes, dizendo “não está aqui! Ressuscitou!”. Eles têm que insistir com as mulheres. Lembra que Jesus falou isso quando ainda estava na Galiléia? A mesma coisa Jesus teve que fazer com os discípulos de Emaús. É o novo, é uma coisa única na história humana. Ninguém nunca tinha presenciado uma coisa daquela. Naquele momento, aquelas mulheres não O viram, só viram este túmulo vazio. E depois, nós vamos ver nas próximas semanas, Jesus que se manifesta, que abre os nossos corações, abre a nossa mente, nos diz e nos faz crer nesta verdade: Ele é a revelação do Pai e o caminho humano é a fraternidade. Todos somos iguais diante de Deus. Todos seremos salvos porque, no final, vai dar tudo certo. A ressurreição é a nossa alegria, é a certeza da fidelidade de Deus. Apesar de, na vida terrena, nos vermos no ciclo humano da vida e da morte, sepultura sobre sepultura, a nossa fé está lá.
Vamos pedir ao Senhor que nos dê ânimo, luz e coragem para viver o que Ele ensinou, para sermos irmãos e irmãs.

Jesus se doa para um novo início à humanidade
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Celebração da Paixão - Sexta-feira Santa Ano C – 15/04/2022 - celebração às 15h)
Nós temos várias atitudes neste evangelho [Jo 18,1-19,42]. A primeira é Judas que, pela última vez, é nomeado no evangelho de João. Caminhou com Jesus por três anos, durante todo seu ministério, desde a Galiléia, e traiu o mestre. Desiludido? Tentando um levante popular? Quem sabe? Alguns evangelistas tentam dar explicações, mas o fato é que essa situação continua escandalosa: um discípulo traiu o mestre. Depois, nós temos o outro discípulo, Pedro, que, junto com João e André, dormiram todo o tempo que Jesus pediu para que eles vigiassem com Ele. Porém Pedro, que era todo entusiasmado e na lavagem dos pés falou “eu vou morrer por você”, no seu entusiasmo, pega a espada. Não tem sentido. Ali tem uma divisão de soldados – paus, tochas, armas – a de Pedro é uma ameaça sem sentindo. Jesus vai dizer: “guarda isso, armas só chamam outras armas”. E nós vemos isso bem hoje nessa guerra louca entre Rússia e Ucrânia. Armas chamam armas. Armas chamam a violência. Não é esse o caminho para terminar com a violência. Depois, nós vemos esse mesmo Pedro que, de um modo cada vez mais consciente, vai negando o mestre. Ele sabe que está negando e cada vez mais forte. Como é difícil arriscar a própria pele por aquilo que se acredita. E, com Pedro, estão todos os outros que fugiram. Sobrou o discípulo amado, que é essa figura enigmática. Nós identificamos como João, filho de Zebedeu. Mas é uma identificação um pouco forçada. Esse rapaz ou homem que conhece o Sumo Sacerdote e, pelo teor do seu evangelho, conhece muito bem os ritos, as festas e o mundo interno do templo, ele vai seguindo de longe Jesus. Ele segue o mestre de forma discreta. E esse seguimento vai aparecer lá na frente. Ele está lá debaixo da cruz. O evangelista o coloca ali, como também vai colocar Maria, embaixo da cruz.
O discípulo amado representa a nova comunidade de Jesus, o novo povo reunido em volta de Jesus. E Maria representa também o Israel fiel, o pequeno resto do povo de Israel que acreditou na palavra e nas obras de Jesus. Esse pequeno resto que se tornou discípulo é confiado por Jesus a sua nova comunidade. Estranhamente, os evangelhos insistem em quase mostrar inocência do sujeito, que é Pilatos. Três vezes, no evangelho de João, nesse trecho muito breve, ele vai dizer: “não encontro culpa nesse homem”. Pilatos não era um tolo. Era um homem muito bem informado, era o ocupante daquela região, o procurador do Imperador, do invasor. Ele conhece muito bem os movimentos que acontecem naquela região e não ama muito aquele povo hebreu, que era esquisito. Ele se informa muito bem. Ele sabe que ali tem um jogo e ele deixa claro que existe um jogo. Ele viu o que os Sumo Sacerdotes estavam aprontando. É um pregador popular, querem se livrar desse homem, que estava incomodando. Não estava incomodando Pilatos, mas está incomodando essa gente, mexendo com a religião deles. E esses caras querem acabar com esse pregador popular. Pilatos diz: “querem matar? Matem vocês, não me botem nisso”. Mas eles insistem e usam todos os meios. É importante percebermos que esses homens, os Sumo Sacerdotes e os fariseus, são gente de igreja. Os Sumo Sacerdotes são os que comandam a religião hebraica, o judaísmo. Os fariseus eram um grupo potente, religiosos, muito observante da lei. Um grupo que tinha uma tradição de mais de 100 anos. Descendentes, como movimento, dos Macabeus, uma grande revolta que teve na Palestina, mais de 100 anos antes de Jesus. É de lá que eles vêm. São pessoas que têm nome, reputação, bons religiosos. Esses homens que se nomeiam homens de Deus jogam todas as cartas podres que têm. Subornam, pagam para que pessoas mintam no tribunal. Acusam sem nenhuma prova. E, finalmente, tendo marcado todas as suas cartas, eles querem mais: “não podemos matar esse homem como um herege, temos que ir mais longe, temos que desmoralizar esse sujeito do modo mais horrível que existe”. Esses homens de Deus querem que Jesus, esse pregador popular, fosse massacrado. Não basta matar e apedrejar, querem massacrá-lo porque não querem colocar em risco seu templo, seu poder, seu dinheiro, sua opressão sobre o povo, o acordo com Roma. Não querem perder nada disso e, mais, querem mostrar que é inimigo do império. Não é um problema deles, é do império. São perversos. São os “homens de Deus”. Em outra passagem do evangelho de João, eles diziam: “nós somos filhos de Abraão”. E Jesus responde: “se vocês fossem filhos de Abraão, fariam as obras de Abraão. Vocês são filhos do diabo”. Jesus não era brincadeira, não. E eles mostram aqui que, realmente, são. Eles massacram um inocente para defender seus interesses, seus privilégios, o seu poder usando o nome de Deus. E usam a última carta. Interessante também perceber que a consciência de Pilatos sobre Jesus vai aumentando. Primeiro são as acusações. Depois, “você é Rei, Filho de Deus”. Pilatos é romano e estes são pessoas extremamente religiosas, não como os hebreus, mas, tudo que faziam precisavam ver com os deuses. Então a consciência deste homem sobre Jesus também vai crescendo. Mas aí vem o jogo sujo, mais uma vez, para conseguir o que esses homens querem – ou seja, a morte humilhante de Jesus – vale tudo. O rei de Israel é Deus. O rei de Israel é o Senhor dos Exércitos. Quando pedem um rei para Samuel, ele vai se lamentar diante de Javé. Deus vai dizer para ele: “dê um rei para eles; eles não me querem mais como rei”. E o povo de Israel vai pagar caro por ter instalado a monarquia. As injustiças do Egito voltaram todas e, talvez, até pioradas. Porque antes eles eram estrangeiros. Agora é um rei deles que os oprime. Porém, o povo é unânime em dizer: “Javé é nosso rei”, rei que tem seus pés no templo e seu trono no céu. Esses homens da religião vão dizer: “temos um único rei, que é César”. César, que se fazia chamar divino. Eles mostraram, realmente. Esses homens não mentiram. O Deus deles não é Javé, não é o Deus de Abraão. O Deus deles é a morte, é o diabo. Como disse Jesus, o demônio, o inimigo, ele é mentiroso e assassino, desde o início. E esses homens mostram exatamente isso: mentirosos e assassinos. Chantageiam Pilatos, que está em uma situação frágil. Essa expressão “amigo de César” era muito particular e Pilatos cede diante da chantagem. Mas ainda assim, proclama a inocência do sujeito. “Levem-no para crucificar, mas eu não vejo culpa nesse homem”.
Depois temos as outras figuras que são os soldados e essa testemunha que é o narrador. Ele nos traz a notícia do transpasso de Jesus na cruz. E é interessante ele insistir três vezes: “isso é verdade, quem diz é verdadeiro, o seu testemunho é autêntico”. Quando o soldado furou o peito de Jesus, dali saiu sangue e água. Provavelmente, o que aconteceu é que Jesus morreu de um tremendo infarto e o coração abriu e se derrama no peito. Passadas algumas horas, o sangue coagula e se separa do plasma. Quando fura, sai o sangue coagulado e o plasma, separados. E a testemunha viu aquilo como sangue e água. A vida da igreja e a vida da nova comunidade nascem do sangue de Jesus e das águas do batismo.
Jesus não quer ser atordoado na cruz. Para os crucificados, as pessoas piedosas preparavam uma mistura de vinho com fel, que vira vinagre. Mas essa droga é um potente anestésico. Era um modo de deixar o condenado um pouco atordoado em suas dores. O condenado podia ficar dias pendurado na cruz até morrer. Jesus diz que tem sede e lhe oferecem essa mistura, mas ele não aceita e morre. Jesus quer estar lúcido até o fim. Deus não guarda nada para si. Deus se entrega sem reservas. De Deus não é preciso ter medo. Ele não esconde nada na manga. Deus se entrega todo, até na morte. Por isso, no Evangelho de João, Jesus, tantas vezes vai dizer: “tende confiança”. E, nos outros evangelhos, Jesus vai dizer: “não tenham medo, Deus é fiel”. E a fidelidade de Deus é radical. Não desconfiem nunca do amor e da misericórdia de Deus. Depois, vemos no final do evangelho essas duas figuras: José de Arimatéia e Nicodemos, que talvez, depois, tenham se tornado discípulos de Jesus, membros da comunidade cristã. Mas, muito provavelmente, nesse momento, não passavam de dois judeus muito escrupulosos, que queriam se ver livres daqueles corpos que estavam lá, mortos e pendurados, de modo a esconder aquilo no dia da Páscoa, que viria a ser comemorada. Jesus morreu às 3 da tarde, na hora em que, nas casas, estão sacrificando os cordeiros para celebrar a Páscoa Hebraica. Por isso que a última ceia não foi a Páscoa Hebraica, foi outra coisa. Jesus morre exatamente nesse momento. Esses homens querem se livrar desse condenado, desse maldito. Enterram rápido, sem romance nenhum. Aqui é tudo muito cru, muito triste. A sepultura apaga do nosso meio o relacionamento com a pessoa. Podemos dizer que, até quando a pessoa está no caixão, tentamos nos relacionar com ela. Já a sepultura esconde tudo, pois não tem mais proximidade, não tem mais toque, não tem mais nada. É uma pedra em cima.
Jesus, na sua morte, julga o mundo. Revelam-se os corações das pessoas. O nosso coração se revela diante da cruz de Jesus. O que nós somos, o que buscamos, os nossos interesses mesquinhos, nossas perversões, tudo aparece. Aparecem nossos riscos, nossos desejos de bem, a nossa busca de algo melhor. Tudo isso aparece diante da cruz de Jesus. Estamos nus. Mas não é nudez de roupa, é nudez de máscara, de mentiras, de desculpas. Tudo isso nos é arrancado e aparecemos diante de Deus exatamente como somos. A cruz de Jesus é o julgamento do mundo. Do alto dessa cruz, Jesus se mostra revelador do Pai. “Pai, perdoai-os, não sabem o que fazem”. Nos coloquemos diante de Jesus, na atitude de acolher essa misericórdia de Deus, que vem ao nosso encontro antes de nós a buscarmos. Deus nos ama primeiro. Pedir para acolher essa misericórdia e, acolhendo a misericórdia, sermos misericordiosos com os outros para que, no nosso tempo, possamos ter uma vida humana melhor, mais digna, mais verdadeira, mais fraterna. Quando experimentamos a misericórdia de Deus, nossa vida se transforma e a vida em volta de nós renasce.
Outra realidade dura da morte: no velório, estamos ali em cima do defunto, flores, beijos, pedidos de perdão. Na ida para o cemitério tem quem fale que quer carregar o defunto, que chora pelo morto. Mas, há um momento em que você vira as costas e vai embora, como aquelas mulheres que viraram as costas e voltaram para casa para preparar aromas para ungir esse corpo. Depois do dia do sábado, da grande festa em que não podia se fazer nada. Esse momento é difícil. Acabou o sonho, acabou a vida, acabou qualquer esperança, o que sobra é saudade, se sobra isso. É esse o nosso momento, até amanhã à noite. Virar as costas para um túmulo e ver que a esperança morre. Na tradição da Igreja se diz que a fé dos discípulos morreu com aquela pedra. Só uma pessoa manteve viva a fé no seu coração: Maria. Ela canta, no seu hino de louvor, a fidelidade de Deus, de geração em geração. Ela espera, contra tudo e contra todos. Contra os fatos, ela espera na fidelidade de Deus. Vamos nos aproximar dela, nessas horas, para que também nossa fé se mantenha viva e possamos ser contados entre os discípulos de Jesus que vivem da alegria da ressurreição que surgirá amanhã. Nos coloquemos junto com Maria, pedindo que ela nos acompanhe.

Dar a vida pelo outro
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Quinta-feira Santa Ano C – 14/04/2022 - missa às 20h)
Existem momentos em nossas vidas que ficam marcados. Eu me lembro do 4º ano de teologia! Tínhamos um professor de liturgia que eu nem me lembro o nome, porém ele nos disse: “na última aula – que seria a próxima – nós vamos celebrar a Eucaristia entre nós”. E foi muito interessante porque foram poucos os alunos que vieram. E, no começo daquela celebração, ele disse: vocês não vão lembrar nada do que eu falei durante esse ano, a gente esquece mesmo, mas dessa celebração vocês vão lembrar. Já são 35 anos, eu esqueci o nome do professor, mas não esqueço daquela celebração. Foi a última vez que eu vi aquele professor.
Aquela ceia não é a Páscoa hebraica, a Páscoa hebraica foi celebrada no dia seguinte! Foi uma celebração diferente; ali, por exemplo, não tem o cordeiro, que foi imolado na tarde da sexta-feira para ser comido à noite, já no sábado. Jesus, naquela hora, já estava sepultado.
Jesus reúne seus apóstolos, esses homens que caminharam com Ele durante todo o seu ministério, pessoas que o conheciam muito bem. Ele sabe que o cerco em volta dele está se fechando, e sabe que o cerco já pegou um dos seus discípulos. Jesus sabe que o negócio vai pegar, mas não precisa ter visão de futuro para saber, você percebe pelas circunstâncias, as palavras de Jesus, os gestos dele, os bate-bocas que ele tinha com os grandes daquele tempo, os senhores do templo, os senhores da religião. Os sinais que ele fazia não passariam em branco, Ele iria pagar muito caro pelo que fazia, Ele ia deixar a própria pele e sabia disso.
E chegou o tempo. Ele quer deixar para os seus apóstolos três coisas de suma importância. A primeira delas: o poder como serviço. Quando você recebia um hóspede um sinal de atenção por este hóspede era mandar que um escravo viesse lavar seus pés. Era um gesto de cordialidade, de boas-vindas, e quem lavava os pés do hóspede era o escravo velho, o que não servia para mais nada, o último dos escravos.
É muito significativo o início desse encontro, dessa janta, que é um pouco diferente. Eles prepararam esse momento, pois a Páscoa é no dia seguinte. Tem alguma coisa particular aqui, tem um ar diferente, e começa com Jesus que lava os pés dos discípulos. E Ele vai dizer: “Eu sou o vosso Mestre e Senhor, e vocês dizem bem, porque sou mesmo. Mas, eu, vosso Mestre e Senhor, lavo os vossos pés. Façam a mesma coisa entre vocês”. O poder é serviço, o poder é dar vida para o outro, promover a vida do outro à custa, se necessário, da própria vida, das próprias energias, das próprias faculdades mentais. Entrega. Promover a vida do outro, pensar no outro, agir para o bem do outro. Todo poder deveria ser deste modo.
É claro que os senhores do poder não querem ouvir uma conversa dessa, não aceitam, e nós estamos vendo o que o poder egoísta está fazendo no mundo e no nosso país também. O Putin quer a vida dos russos? Zelensky quer realmente a vida dos ucranianos? Os Estados Unidos querem realmente a vida da Líbia, do Iraque, do Afeganistão? A Arábia Saudita quer a vida do Iêmen? E no Brasil, os nossos governantes querem mesmo que os nossos jovens tenham mais educação? Querem que o nosso povo passe menos fome? Isso é o poder do mundo, o poder que não dá vida, busca a vida para si.
Jesus ensina que para melhorar e mudar esse mundo o poder tem que ser serviço, tem que ser entrega de si pelo outro. E Ele vai dar um mandamento: “Amai-vos uns aos outros, e amai-vos como Eu vos amei." Não tem maior amor que dar a vida pelo outro.
A Eucaristia vai ser uma nova modulação deste mesmo mandamento. Jesus se entrega, e Ele se entrega porque é fiel. Ele se entrega porque o Pai se entrega. Para ser fiel ao Pai até o fim, Jesus não podia – eu não sei se ainda existe essa gíria – ‘fugir da raia’, porque se Ele fugisse, Ele não era Filho de Deus, Ele não era o revelador do Pai, porque o Pai fica até o fim, o Pai é fiel até a morte, Jesus é fiel até a morte.
Fiel a quê? Ao amor pelos irmãos e pelas irmãs. A Eucaristia é a concretização disso. Jesus não guarda nada para si, Ele se entrega todo para nós, os padres colocam limites Jesus não. Jesus se entrega todo, e essa entrega é salvação para nós, porque ela é amor, é misericórdia, é perdão.
Misericórdia que é mais justa do que a nossa justiça. Entrega sem limite, simplesmente acolhe. E acolhendo nos dá vida, vida eterna. Na Eucaristia nós temos todo o mistério da vida de Cristo ali, num pedaço de pão e num gole de vinho. Deus entregue, Deus que se dá, Deus que nos salva e salva o mundo, e convida a nós, que recebemos desde Sacramento, sermos também Eucaristia para os outros, porque se nós imitamos Jesus no mundo, o mundo melhora.
Se nós imitamos Jesus, nós faremos uma política melhor, se nós imitamos Jesus, nós vamos cuidar dos que mais sofrem, vamos pôr remédio para que os sofrimentos do mundo diminuam, se não podem desaparecer. Nós não vamos pensar só em nós, porque dando a vida para o outro eu estou crescendo como ser humano, eu estou sendo realmente humano.
Jesus, na Eucaristia, nos mostra isso, a entrega de Deus. A entrega que amanhã será Cruz. Deus não guardou nada para si, é tudo entrega.
Vamos pedir ao Senhor que mande sobre nós o seu Espírito, o Espírito Santo, que é o amor do Pai e do filho entregue, doado a nós, para que nós possamos ser transformados e transformadas naquele que nós comungamos, poder ser servidores como Jesus onde quer que estejamos.

Deus é misericórdia infinita
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Domingo de Ramos Ano C – 10/04/2022 - missa às 09h30)
1º evangelho [Lc 19,28-40]
Jesus entra em Jerusalém exatamente como haviam dito os profetas antigos: “o teu rei vem na paz, sentado sobre um jumentinho”. Todos esperam – e nós também esperamos – que o poder de Deus se manifeste de forma esplêndida. Não é essa a mentalidade de Deus. Jesus, provavelmente, entrou com seus discípulos no meio de uma festa popular. O povo aclamava e Jesus, com seus discípulos, em meio a essas aclamações, entra em Jerusalém. Deus veio visitar o seu povo na paz, que é alegria. Paz que não é exagero, mas que é vida. Em uma outra passagem do Evangelho, Jesus vai chorar sobre Jerusalém porque ela não soube reconhecer a visita de Jesus, o Príncipe da Paz. Por isso, Jerusalém desabou 40 anos depois. Vamos seguir Jesus. A lógica de Deus quer a festa do povo, alegria, saúde. Quando o povo celebra, significa que ainda tem esperança, tem vida. Apesar de tudo, este povo não esmorece. Essa é a grandeza do povo brasileiro.
2º evangelho [Lc 23, 1-49]
O Evangelho de Lucas é chamado de Evangelho da misericórdia. Ali, nós vemos esta atitude de Jesus. Lucas coloca atenção nesta atitude. Jesus é a revelação do Deus fiel, do Deus de perdão, de reconciliação. No Monte das Oliveiras, quando prenderam Jesus e cortaram a orelha do servo do sumo sacerdote – que, como símbolo, significa que o Sumo Sacerdote não tem mais a sua autoridade –, Jesus cura a orelha deste homem e em nenhum momento vai acusar quem quer que seja. O que Ele falou e fez publicamente, os fatos, estava tudo ali. O que se tem que argumentar? Jesus curou as pessoas. O Evangelho de Lucas fala de 18 curas (15 na Galiléia e 3 na Judéia). A Galiléia era uma região de hebreus também, mas muito desprezada pelos judeus de Jerusalém, que tinham sempre essa mania de se achar a grande, a melhor. Jesus é acusado e Pilatos percebe muito bem a artimanha dos chefes do povo, dos Sumo Sacerdotes e dos Fariseus. E ele vai dizer bem claro duas vezes: “não encontro motivo para matar esse homem”. Mas estes homens insistem. Então Pilatos usa um subterfugio e manda Jesus para Herodes. E se Pilatos estava preocupado de ver se ali tinha realmente algum crime, Herodes, que era um monstro, mandou matar um monte de líderes, inclusive João Batista. O evangelho diz que ele debocha com seus soldados de Jesus e o deboche consiste em pedir pra ele fazer um milagre para mostrar que era rei. E ainda mais quando coloca nas costas de Jesus um manto púrpura, que era a vestimenta dos reis. Isso é deboche e desprezo. Mas Jesus não abre a boca diante do tribunal. O silêncio denuncia a falsidade das acusações. Jesus é mandado de volta para Pilatos, que não vê crime e usa a famosa frase: “Herodes não viu crime nele e o mandou de volta”. Mas o povo insiste. No evangelho de João, nós temos uma frase ou uma expressão que pode ter realmente feito Pilatos tremer: “esse homem se diz rei; o único rei é César; se você não o condena, você não é amigo de César”. Amigo de César era um título que se dava ao primeiro conselheiro do imperador e esse conselheiro era amigo de Pilatos. Mas ele tinha caído em desgraça, tinha perdido seu cargo e Pilatos não tinha mais as costas quentes. Então os chefes dos judeus, na verdade, chantagearam Pilatos e ele cedeu à chantagem. Quem matou Jesus, quem mexeu com tudo foram os chefes dos judeus, não o povo hebreu. O povo amava e seguia Jesus. As primeiras comunidades são todas de hebreus. Mas são os chefes das nações, os Sumo Sacerdotes, doutores da lei e fariseus que condenam Jesus à morte. Um grupo pequeno. O povo só sofre na mão dessas pessoas e, ainda assim, a passagem de Jesus – quem sabe, por minutos, na vida de Pilatos e Herodes – criou na vida dessas pessoas reconciliação. Pilatos e Herodes eram inimigos e, nessa ocasião, tornaram-se amigos. A intenção de Lucas era mostrar que a presença de Jesus é reconciliadora.
Levado para a crucificação, Jesus consola as mulheres. É um consolo amargo. “Não chorem sobre mim, chorem sobre vocês mesmas e vossos filhos, essa cidade será destruída”. Foi um massacre na Palestina. O templo de Jerusalém foi destruído porque eles não souberam reconhecer o tempo em que Deus os tinha visitado. Não souberam depois quando crucificam Jesus. Temos que lembrar que os seus assassinos debochavam dele. Aqueles que tinham criado aquele julgamento injusto naquela corte maldita passavam em frente ao calvário e debochavam “desce daí você que falou que reconstruiria o templo”. Para essa gente cínica, que sabe muito bem o que fizeram a Ele, Jesus pede perdão ao Pai. Esse é um Deus muito estranho. Jesus pede perdão por aqueles que o estão matando de forma criminosa porque, se o Pai não os perdoa, eles serão condenados ao inferno. Mas Deus não quer ninguém no inferno. Mais adiante, veremos essa outra situação que nos deveria deixar sempre admirados: Jesus tem do seu lado dois assassinos - não são ladrões, porque ladrões não morriam daquele jeito. O texto diz que estavam envolvidos em um homicídio e que eram amigos de Barrabás. E para serem crucificados eles tinham que ter matado um cidadão romano. Temos que pensar o que significa uma pessoa sã ser pendurada numa cruz para morrer à míngua. Às vezes as pessoas ficam 1 semana agonizando na cruz. O fato de Jesus ter sido pregado fazia com que a morte fosse mais dolorosa, porém mais rápida. Mas, mesmo assim, podia levar dias. Esses dois homens veem diante de si esse fim horroroso: morrer sob tortura numa cruz. E, no desespero, um deles diz: “você é o Messias, nos salve, tire a gente daqui”. É desespero, não é maldade, é ver um fim horroroso. O outro confessa a própria situação: “nós estamos aqui porque merecemos, nós matamos alguém do império e o império nos mata, é essa a pena que dão pra quem cometeu nosso crime; esse homem não fez nada; lembra-te de mim quando estiveres no teu reino”. E aí a grandeza de Jesus não falou que o faria dali três dias, não falou no fim do mundo, não falou no purgatório. Ele falou “ainda hoje estarás comigo no paraíso.” Hoje. E, de fato, aqueles dois homens morreram naquele dia porque quebraram os joelhos deles e, assim, a pessoa cai e não consegue respirar mais. É um ato de misericórdia monstruoso. É muito estranho pensar que Jesus levou consigo para junto de Deus um assassino. O seu perdão e sua misericórdia não têm limites. A misericórdia de Deus vai muito além disso que nós, vingativos, chamamos de justiça.
A misericórdia de Deus nos resgata do pecado, nos tira da lama, nos tira da morte. Contemplar Jesus crucificado é contemplar essa bondade infinita que é fiel até o fim. Jesus não amaldiçoa, não se defende, não acusa. Jesus perdoa, reconcilia, cura. Esse é o nosso Deus. Essa é a revelação que nós recebemos. Esse é o Deus que nós celebramos na eucaristia. Todas as vezes que celebramos a eucaristia, nós vivemos hoje aquele momento. Nós e aquele povo, nós e os discípulos, nós e todos os seguidores de Jesus, da história, que são e que virão e que foram, estamos unidos naquele momento eucaristia. Para nós, é a recapitulação de tudo isso feito em vida aqui. É essa vida de amor, de misericórdia, de perdão que está na eucaristia. É a vida de Jesus que está ali e se entrega para nós e nos convida a sermos também vida para os outros. Em um mundo que só está falando de guerra e construindo a guerra, tem pouca gente falando de paz. Por aqui, temos a guerra de violência. A quantidade de assassinatos que temos no Brasil é uma coisa assustadora. São números de guerra civil para esse mundo de violência. Olha só esses escândalos no Ministério da Educação, com uma gangue de ladrões roubando dinheiro dos vossos filhos, das vossas escolas. Não podemos esquecer que isso significa que a qualidade de estudo dos vossos filhos está sendo jogada no lixo. Nesse mundo, nós somos chamados a buscar vida melhor e situações mais dignas porque somos cristãos, somos católicos e queremos a vida de todos, porque seguimos Jesus. Ele quer que todos tenham vida e para todos entregou Sua vida. Vamos pedir ao Senhor que nos ajude, nessa Semana Santa, a entrar no seu mistério de amor e de fidelidade.

A dignidade dos filhos e filhas de Deus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 5° Domingo da Quaresma Ano C – 03/04/2022 - missa às 10h)
Nós estamos na Quaresma, que esse ano é guiada por essa Campanha da Fraternidade sobre o tema “Fraternidade e Educação: Fala com sabedoria e ensina com amor”. No cartaz da campanha, nós vemos um desenho de Jesus inclinado e escrevendo na terra e a pecadora, a adúltera, que está ajoelhada aos pés Dele, e Jesus escreve as palavras “amor e sabedoria”.
Muito bem, uma primeira curiosidade: a adultera não é Maria Madalena. Outra prostituta que Jesus perdoou? Não, foi a terceira. Foram três mulheres diferentes, às vezes o pessoal chama de “a pecadora” e todo mundo diz ser Maria Madalena, mas não é, isso é falso. O que nós temos no Evangelho de hoje? Jesus que vai para o templo e se senta – sentar-se era sinal do mestre. Quando Jesus subiu no monte, no Evangelho de São Mateus para falar as bem-aventuranças, Ele sentou-se, isso é um símbolo de mestre. E Ele estava ali conversando com as pessoas e de repente vem alguns homens, homens de igreja, eram fariseus, doutores da lei, mestres do povo que arrastavam uma moça que não devia ter mais de 13 anos de idade. As mulheres naquele tempo se casavam depois da primeira menstruação, com 12 ou 13 anos. Aí há o tempo do noivado, que é quando a moça fica um ano na casa dos pais, e só depois de um ano ela é levada para a casa do esposo e vão viver como marido e mulher. Nesse ano, não pode ter “brincadeiras”, e se ela “brincar” com outro é adultério e será apedrejada até a morte, mas não é só ela, seriam os dois. E esta moça estava para ser apedrejada, porque foi pega em flagrante por adultério, mas adultério se faz com duas pessoas: cadê o homem? Geralmente em sociedades machistas, fazem vistas grossas para os homens, facilmente o deixam escapar. Mas eles levam essa moça, que para eles já era para não ter mais vida, para Jesus, para que? Para colocar Jesus em uma armadilha, para ter o que acusá-lo, eles querem matar a moça para cumprir a lei de Moisés, mas também querem culpar Jesus.
Vocês já viram como funciona um linchamento? Eu vi uma vez no centro de São Paulo, na Rua Direita, a um certo momento alguém gritou “pega ladrão”, é uma coisa assustadora, parece que ligam algo nas pessoas e elas saem correndo atrás daquele jovem, e teriam pegado e dado uma surra ou sabe lá o que mais, a sorte do moço é que na ocasião tinha aqueles policiais montando a cavalo, que entraram na frente do rapaz e das pessoas, deixando o rapaz próximo ao cavalo. E dispersaram o povo. Nesse caso do Evangelho, o povo está enlouquecido para matar a mulher, e aí o que fazem? Levam-na a Jesus. A primeira atitude de Jesus é se abaixar e escrever no pó. Ele não grita, não fala, Ele somente se abaixa e escreve no pó, esse gesto para os hebreus era sinal de maldição – “teu nome está escrito no pó do mundo dos mortos”, terrível. Mas nós não sabemos o que Jesus estava escrevendo, isso fez com que o pessoal se acalmasse, mas eles insistem e Jesus fala “quem não tem pecado que atire a primeira pedra”, qual o problema do linchamento? O linchamento faz com que as pessoas percam a razão e ajam por um instinto assassino, matam a pessoa, aí você pergunta: quem deu a paulada? Quem atirou a pedra? “Ah foi o grupo”, a mão assassina se torna anônima, dizem “foi a multidão que matou”.
Jesus acalma essa gente e depois que eles insistem, Jesus faz essa provação terrível contra eles. Ele não discute com eles, não fala se está errado, se está na lei ou não. Jesus faz esse pessoal acordar, e faz com que cada um tenha um nome: “quem não tiver pecado”, cada pessoa cai em si e não é mais uma multidão, não é mais o anonimato assassino. Jesus transforma esses homens de juízes que julgam a moça em réus. “Vocês são todos pecadores, porque querem julgar outra pessoa?”. É interessante que a partir dos homens mais velhos vão indo embora – o homem mais velho é visto como o mais sábio – e as pessoas vão saindo, largando as pedras e vão embora. E o que encontramos? Jesus com esta moça, e vocês perceberam que em nenhum momento essa moça falou, porque a mulher naquele tempo não tinha possibilidade de comparecer em tribunal. Ela não podia ser testemunha, não tinha voz, era como se fosse incapaz, só podia falar dentro de casa, fora não tinha voz. E Jesus pela primeira vez neste Evangelho se dirige a moça e pergunta para ela. Se nós olharmos todos os evangelhos em que Jesus está com mulheres, sempre tem uma atitude diferente, por quê? Porque Jesus não promove a mulher, porque promover é tirar de lá de baixo. Jesus reconhece a dignidade da mulher desde o início dos tempos, Jesus trata as mulheres como igual, coisa que o povo na época não podia conceder. Jesus trata as mulheres iguais, ninguém tem que condenar ou tirar voz da mulher pelo fato de ela ser mulher, Jesus dialoga, Jesus faz aparecer a dignidade que ela sempre teve pelo simples fato de ser filha de Deus, isso é muito importante. Essa moça olha em volta e Jesus diz “eu não te condeno”. Quando te devolvem a dignidade, você volta a ser patrão ou patroa de sua própria vida, e Jesus ainda diz “vai em paz, não volte mais a pecar”. A conversão é possível porque essa moça reencontrou a sua dignidade.
A Campanha da Fraternidade, falando sobre educação, está nos chamando a atenção para a educação integral da pessoa. Essa educação começa em casa, na escola, na igreja, a pessoa ela tem que ser formada em todos os aspectos da sua vida. Educação íntegra, a educação deve fazer as pessoas se valorizar, e valorizar os outros, deve ser de qualidade, especialmente onde existem mais dificuldades econômicas e sociais, para que haja promoção humana, dar dignidade a quem sempre levou dignidade, educação básica para crescimento de um povo. Nós queremos homens e mulheres capazes de guiar este país, e a educação precisa criar isso. Vamos pedir ao Senhor Jesus que nos ajude e nos ilumine neste caminho.

Ser o filho que acolhe os irmãos com a compaixão do Pai
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 4° Domingo da Quaresma Ano C – 27/03/2022 - missa às 10h)
Parábola do filho pródigo [Lc 15, 1-3. 11-32], parábola conhecida! É o coração do evangelho de São Lucas. O que nós temos aqui? Jesus acolhe as pessoas, Jesus é revelação do Pai, Ele não faz distinção de pessoas, Ele acolhe os pecadores, os cobradores de impostos, que eram pessoas odiadas pelos hebreus porque cobravam impostos para o Império Romano. Eram tidos quase como hereges, "onde já se viu um judeu cobrar impostos para um país estrangeiro e se enriquecer com isso?".
Comendo com essas pessoas que comiam do mesmo prato, pois naquele tempo não tinha cada um o seu prato, comiam em um prato comum, os judeus achavam que as pessoas se tornavam impuras porque comiam com pecador. “Quem come com pecador se contamina com impureza, não pode participar do culto”, e criticam Jesus por isso. Quem são os fariseus, os doutores da lei? São os homens de igreja, eram os homens que governavam a Palestina e o templo, eram aqueles que julgavam as pessoas.
E estavam lá criticando Jesus, então Jesus lhes conta essa parábola deste filho jovem que pede tudo que é dele para o pai. Herança a gente recebe quando as pessoas morrem, pedir a herança antes do tempo queria dizer para o pai "você morreu para mim". Foi embora, gastou tudo, mas, de repente, as lições da vida. O sujeito foi trabalhar no meio dos porcos, foi o único trabalho que ele encontrou; quem sabe os amigos de farra dele que colocaram ele lá para trabalhar com os porcos. E a situação era tão grave que nem da lavagem dos porcos ele podia comer!
Estando naquela situação de miséria e desespero, esse homem caiu em si! O verbo em latim e grego diz: "olhou para dentro de si" – no português nós falamos "caiu em si". Toma consciência da sua situação, vê o horror em que a pessoa está vivendo, vê o marasmo da vida, vê as opções erradas, e esse é o momento de grande possibilidade porque a pessoa pode realmente reorientar a própria vida. Foi o que este homem fez: "eu herdeiro não sou mais, não tenho mais nada na casa do meu pai, mas eu posso pedir para ele para ser empregado, lá pelo menos eu não vou passar fome".
Ele foi, e vai pedir para o pai para ser empregado, assalariado. Quando o pai o vê de longe, reconhece o filho. Sabe lá quanto tempo esse filho ficou fora, em que condições esse moço estava voltando, de onde, de um país estrangeiro. Se ele estava na miséria, imagina como chegou! Mas o pai o reconhece de longe, corre para o filho movido de compaixão.
A compaixão é um sentimento de Deus, e Ele fala no antigo testamento que Suas vísceras tremem de amor pelo seu povo – as mulheres entendem isso porque elas têm útero, mas os homens não. E ele corre ao encontro do filho que tinha preparado um discurso para dizer ao pai, reconhecendo a situação grave que tinha cometido: "Pai, eu pequei contra o céu e contra ti, eu não posso mais ser considerado seu filho, trata-me como um de teus empregados". Mas o pai cortou o discurso dele no meio, e o que o pai fez? "Vai botar uma nova túnica, uma sandália, um anel, vamos devolver a dignidade para o meu filho". E não só o anel, que era sinal de poder, mas poder dispor tudo o que tem na casa!
Para Deus, nós somos filhos e filhas, Deus nos ama sempre. Dele não precisa ter medo.
E fazem uma festa. O que acontece? Tem o filho mais velho, mas o filho mais velho não aceita a situação! Apesar de o pai insistir "venha, se reconcilie com teu irmão", o irmão responde "não, este teu filho, que gastou os teus bens com prostitutas"; as acusações eram absurdas. E ele ainda reclama: "eu observei tudo que você manda, nunca desobedeci a uma ordem tua.” A grande pergunta é como este filho vê o pai? Ele vê o pai como um patrão, e um patrão do qual você pode cobrar as coisas.
"Eu merecia mais do que um cabrito e nem isso você me deu" – isso você fala para um patrão, e para um patrão injusto. Então o pai com toda a calma diz: "Calma, tudo o que é meu é teu. Vamos parar com essa conversa de empregado para patrão pois não sou seu patrão, sou teu pai, e nós vamos festejar porque aquele teu irmão estava perdido e foi reencontrado."
Jesus está falando para os fariseus, por isso não temos a resposta do que aconteceu com o moço, que estava lá fora e não queria entrar na festa. Cada um daqueles fariseus e doutores da lei tinha que se colocar no lugar daquele filho mais velho. Jesus acolhe os pecadores, e os bons religiosos condenam Jesus e os pecadores.
A grande pergunta que fica para nós: qual dos dois nós somos? É muito fácil, geralmente nós caímos logo no filho pródigo e pensamos "nossa, eu sou tão pecador, Deus me acolhe". Nós somos pessoas de igreja, somos o filho mais velho, não o mais novo! Nós somos chamados a acolher as pessoas, a ver Deus como Pai, porque se Ele é nosso Pai, é Pai dos outros também, e não é porque sou religioso, sou honesto, só faço o bem, que sou melhor que os outros.
A mesma salvação que Deus der para nós dará para os outros também, porque Ele é bom. E nós conseguimos ter um mundo melhor se nós nos convencemos de que os outros que estão lá fora, e outros têm nome: pobres, sofredores de rua, pessoal das estradas, encarcerados, pessoas de periferia. O dia que nós considerarmos essas pessoas como irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai, nós conseguiremos melhorar nossa sociedade.
Enquanto nós apontarmos o dedo para os outros, apontando o erro dos outros, nós não estaremos na dinâmica do reino; seremos bons religiosos, mas estaremos longe de Jesus. Nós temos que pedir ao Espírito Santo: "ajude-me a ver os outros como irmãos, a não julgar", porque Deus quer a salvação nossa e deles.

Assim como Deus, não façamos distinção entre pessoas
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 3° Domingo da Quaresma Ano C – 20/03/2022 - missa às 10h)
Deus chamou Moisés para libertar o povo. Um pequeno grupo que depois se uniu com outros grupos no deserto, já na terra da Palestina, e formou o povo de Israel. Um povo que nasce dessa vontade: serem livres da opressão dos outros. E o que aconteceu? Com o passar dos séculos, especialmente com a monarquia, este povo voltou à situação de opressão que tinha antes. Tanto que, quando morre o Rei Salomão, os representantes do povo chegam para o seu sucessor – Roboão – e dizem: “escute, o teu pai nos colocou um jugo insuportável, nos liberte desse jugo.” O jugo insuportável é o mesmo modo que se usava para falar da opressão dos egípcios. Você escapa de um lugar com anseio de liberdade e acaba criando uma situação de opressão exatamente igual. Por quê? Porque você não cultivou o amor e a igualdade entre as pessoas.
Quando Jesus fala da figueira no Evangelho [Lc 13,1-9], Ele está dizendo sobre isso. Deus teve paciência com esse povo, mandou profetas, mandou reis, juízes, mas esse povo não se converteu, não deu frutos. Que nem o dono de um pomar fala para o jardineiro: “pode cortar aquela árvore ali porque ela não presta pra nada, ela não deu frutos nos últimos três anos, vamos plantar outra coisa”. Aí o jardineiro que estava cuidando das plantas diz: “espera aí, eu vou pôr adubo no pé desta figueira, vamos ver se dá frutos no ano que vem, senão cortamos”. Tem planta que só dá frutos se você machuca ela todinha em seu tronco, é a coisa mais engraçada. O adubo, o cuidado, é a ação de Jesus para esse povo. Mas o chamado à conversão que Jesus fez para este povo, infelizmente, poucos ouviram.
Os hebreus achavam que, quando lhe acontece uma desgraça, é porque você está pagando algum pecado. Você aprontou alguma, e agora está pagando o pecado que você fez. Então, o que aconteceu lá na Galileia? Provavelmente estavam fazendo sacrifícios de animais, ou matavam por ordem de Pilatos e eles viam isso como profanação, desrespeito e violação do culto. Mas, justificavam também a morte desses que morreram assim, é porque eles tinham cometido algum pecado. Mas Jesus vai falar que não era assim e que se eles não se convertessem ia acontecer pior do que aconteceu com os anteriores. Se converterem do quê? Da mentalidade de opressão, do nacionalismo doentio.
A gente não precisa falar muito do nacionalismo, basta ver a doidice que está acontecendo na Ucrânia. Entenderam? O nacionalismo, nós na América Latina, graças a Deus não sofremos dessa doença. O nacionalismo é um amor visceral que a pessoa tem pela sua terra, pelos seus costumes, tradições, religião. E isso tem um aspecto bom, porque é um amor àquilo que é teu. Mas tem um lado tenebroso, que é o ódio pelos outros, o ódio pelo diferente, e a busca de impor aquilo que é meu. Terrível, porque quando explode o lado obscuro, dá nisso o que a gente vê: guerras que não são mais grito contra injustiça, contra uma invasão injusta. Não, você demoniza o outro, como se ele fosse o anticristo. Mas, isso por quê? Porque você odeia. E os hebreus, naquele tempo, tinham exatamente essa mentalidade: tem que botar fora os romanos, nós temos que ser a maior nação do mundo e, quando isso conseguirmos, botar todo mundo debaixo do nosso chinelo. No fim das contas, o nacionalismo gera isso. O nacionalismo gera campo de concentração. Por trás de todo nacionalismo exacerbado tem um Hitler, porque começa a excluir pessoas e matá-las. É muito sério isso. Por isso, no Antigo Testamento, muitas vezes, os profetas chamam atenção falando para cuidarem e respeitarem o estrangeiro na tua terra. E também para cuidarem dos pobres, porque eles são os primeiros da lista para serem excluídos.
E aqui no Brasil acontece a mesma coisa. Quem são os 170 por dia que são assassinados no Brasil? O pobre, o preto. Índio então, a gente nem fala, muita gente considera que não vale ou vale menos. Jesus fala que essa mentalidade não é de Deus e que ela destrói. E o que aconteceu? Não mudaram de mentalidade, mataram Jesus, perseguiram a primeira comunidade cristã. Quarenta anos depois, fizeram uma revolta em Israel. Vieram os romanos guiados por Tito, que depois foi imperador, e acabaram com tudo. Profanaram o Templo e derrubaram as muralhas de Jerusalém. Os dezoito que estavam na torre de Siloé, quando ela desabou, alertou que se não mudassem de mentalidade ia acontecer com eles igualzinho. E foi o que aconteceu. Depois, no ano 117, Adriano mandou acabar com tudo. Sobrou apenas a esplanada do Templo e os judeus foram expulsos da Palestina e só puderam voltar como Estado depois da Segunda Guerra Mundial. Eles ficaram quase 1900 anos sem um estado. Isso nos alerta para quê? Nós somos todos irmãos. Se nós não nos convencermos disso, nós continuaremos matando as pessoas, continuaremos com nossos racismos, continuaremos com nossos ódios. E disso só pode nascer morte, sofrimento, extermínio. 170 assassinatos por dia é uma vergonha para o nosso povo, sinal de que nós não amamos os nossos irmãos. Nós desprezamos os pretos, nós desprezamos os índios, nós desprezamos os gays, e nós estamos longe do Evangelho. Jesus nos diz: “convertam-se! Se vocês não se convertem, vocês vão ter como resultado a morte”. E isso não é maldição de Deus. Isso é olhar a realidade, e ela está gritando na nossa cara.
Vamos pedir a Deus que os exercícios da quaresma – jejum, oração e esmola – nos ajudem a descobrir no outro, que é diferente de mim, um irmão e uma irmã amados por Deus, exatamente do mesmo jeito que eu. Deus não faz distinção de pessoas. E esse mal pode entrar em nós católicos. Aí vem a Segunda Leitura, em que São Paulo diz para termos cuidado. O mesmo engano que aquele povo cometeu lá no passado, nós podemos cometer também. Portanto, é necessário conversão, mudança, vigilância, para que nós não caiamos nos mesmos erros. Vamos pedir a Jesus que Ele nos dê paz neste tempo difícil. Papa Francisco, na próxima sexta-feira, vai consagrar a Rússia e Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Várias vezes os papas fizeram esta consagração já, mas cada tempo grita diante de Deus pedindo paz. Vamos nos unir ao Papa, na próxima sexta-feira, rezando pela paz.

Jesus nos ensina a amar a todos a todos como irmãos
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 2° Domingo da Quaresma Ano C – 13/03/2022 - missa às 10h)
As leituras de hoje nos apresentam três figuras do Antigo Testamento que estiveram na presença de Deus, atentos a presença de Deus, mas não viram o rosto de Deus: na primeira leitura, Abraão e, no evangelho, Moisés e Elias.
Quando Moisés estava no Monte Horebe e pediu para Deus: “mostra-me a tua face”. Deus respondeu para ele: “ninguém pode ver a minha face e permanecer vivo, você vai se esconder na fenda da rocha, na caverna e eu passarei diante de ti com toda a minha glória e você vai poder me olhar quando eu estiver de lado mas o meu rosto você não pode ver”. Elias, quando subiu no Monte Horebe, quase 500 anos depois, Deus se manifestou. Primeiro veio o furacão, depois veio a tempestade, depois veio terremoto e Deus não estava em nada disso. Aí veio o silêncio de uma brisa leve e Elias pôs o manto na frente do rosto e saiu de dentro da caverna porque o Senhor estava ali nesse vento. Mas ele não olhou, ele estava com o rosto coberto. Abraão também não vê Deus assim face a face. Estes três apóstolos viram a glória de Jesus, mas Moisés tinha morrido há 1200 anos atrás, Elias tinha morrido há 700 anos antes. Vocês se lembram quando Jesus debate com o pessoal que tinha uma mulher que se casou com 7 irmãos? Jesus fala para Deus todos vivem. Os nossos defuntos estão na presença de Deus.
Mas qual que é coisa que chama atenção neste evangelho? Os apóstolos há um certo momento parecem delirar – São Pedro está fora completamente – porque, podemos dizer, eles viram um pedacinho do céu. São Paulo nos diz “coisas que os olhos não viram, sons que ouvidos não ouviram, isso Deus preparou para aqueles que o amam”. A realidade de Deus ela nos deixa como delirando, por ser grande demais, diferente demais. E aí Pedro começa “ah vamos construir 3 tendas”, mas eles foram lá para rezar, cadê o pano para construir as tendas? Ele está completamente fora e aí acontece que a nuvem cobre tudo. Quando Moisés subiu no monte Horebe para receber as tábuas da Lei, o cume da montanha foi coberto por nuvens de tempestade isso era um sinal da presença de Deus. Então a nuvem que cobre Jesus, Moisés, Elias e os 3 apóstolos indica a presença de Deus. E é muito significativo que Deus fale “esse é o meu filho, o escolhido, escutai-o”. E quando você olha, você encontra Jesus. A glória de Deus se manifesta em Jesus, em Deus que se fez um de nós, um igual a nós para que nós aprendêssemos a nos amar como iguais. Para Deus, não existe gente de segunda, terceira, quarta classe, não existe gente civilizada, mais ou menos civilizada, pouco civilizado e selvagem, existem filhos e filhas. Então é em Jesus que a glória de Deus se manifesta, nesse homem, e mais a glória de Deus vai se manifestar na cruz, no horror da cruz! Nós transformamos a cruz em objeto de culto, nós transformamos a cruz em arte, mas a cruz é um horror, aquilo é um homem torturado colocado ali pendurado naquele pedaço de madeira para morrer! Isso é a cruz e, nesse horror, aparece a glória de Deus para nos mostrar que o que é de Deus é diferente do que nós temos nesse mundo. A transfiguração foi uma coisa assim preparação, quase um sonho, uma consolação para aqueles discípulos suportar depois o escândalo da cruz. De fato, depois da cruz, eles se esconderam, alguns foram embora para poder ver se salvavam a própria pele da mão do governador. Então, em Jesus, se manifesta a glória de Deus. A glória de Deus se manifesta na cruz.
Nós, nesse mundo, às vezes olhamos para força, dinheiro, beleza, na cruz de Jesus não tem nada disso. Na cruz de Jesus tem sofrimento, humilhação, mentira – mentiram para matar Jesus – tem morte, isso é a vida dos inocentes. Isso é a vida dos pobres. Isso é a vida de quem não conta. Isso é a vida das vítimas dos grandes desse mundo que vivem no próprio orgulho, que querem ser senhores do céu e da Terra. Nós temos aí essa guerra que não é outra coisa que a busca imperialista de um lado é a busca imperialista do outro. Quem sofre é o povo, e não todos, ou melhor todos sim, mas entre os que sofrem há os que sofrem mais, porque são considerados segunda classe. Na Ucrânia, os negros não podem subir nos trens, não podem fugir, só os brancos loiros e de olhos azuis, isso são palavras de repórteres europeus e americanos. A força do poder desse mundo realmente é destruidora, separa as pessoas, faz delas menores, pouco civilizadas. Vocês sabiam que no Brasil nós temos uma média de 170 assassinatos por dia? Em 5 anos, 269 mil assassinatos. Sabem quantos mortos teve a guerra na Síria durante esses anos? Em 5 anos, 265 mil mortos. No Brasil, se mata mais do que nas guerras. Por que matamos? Por que nós não nos incomodamos? Porque a grande maioria das pessoas que são assassinadas no Brasil são pretos jovens de periferia. consideradas pessoas e segunda classe. No Brasil, nós estamos tendo a morte de índios de uma forma assustadora nunca teve na história recente – antes mataram muito, é a mentalidade colonialista que faz ver as pessoas como de segunda classe. Ninguém fala nada, não faz notícia, isto é para ver como nós estamos mergulhados dentro dessa ideia que transforma o outro em gente de segunda e terceira classe.
Jesus manifesta a sua glória lá numa cruz e ele não está sozinho, tem dois assassinos junto com ele, homens que estavam envolvidos em homicídio. Deus se manifesta lá onde nós achamos que ele não se manifesta, lá onde nós juntamos as pessoas no lixo, Deus está ali se manifestando no meio deles para salvar a todos para curar o coração de todos. Aprendamos a ver o outro como irmão e irmã, e logo nós começaremos a construir um mundo de paz. Vamos pedir a Virgem Maria, chamada Rainha da Paz, que nos ensine a ver em Jesus crucificado e nos crucificados da vida o rosto de Jesus.

Diante das tentações, confie em Deus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 1° Domingo da Quaresma Ano C – 06/03/2022 - missa às 10h)
O deserto é o lugar da prova, mas é lugar também do encontro com Deus. Quando nós falamos do deserto, nós lembramos o povo que saiu do Egito, eles foram para o deserto. Lembramos de Moisés, Josué, lembramos de Elias que foi para o deserto fugindo da rainha de Jezabel, e ficou lá 40 dias caminhando até chegar no Monte Horebe. O povo de Israel ficou 40 anos no deserto. E o que acontece? Foi no deserto que Deus se revelou a Moisés: “Eu sou aquele que sou e te envio para libertar o meu povo”. Lugar do encontro com Deus. Jesus vai para o deserto com a força do Espírito Santo. e aí ele é colocado a prova. Jesus ser tentado no deserto nos lembra o Jardim do Éden, onde Adão e Eva são enganados pelo inimigo e duvidam de Deus. Jesus ele é colocado à prova de três modos.
Primeiro, o pão. Quando nós falamos de pão nós lembramos o povo também no deserto, que a um certo momento, começou a reclamar de Deus: “Ah, nos tirou do Egito, mas lá a gente tinha panelas de cebola para comer, aqui nós estamos passando fome” Ai meu Deus manda o maná, que nós supomos que fosse como uma resina de plantas, de cactos, ou coisa parecida, nós não sabemos o que era só sabemos que isso matou a fome daquele povo não pensar que era um dez mil pessoas, era um grupo de pessoas... Às vezes certos números ali são exagerados. Depois tem um problema: a tentação de querer a soluções rápidas para a vida e soluções fáceis: “transforma essa pedra em pão”. Não precisa trabalhar, não precisa cultivar a terra, não precisa crescer como pessoa, vamos logo conseguir o resultado final. Essa é uma das grandes tentações de Adão e Eva, quando ouvem “vocês serão como deuses”. Jesus não aceita essa mentira. Não só de pão vive o homem, mas da Palavra de Deus. Deus falou: “com o suor do teu rosto, cultivarás a terra, comerás o teu pão” – é no trabalho do dia a dia.
Depois, a segunda tentação do Evangelho de Lucas: o maligno leva Jesus para o alto de uma montanha, sabe-se lá onde, e ele vê a glória das grandes cidades E aí o demônio faz o que nós chamaríamos uma fake news: “isso tudo me foi dado e eu dou isso para quem eu quiser”. É uma mentira, é uma ilusão, “mas você me adorar vou te dar tudo isso”. Os poderes deste mundo muitas vezes se apoiam na mentira, no despotismo, em corrupção. Tem situações tremendas, mas Jesus não quer esse poder para ele. Tem o poder dos exércitos, o poder das guerras, o poder econômico. Jesus não quer isso para ele, não é esse o caminho.
Depois, o maligno leva Jesus ao pináculo do templo. O pináculo do templo era parte mais alta, tinha até 70 m de altura. O povo no deserto passou sede e até Moisés duvidou de Deus. Aí Deus falou para ele: bate na pedra e vai sair água. E Moisés bateu, pensando ‘mas será que Deus vai fazer isso mesmo? Deus está aqui ou não tá?’. Ou seja duvidou de Deus duvidou da fidelidade de Deus, por isso Deus amaldiçoou o povo, dizendo nenhum de vocês vai entrar na terra prometida, exceto dois: Josué e mais um outro, porque vocês não confiaram em mim. Esse lugar foi chamado Meriba, o lugar da prova. Jesus não só não aceita colocar Deus à prova, como deposita a sua confiança em Deus. Não tentarás o Senhor, teu Deus. Você vai acreditar na sua fidelidade, na fidelidade dele, mesmo nas dificuldades da vida, mesmo nas dores, mesmo na morte. E cuidado: o maligno embrulhou Jesus, nessa terceira tentação, usando a Palavra de Deus.
O maligno pode tentar nos embrulhar com a palavra. A Palavra de Deus tem que ser lida com fé. a palavra de Deus não é livro de adivinhação. Aí eu estou com dor de dente, vou ver que a Bíblia fala, isso é blasfêmia. Na Escritura, devemos buscar conhecer a fidelidade de Deus, seguir Jesus e encontrar luz para o nosso caminho, mas não como respostas de oráculos. A gente pode falar mas essas coisas foram só com Jesus, não gente! Essas realidades são constantes, nós muitas vezes renunciamos a empenhos, a dificuldade de sempre caminhar, a gente se acomoda, isso é modo de querer ter facilidades na vida, respostas fáceis. Nós nos enganamos com os ídolos desse tempo. O povo de Israel se enganou com o bezerro de ouro, eles adoraram o bezerro de ouro no deserto, se enganaram. Nós somos muitas vezes enganados pelos ídolos desse tempo. Um ídolo desse tempo é a estética. Outro ídolo que nós temos que está causando danos terríveis é a bendita da Internet, seria mais a bendita da informação, nós nos convencemos que somos informados. Liga a televisão e ouve um monte de coisa, a gente pensa que está informado, na verdade nós estamos é tontos com tanta informação e terminamos por não participar de nada. São enganos depois nós temos ainda atualidade terrível das fake news, mentiras, olhem bem essa história da guerra na Ucrânia. Quanta mentira dos dois lados – ali não tem nenhum santo não viu, um é um ditador terrível e o outro é um doido varrido neofascista. Nenhum dos dois é bom ali não e tem um bando de doido olhando em volta querendo botar fogo em tudo. Gente, é o mundo da mentira, o mundo do poder. Nós temos que olhar com pinças toda essa situação, tem muitos lados toda essa situação. É uma coisa horrível essa guerra e temos que rezar: colocar em Deus o nosso coração, como Jesus nos ensina, aprender os passos de Jesus procurar a paz, a justiça, a verdade para poder seguir Jesus. E o caminho de Deus não é um sucesso garantido, o caminho de Jesus leva para a cruz, temos o exemplo de Santo André, também como São Pedro, foi crucificado só que era uma cruz em forma de X. Existiam três tipos de cruz: em X, a cruz que se apoiava e a cruz onde se colocava o patíbulo na trave.
Vamos pedir ao Senhor que ele nos ensine a procurar a verdade, que é Jesus, a ter confiança em Deus, a ter confiança em Jesus e não procurar só as respostas fáceis para nossa vida.

Tempo de voltar ao Pai
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - Quarta-feira de Cinzas (Ano C – 02/03/2022 - missa às 19h4)
Olha o apelo que São Paulo nos faz: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos. Deixai-vos reconciliar com Deus”. Essa coisa não parece meio esquisita? A gente não pensa sempre que é Deus que está esperando? São Paulo está falando o contrário. Deus quer nos reconciliar, Deus quer! Nós é que fazemos resistência, nós é que não aceitamos o perdão de Deus, a sua acolhida, porque nós temos medo de Deus, desconfiamos Dele. Nós vivemos ludibriados pelo inimigo que botou esse veneno no nosso coração lá no mito do Éden, no paraíso perdido. Deus quer que nós nos voltemos para Ele. Deus nos ama, e no seu amor infinito Ele deu seu Filho para que Jesus fosse para nós instrumento de salvação. Deixem-se reconciliar por Deus, voltem-se para os braços de Jesus, sigam os caminhos de Jesus. Deus quer a salvação de todos e Ele vai conseguir... Porque, no fim da história, quem vai dar a última palavra é Jesus. Ele vai dar a última palavra.
No Evangelho, nos são apresentados três exercícios que nós chamamos de penitência, de piedade, que são ensinados, recomendados durante a Quaresma. Isso não quer dizer que nós não tenhamos que fazer estas coisas durante o resto do tempo, porém, na Quaresma especialmente: Jejum, com o qual nós começamos a Quaresma no dia de hoje, e com o qual nós vamos terminar a Quaresma na Sexta-feira Santa, nos preparando já para o Tríduo Pascal; a oração, que é nosso diálogo com Deus; e, a esmola.
No tempo de Jesus, existia um grupo que era muito religioso, observantes da Lei, eles tinham um ciúme da Lei que era uma coisa louca. Olha que coisa, pois então, “se você não segue a Lei, a gente te mata”, era assim que eles faziam. E o que acontece? No início eram os fariseus, herdeiros do chamado movimento Macabeu, mais ou menos ano 120, 150 a.C. e era um grupo que cuidava da identidade do povo, e a identidade do povo é a Lei, a Lei que Moisés tinha dado. Mas eles eram muito rigorosos na observância da lei e isso não é mau. E quando isso se torna um mau? Quando você, observando a Lei, começa a fazer isso para mostrar para os outros: “olha aqui, você quer ser um bom católico? Você tem que fazer igual a mim”. E até na igreja está cheio dessas tranqueiras agora. Mas tem um passo ainda pior, “vocês que não seguem o que eu faço, são todos perdidos”. Isso é hipocrisia e arrogância, e se tem coisa que Deus abomina é a hipocrisia e a arrogância. Por isso São Paulo vai dizer: “Deixem-se reconciliar por Deus, mudem essas atitudes, é Deus que vos salva não as vossas ações”. Não é você chegar diante de Deus e dizer: eu fiz jejum, eu botava cinzas na minha cabeça, eu me deitava no saco de estopa, e todo mundo que passava via, “olha esse homem fazendo penitência, que exemplo!”. Não é esse o caminho de Jesus. Como também esse pessoal que dá esmola que fazia tocar sininho para os outros verem, olha tem que dar esmola, olha ali o bom fulano que dá esmola, que maravilha, aprendam a fazer isso vocês que são perdidos. A mesma coisa com a oração, queriam estar sempre nos primeiros lugares, serem chamados de piedosos, para mostrar para os outros que os outros não faziam, que os outros estavam perdidos. Não é esse o caminho de Jesus.
Jesus fala do Deus que vê no oculto, no escondido, quer dizer Deus olha a intenção do teu coração. É isso que ele olha. A tua oração é verdadeira quando você faz sem que ninguém veja, porque na hora que você está com todo mundo ela pode ser verdadeira ou pode não ser, pode ser por conveniência, pode ser por tradição, pode ser realmente por devoção, mas quando você reza sozinho você quer mesmo. Mesma coisa, se você faz jejum tocando trombone para todo mundo ficar sabendo que você está fazendo jejum, era um verdadeiro circo. Pessoas se vestiam de saco de estopa, botava saco de estopa no chão, se sentava em cima, se cobria de cinzas, era uma coisa espetacular. Pode ser que a pessoa esteja fazendo isso por devoção, mas pode ser que esteja fazendo só por show. Se você faz jejum sem que os outros saibam, você no teu coração sabe, e esse jejum é autêntico, o outro pode ser, mas pode não ser. A esmola que você dá tocando sino, ah eu fiz isso, eis sou bom, olha só quanta caridade que eu faço. Ainda bem que no Brasil é proibido dar camiseta, boné, essas coisas, porque antes tinha isso também, você compra voto dando presentes para os pobres, já recebeu sua recompensa, esmola não é assim não, caridade não é assim, ela é gratuita e cuida do bem do outro, não está preocupado consigo, é o bem do outro, é esse que interessa, porque o outro que sofre é a imagem de Jesus, então você está fazendo para Jesus.
“Deixais-vos reconciliar com Deus”. Deus está esperando, Ele já nos deu a salvação no sangue de Jesus já nos deu. Vamos começar a agir como filhos e filhas de Deus, esse é o apelo deste Evangelho, esse é o apelo da Segunda Leitura.
Nós também temos a Campanha da Fraternidade este ano que fala sobre a educação. Nós sabemos que a educação no Brasil nas últimas décadas não tem sido bem cuidada e nos últimos três anos tem sido destruída. Isso é um dano para os nossos jovens, para as futuras gerações. É um dano quando nós não nos preocupamos com a cultura, com a pesquisa, mas não nos preocupamos também com a formação do cidadão, as pessoas facilmente perdem aquilo que nós chamamos de educação cívica, as pessoas não respeitam os outros, tratam o ambiente, as ruas, os terrenos baldios como se fossem casa de ninguém. Jogam lixo, desrespeitam as pessoas, não se interessam pelos outros, isso é deseducação cívica.
Papa Francisco nos chama a ser educadores da pessoa inteira, nós temos que cuidar que a pessoa seja totalmente formada a imagem de Jesus Bom Pastor. Ele indica o caminho, o amor ao próximo até a morte, o respeito pelas pessoas, o cuidado com os que sofrem, os doentes, com os pobres, e rejeitar tudo aquilo que é contra isso. Isso é educação integral, e para nós, católicos, nos educar no conhecimento e no seguimento de Jesus.
Eu já perguntei isso muitas vezes, eu faço o povo passar vergonha, eu não vou perguntar quem já leu o Evangelho de São Lucas, porém, como eu gosto de fazer estes desafios, deixo a vocês uma sugestão para a oração, depois ainda tem o jejum e esmola. Para oração: ler durante a Quaresma o Evangelho de São Lucas, é o evangelho que estamos lendo este ano. Para quê, padre? Para conhecer Jesus, para poder dizer eu fui ver com os meus olhos quem é Jesus. Eu fui ver. Jesus tem que ser o centro da vida de cada um de nós, mas isso só vai acontecer se nós conhecermos Jesus. E o primeiro passo é ler o Evangelho. Conhecer o Senhor para aprender agir e pensar como ele.

Rezar pela paz e abrir nossos olhos para agir como Jesus
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 8º Domingo do Tempo Comum (Ano C – 27/02/2022 - missa às 10h)
“Jesus está falando para os seus discípulos que serão formadores da comunidade, mas todos nós, batizados de algum modo, somos também anunciadores e formadores dos outros. E qual é a medida? A medida é a do Mestre, e a medida do Mestre é a cruz.
Jesus quer que nós aprendamos a ver, a descobrir aquelas coisas em nós que não são do evangelho, que não são de Deus, para que nós comecemos a tirar essas coisas da nossa vida, porque se nós não fazemos isso, nós simplesmente vamos levar para os outros as maldades que estão no nosso coração e não vamos anunciar Jesus coisa nenhuma!
Quando o evangelho diz “pode um cego guiar outro cego?”, se você não tem Jesus no seu coração, se você não olha para Jesus constantemente, se você não se mede com Jesus, você não tem a luz. E, mesmo que você fale de Jesus, você vai levar o outro para o buraco porque você não está se medindo com Jesus.
Tire a trave do teu olho. Se eu tenho um cavaco enfiado no olho, se pensarmos, é muito mais fácil tirar este cavaco que você está vendo do olho, do que tirar um cisco. Para tirar o cisco do olho de outra pessoa, você tem que estar com o olhar muito bom, então temos que trabalhar o nosso olhar, e o nosso olhar tem que ser Jesus.
Às vezes a gente não tem um cavaco no olho, às vezes temos uma árvore inteira enfiada no olho e não conseguimos ver. Vamos olhar Jesus. E as nossas árvores, os nossos cavacos aparecem em todos, todos! Jesus nos dá o critério, escute o que você fala porque do jeito que você fala é o que está no teu coração, revela o que você tem dentro. Se você fala com raiva, se você fala com ódio, se você fala com desejo de vingança, se você amaldiçoa os outros, se você fala mal dos outros, se você inventa, se você mente, comece a escutar o que você fala, isso revela o que você tem no coração!
E, se você se escuta, e depois escuta a palavra de Jesus, você tem uma chance de começar a mudar. “Gente, eu falo mal dos outros, mas Jesus não fala mal dos outros... eu tenho que aprender a não falar mal dos outros! Na boca de Jesus só tem bênção. Eu vivo amaldiçoando os outros, eu vou parar com isso. Jesus cuida dos que sofrem, eu não estou nem aí com esse monte de pobre que tem por aí... opa, esse caminho não é de Jesus!”.
Jesus cuida das pessoas que sofrem. Vamos nos aproximar mais, ser misericordiosos, dar atenção para as pessoas, a nossa vida muda, e a medida do amor é sempre Jesus e a cruz. Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida pelo outro! Isso é o que Jesus fez, isso é o que todos os discípulos e discípulas têm como medida: dar a vida pelo outro.
Muito bem, esse é o evangelho de hoje. Só que esses dias a gente só escuta falar de uma coisa, a gente liga a televisão, até lá no Instagram, do que é que estão falando? Só falam disso hoje: da guerra. Guerra, aí vem o povo com medo, terceiro segredo de Fátima e não sei o que... Primeiro que se fosse segredo não tinha que ser revelado! Tem muita invenção por aí, muito medo.
A situação da guerra é sempre injusta, toda guerra é injusta. Não existem inocentes entre aqueles que promovem a guerra, entre os grandes senhores do mundo, não existem inocentes não! Inocentes são aquelas pessoas que estão debaixo das bombas, é a população que não tem nada a ver com as doidices dos governantes. Mas tem coisas que dá para entendermos sobre essa guerra.
Eu tenho amigos lá na Itália, em Portugal, e eles estão com o risco ali do lado, nós estamos longe, então podemos falar com mais distância emotiva. Nenhuma guerra se justifica, mas tem muita coisa que explica essa guerra: uma delas é o fato de a OTAN estar cercando a Rússia por todos os lados, e a Rússia está simplesmente doida. Eles vão fechar as fronteiras todinhas em volta da Rússia, só falta a China e a Índia, então o homem está doido. Muita coisa poderia se resolver na diplomacia, mas como você tem um louco, Putin é um louco, um autocrata, um tirano, que vai tentar ficar no poder até 2036, ele faz essa loucura.
Porém, lá na Ucrânia também existe um louco, um doido, um homem que fala para a população montar coquetéis molotov para enfrentar tanques de guerra, para enfrentar helicópteros, aviões, esse sujeito é um louco irresponsável, um criminoso. Isso para nós vermos que entre esses senhores não existem inocentes.
Vai virar Terceira Guerra Mundial? Provavelmente não, ninguém tem interesse na Terceira Guerra Mundial. A Rússia tem muita influência no mundo econômico, por isso não vão tirá-la do tal SWIFT [Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais], se fizerem isso acabam com a economia do mundo inteiro!
O grande problema dessa guerra é que se dá muita importância para ela e não se olha para outras situações igualmente terríveis. Na Líbia, acabaram com o Gaddafi [antigo governante], que era outro louco, e olha o que sobrou. No Iraque, tiraram o Saddam-Hussein [antigo governante] que era outro doido, tirano, terrível, e olha o que sobrou. O Putin quer acabar com o presidente da Ucrânia, e foi exatamente isso que fizeram. Isso é para mostrar que não há inocentes! Você grita “ah, vamos promover a paz”, mas você promoveu a monstruosidade dois minutos atrás.
Pensem na situação do Iêmen, um país que está ao lado da Arábia Saudita: estão acabando com aquele povo! Fome, fecharam todos os corredores humanitários. Quem já ouviu falar do Iêmen? Poucos. Pois quem está pisando neles? A Arábia Saudita, que é amiga dos Estados Unidos. São interesses tremendos desses senhores, e muitos deles são loucos, que nem o nosso louco aqui que foi visitar o outro louco.
Nós, que estamos longe, qual é a nossa possibilidade? Ficar vendo esses jornais o tempo inteiro amaldiçoando o Putin, fazendo torcida pela OTAN? Não! A guerra é injusta, a guerra é uma monstruosidade, e quem sofre é o povo. Nós, de longe, o que podemos fazer? Rezar, isso nós podemos. Pedir para que Deus coloque um pouco de luz na cabeça desses doidos porque toda essa questão poderia ter sido resolvida com diplomacia, com plebiscitos, poderia. Mas não com guerra, não criando esse medo, essa tensão terrível no mundo inteiro.
E tem muita gente que ganha com isso, muita. Aqui no Brasil os ricos enriqueceram com a pandemia 20%, olha que desgraça, e para o povo aumentou a pobreza. Esses grandes senhores guardam grandes interesses; nós temos que pedir a Deus luz e graça. Luz para esse bando de doidos, e paz para o povo, paz.
A Ucrânia elegeu um neofascista e está pagando as consequências. Nós elegemos um doido e estamos pagando as consequências. Nós temos sempre que estar atentos à vida, à verdade, à liberdade. E a guerra é também guerra de mentiras, é terrível a fábrica das mentiras. Na guerra não há nada de bom, nada.
Vamos manter os nossos corações em Deus, rezar para que esse negócio acabe logo, que esses grandes loucos do mundo se entendam, porque quem se dana são só os inocentes.
Vamos pedir a Deus que nos dê paz e luz."

Como amar nossos inimigos?
Homilia: Pe. Bennelson da Silva Barbosa - 7º Domingo do Tempo Comum (Ano C – 20/02/2022 - missa às 10h)
A liturgia desse domingo nos faz refletir sobre um tema muito importante para a nossa fé cristã: a nossa relação com os nossos inimigos e com aqueles que se opõem aos valores evangélicos que abraçamos. Vocês acham que é todo mundo que gosta gente? Tem gente que não gosta da gente por natureza, só de olhar ‘eu não gostei’, como fosse uma coisa, não é? E quem tem essa mania de chegar e falar ‘meu santo não bateu com o dele’? Bom, cada um é um. Só que o evangelho de hoje é um convite a aprender a lidar com essas situações, porque tem gente que tem uma lista de inimigos, gente intrigada, que fala: ‘se uma pessoa estiver lá, eu nem vou’. Isso quer dizer que você se tornou um escravo do seu ódio, da sua indiferença e Jesus está falando ‘olha, vocês precisam a lidar com os seus inimigos, com as pessoas que vocês não sentem atração’, porque tem pessoas que não gostam da gente e está tudo bem. Vocês acham que eu gosto de todo mundo? Não, eu não gosto de tudo mundo, mas eu sou convidado a amar todo mundo, e amar é respeitar. Nós temos que prestar muita atenção nisso. É bom perdoar? Sim, mas o melhor é a gente prestar atenção para não magoar as pessoas, isso é melhor. Tem muita gente que prega muito sobre o perdão, é verdade, mas também vamos pregar para as pessoas pararem pra pensar no que fazem para não complicar a vida dos olhos? Tem gente que fala ‘a fulana me chateou’, mas presta atenção também no que você faz, será que aquilo que eu faço é bom?
Ontem mesmo eu saindo da missa e uma pessoa me parou para falar mal do Papa, aí eu fiquei assim e pensei ‘Jesus amado, toma conta’, porque parece uma tentação para ver o que você vai falar, o que você vai fazer. Agora vocês acham que eu gostei dessa conversa? Mas eu fiquei quieto, boca fechada, eu só escutei, mesmo com aquela tentação, falando mal do Papa, a pessoa esqueceu de ler esse evangelho. Então, se eu entro na lógica dele, porque ele tocou num assunto que não gosto... Ainda bem que eu tinha acabado de sair da missa e estava com a cabeça no lugar, porque senão eu ia brigar com aquele homem. Aí vem a história da Primeira Leitura de hoje, Davi, um homem jovem, ungido, futuro rei de Israel, que tinha um rival que é Saul. E Saul pintou e bordou na vida de Davi, por quê? Ciúmes, inveja, queria acabar com a vida de Davi de qual quer jeito. Só que aí, diz a leitura, que estava uma disputa de Saul com Davi, e ele ia atrás de Davi para matar o Davi, mas chegou num momento que quem bobeou foi Saul, ele e a equipe dele estavam dormindo. Foi aí que alguém perto de Davi falou: é agora que vamos pegar esse safado. Mas Davi se deu conta que ele não podia matar esse homem, pois ele é ungido de Deus, se eu matar esse homem minha vida vai para o “beleleu”. E é assim mesmo, gente, nós não podemos pagar o mal com o mal, por mais que alguém esteja nos prejudicando, falando ou fazendo a gente sofrer, isso não nos dá o direito, pois isso atrapalha a vida espiritual. Cuidado para você não ficar se vingando das pessoas. E aí Davi, movido por aquele Espírito de Deus, diz ‘não, eu não vou fazer isso’ e a vida de Saul foi poupada. E Deus vai honrar a aliança, Davi vai se tornar rei, mas não pela morte de Saul. Então nós temos que aprender a esperar. Às vezes nós ficamos brigando com as pessoas para nos defender, fica falando de mais, e isso traz tanta confusão na família. Você que está casado e não confia na sua esposa ou no seu esposo, tem alguma coisa errada ou, no trabalho, que tem aquela criatura falando, cobrando, quem aguenta e dentro de casa, sempre tem aquelas criaturas que não tem paz, que não está bem, chega dentro de casa atazanando, quem aguenta? Ninguém né. Então a gente tem que pensar, realmente...
Na Segunda Leitura de hoje, São Paulo explica sobre o primeiro homem que é Adão, um homem terrestre, um homem que infelizmente pelo pecado deixa o projeto de Deus e aí vem o segundo homem, o homem celeste que é Jesus, o próprio Cristo, é Ele quem restaura todas as coisas e aí ele continua fazendo essa catequese da ressurreição, porque essa comunidade tinha uma dificuldade imensa de entender que o princípio da nossa vida é a vida eterna e quando a gente se batiza, nós tornamos novas criaturas. É isso, nós vivemos nesse mistério, a gente mergulha na misericórdia de Deus e pode viver com toda a dignidade. Quando estamos aqui ou em qualquer igreja, Deus deixa os nossos pecados lá para fora, e a gente agradece: ‘Senhor, obrigado de ser dignos de estar aqui e vos servir’. Gente, vocês tem noção que, quando vamos à igreja, Deus reveste cada um de nós? Por isso que é importante participar, porque é de uma profundeza, Deus vai nos tocando na nossa alma. Duas semanas atrás, eu fiz um retiro num mosteiro e as irmãs que vivem lá não saem, né? Aí a irmã foi me revestir, que é uma coisa muito sagrada, quando ela colocava a roupa em mim, eu sentia a força de Deus; eu falei ‘Jesus, eu não sou digno de ser revestido por tanta santidade’, porque aquela mulher só faltava voar de tão santa que ela era e eu sentia esse amor. E esse amor que Ele tem por cada um de nós, veja o evangelho de hoje, Ele dá a graça para os ingratos e para os malvados. Se Ele faz isso para quem a gente acha que não presta, imagina conosco que se esforça?! Porque eu creio que todo mundo aqui está se esforçando para viver a santidade.
O evangelho é a continuidade do ensinamento das bem-aventuranças da semana passada, lembra? Aquele programa de vida: bem-aventurados são aqueles os pobres, aqueles que promove a paz, aqueles que são perseguidos. Jesus vai trabalhando a nossa consciência. Hoje Ele vai tocar naquela feridinha nossa, a nossa raiva de cada dia com as pessoas, e vai falar: ‘Olha, vocês não podem agir assim, vocês não podem tratar as pessoas maldosas com maldade’. Aqui é outra lógica, o agir cristão vai além, não é pagar o mal com a mesma moeda, o amor cristão inclui perdão, diálogo, a construção da paz, por meios específicos, pacíficos. Então você tem sempre que avaliar como que você fala, o tom de voz, que hora que você está falando, em que espaço, para quem eu vou falar, pois se falar de qualquer jeito dá confusão. Tem hora que cansa, mas você tem que ser paciente, sede misericordioso como vosso Pai é misericordioso. Deus é misericordioso comigo, por que eu não posso ser com todas as criaturas?
Nós temos que parar, gente. ‘Mas padre o que devo fazer?’. Eu vou falar para vocês o que eu faço e muito: é orar, não é que Jesus está falando aqui? Orai por aqueles que vão contra os seus próprios valores. Meus irmãos não são meus inimigos só que eles não vivem a mesma vida do que eu, então é tentar conversar e ir na fé. Eu creio na misericórdia, pois não dá para desanimar, pois Deus conta comigo e Deus também está contando com vocês. Deus está contando com vocês mesmo com todas as dificuldades que você está passando, então não é para ficar parado, chorando. Vocês vão aprender a lidar com as coisas da vida. É isso que Jesus nos faz. É por isso que toda a missa que você participa Deus vai mostrando para nós: ‘Quando você sair por aquela porta, não é para ficar lamentando, é para ter consciência’. Aí eu volto para aquela cena de ontem, naquele homem que foi me levar, falando mal do Papa, se eu não estivesse ligado tinha entrado na dele, mas eu não entrei. Deixa ele falar, ele acha que está certo, deixa, uma hora Deus cutuca dele, não é que Deus vai fazer mal a ele, Deus vai cutucar e falar acorda, feche sua boca, para de jugar, seja mais humilde. Esse negócio de cuidar da vida do outro é feio, nós temos essa mania, aí você fala ‘mas padre só estou fazendo um comentário’, mas não é comentário, é fofoca e fofoca é coisa do demônio. Agora porque você não abre essa boca santa para abençoar ou elogiar? Não economiza isso, isso nós podemos fazer, mas a gente não faz. E isso é dentro de casa, um membro da nossa família faz uma coisa simples e já achamos que é uma obrigação. Abre o olho, porque você não está entendendo nada, tem coisa que nós fazemos nessa vida, não como uma obrigação, mas porque nós temos um amor profundo pelas pessoas: cuidar de uma casa, fazer comida todos os dias, lavar roupa, sair cedo para trabalhar, pegar trânsito e vocês acham que é apenar uma obrigação?! Oh, nós temos que acordar. Vir aqui na igreja, servir como o pessoal da acolhida, a pessoa que fica colocando o álcool nas mãos das pessoas, outro fica medindo a nossa temperatura, é obrigação? Isso é amor! O povo que vem como ministro, a pessoa que vem fazer leitura, o povo que canta, isso é puro amor! E a gente tem que ver a vida nessa expectativa, pois senão a gente acha que tudo é obrigação e não é. É porque alguém é tocado e quando você é tocado, você se torna misericordioso. A palavra misericórdia é a gente aprender a lidar com as misérias nossas, mas também da humanidade, eu não vou ser jogado fora, porque é tão triste a gente ser jogado fora, talvez por meus erros, eu vou ser jogado fora? Não, pelo contrário, Deus vai cuidar de mim e é isso que nós temos que fazer também, cuidar das criaturas que andam soltas por aí, sem amor e sem juízo. Que o Senhor nos dê essa capacidade de amar profundamente e acordar, porque a vida só vale se for vivida no amor – por isso que Jesus insiste ‘O amor. Acima de tudo, o amor’.

Que saibamos cuidar dos irmãos mais necessitados
Homilia: Pe. João Aroldo Campanha - 6º Domingo do Tempo Comum (Ano C – 13/02/2022 - missa às 10h)
O Evangelho de Lucas é chamado de “O Evangelho dos pobres” porque Lucas vê Jesus como aquele que veio trazer a salvação aos que sofrem. Deus é aquele que vê a realidade do avesso. É muito estranho quando as pessoas têm coragem de perguntar quem é pobre. Pobre é quem passa fome, quem não tem o pão. Pobre é quem não tem casa, não tem saúde. Pobres são também as pessoas que são marginalizadas e de, algum modo, são considerados gente de segunda classe. A maioria, ou talvez 100% de nós, é apenas pobre remediado. Quem vive de salário é pobre remediado. Quem não tem 1 milhão para jogar na Bolsa de Valores todo dia – e tanto faz se ganha ou perde esse dinheiro – não é rico, é pobre. Então vamos tirar da cabeça que, se conseguimos alguma coisa – às vezes com o salário de uma vida inteira –, nós somos ricos. Somos apenas pobres remediados e temos que parar de “arrotar peru” se o que a gente come é ovo e abobrinha. Porque nem dá para comer carne todo dia.
Porque Jesus fala isso? Porque a salvação de Deus começa de baixo. Para salvar a todos, quando você pensa a partir dos excluídos, dos que não têm nada, você não exclui ninguém. Porque os que têm já pensam por si mesmos, no seu grupo. E por que a salvação começa de baixo? Por uma questão de justiça. Se olharmos em certas estatísticas, vamos ver que 2% da população brasileira, os mais ricos do Brasil – bancos inclusive –, ganharam uma fortuna na pandemia e aumentaram em até 20% seu patrimônio. Como podemos anunciar a salvação para esse povo?
Deus anuncia a salvação para quem nesse mundo não tem salvação, para quem nesse mundo vive de injustiça. E não é para dizer que os pobres são bons. Pobres são iguais a todo mundo. As mulheres são todas boas? Não. Mas a mulher, na nossa sociedade, ganha o mesmo que o homem trabalhando na mesma função? Os pretos sabem o que significa ser preto. Você vive com medo de ser parado pela polícia só por causa da sua cor de pele, o que é um absurdo. Isso é ser excluído. O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo. Isso é machismo barato, intolerância. E está piorando.
Deus quer fraternidade. Deus é pai de todos e de cada um. Então, para Deus, somos todos irmãos. E, se somos irmãos, temos que agir como tal. Irmão não rouba o outro e, se o outro está sofrendo, ele cuida. Ele não bota o outro para fora, mas sim o ama. Este é o caminho de Jesus. Mas esse discurso não agrada porque muitas pessoas querem ter ainda mais. Para quê, não sabemos.
Eu lembro de um líder, um destes ditadores que estava na África e cujo governo dele havia dado um golpe. Quando foram para a casa deste homem, acharam um container cheio de dólares. Mesmo que esse homem vivesse 250 anos, ele não conseguiria gastar aquele dinheiro. Então por que queria? Deus olha pelo avesso. A pobreza é fruto da injustiça, da má distribuição, do desprezo pelo outro. Querer tirar dos outros mesmo que comigo, em excesso, as coisas apodreçam.
Hoje, no mundo, produzimos praticamente o dobro do que precisamos de comida. Produzimos comida para 14 bilhões de pessoas e somos somente 7,5 bilhões. E existem milhões de pessoas passando fome. Porquê? Porque não pensam no outro como irmão, mas sim como lucro. “Eu vou pegar um navio e colocar comida para mandar para o outro lado do mundo? E o dinheiro que vou gastar? Não, fica aqui. Melhor apodrecer e jogar fora. Eles que fiquem passando fome lá. Eu não vou ganhar nada”. Essa é a mentalidade do mundo. Mas não a de Deus. Deus quer que todos vivam e, por isso, a salvação vem das bordas pois é o único modo de salvar a todos. A Virgem Maria, no cântico do Magnificat, cita “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes, sacia de bens os famintos e despede os ricos sem nada”. O Teólogo brasileiro Leonardo Boff diz que Deus faz isso para dar uma chance para essas pessoas se converterem e descobrir o amor pelos outros. Não é o acúmulo desmedido que faz as pessoas serem irmãos, mas sim a partilha. Nós tivemos e temos hoje muitos católicos que têm muito dinheiro. É pecado? Não. Mas desde que tenha partilha, cuidado e respeito pelos outros.
Vamos pedir ao Senhor que Ele ajude a nós, pobres remediados, a cuidar dos mais pobres. Que nós possamos aprender também a não ver os outros como pessoas de segunda classe. E isso é algo que devemos aprender bem porque essas raízes estão enfiadas no nosso coração e são difíceis de arrancar. Vamos aprender a respeitar os pretos, os gays, as mulheres e todas as outras minorias. O número de assassinatos de mulheres no Brasil é uma coisa assustadora. Temos que aprender a respeitar no nosso modo de falar e no nosso modo de agir. Comece pelo modo de falar e não faça piadas com as pessoas. Respeite-as. Com pequenos passos, quem sabe, um dia, conseguiremos estar mais pertinho do Reino de Deus.
Semana passada não pude vir rezar a missa porque estava com COVID. Já fiz um novo teste e deu negativo. Tive pouquíssimos sintomas graças à vacina. Vamos nos vacinar! Quem ainda não se vacinou, saiba que vacina não faz mal para ninguém. Tome a segunda dose quem ainda não tomou. Quem já pode, tome a terceira. Vacinem também as crianças. É a única arma que temos contra essa pandemia. Não caiam em conversa mole. A maioria das pessoas que hoje está morrendo por causa da variante Ômicron não se vacinou. Não acredite nas mentiras daqueles que querem ver a morte do povo. Vacinem-se e incentivem as pessoas a se vacinarem pois é a única arma que temos. Remédio para piolho, é para piolho. Coronavírus não é piolho. Vamos cuidar uns dos outros também pois, quando eu me vacino, eu cuido das pessoas. Um católico nunca poderia colocar em questão as vacinas. Isso é obscurantismo, é ser filho da morte. Deus nos deu a ciência e os remédios para que nós possamos usá-los e a inteligência para descobri-los.

Pescar, de fato, e anunciar ao mundo as palavras de fé
Homilia: Pe. José Ailton Teixeira - 5º Domingo do Tempo Comum (Ano C – 06/02/2022 - missa às 10h)
Queridas irmãs, queridas irmãos, ministros, ministras, leitores, cantores e animadores da Santa Missa, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Neste 5º domingo do tempo comum, somos convocados por Deus e enviados por Jesus Cristo para uma missão nobre de evangelizar com verdadeiro ardor missionário. As leituras hoje nos levam a esta realidade. A primeira do profeta Isaías, quando Isaías se põe pronto a servir: “Aqui estou! Envia-me!”, depois de ter pedido que seus lábios fo